segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Estrangeiros demitidos fogem de Dubai

 

Estrangeiros demitidos fogem de Dubai


O emirado antes florescente agora está declinando

Por ROBERT F. WORTH
Dubai, Emirados Árabes Unidos

Sofia, uma francesa de 34 anos, mudou-se para Dubai há um ano para trabalhar em publicidade, tão confiante no rápido crescimento econômico local que comprou um apartamento de quase US$ 300 mil com uma hipoteca de 15 anos.
Hoje, como muitos trabalhadores estrangeiros que formam 90% da população local, ela foi demitida e enfrenta a perspectiva de ter de deixar esta cidade no golfo Pérsico -ou pior.
"Estou realmente com medo do que pode acontecer, porque comprei propriedade aqui", disse Sofia, que pediu para que seu sobrenome não seja publicado porque ainda procura um novo emprego. "Se eu não puder pagar, me disseram que poderia acabar na prisão dos endividados."
Com a economia de Dubai em queda livre, os jornais informaram que mais de 3.000 carros estão abandonados no estacionamento do aeroporto local, deixados por estrangeiros endividados e em fuga (que realmente podem ser presos se não pagarem suas contas). Alguns carros teriam em seu interior cartões de crédito "estourados" e bilhetes de desculpas colados ao para-brisa.
O governo diz que o número real é muito menor. Mas as histórias contêm pelo menos um grão de verdade: os desempregados aqui perdem seus vistos de trabalho e devem deixar o país dentro de um mês. E isso por sua vez deixa moradias abandonadas e diminui os preços dos imóveis, em uma espiral descendente que deixou partes de Dubai -antes vista como uma potência do Oriente Médio- parecendo uma cidade fantasma.
Ninguém sabe o quanto as coisas azedaram, mas está claro que dezenas de milhares de pessoas partiram, os preços dos imóveis despencaram, e muitos grandes projetos de construção foram suspensos ou cancelados em Dubai.
Enquanto isso, um novo projeto de lei de imprensa tornaria crime prejudicar a reputação ou a economia do país, punível por multas de até 1 milhão de dirhams (cerca de R$ 630 mil). Alguns dizem que isso já está desencorajando as reportagens sobre a crise.
No mês passado, os jornais locais relataram que Dubai estaria cancelando 1.500 vistos de trabalho por dia, citando fontes do governo sem identificá-las.
"No momento há uma disposição para acreditar no pior", disse Simon Williams, economista-chefe do banco HSBC no emirado. "E as limitações sobre informações tornam difícil negar os rumores."
Algumas coisas estão claras: os preços dos imóveis, que aumentaram drasticamente durante o boom de seis anos de Dubai, caíram 30% ou mais nos últimos três meses em certas áreas da cidade. Recentemente, o serviço de investidores Moody's disse que poderia reduzir suas notas para seis das maiores empresas estatais de Dubai, citando a deterioração nas perspectivas econômicas. Há tantos carros usados de luxo em oferta que às vezes são vendidos por 40% abaixo do preço dois meses atrás, dizem revendedores.
Para alguns analistas, a crise provavelmente terá efeitos duradouros na federação formada por sete emirados, em que Dubai há muito tempo faz o papel do irmão mais moço rebelde do conservador e rico em petróleo Abu Dhabi. As autoridades de Dubai deixaram claro que estariam abertas a uma ajuda, mas até agora Abu Dhabi só ofereceu assistência aos seus próprios bancos.
"Por que Abu Dhabi premite que seu vizinho tenha a reputação internacional prejudicada, quando poderia socorrer os bancos de Dubai e restaurar a confiança?", disse Christopher Davidson, que previu a atual crise no livro "Dubai: The Vulnerability of Success" [Dubai: a vulnerabilidade do sucesso], publicado em 2008. "Talvez o plano seja centralizar os Emirados Árabes Unidos" sob o controle de Abu Dhabi, ele sugeriu, em uma medida que reduziria a independência de Dubai.
No início, Dubai parecia um refúgio relativamente isolado do pânico que atingiu o resto do mundo. Mas, ao contrário de Abu Dhabi ou dos próximos Catar e Arábia Saudita, Dubai não tem petróleo e construiu sua reputação sobre imóveis, finanças e turismo. Hoje, muitos estrangeiros que trabalham ali falam de Dubai como se sempre tivesse sido um jogo de ilusão.
Os rumores sensacionalistas se espalham rapidamente: Palm Jumeira, ilha artificial que é uma das marcas registradas da cidade, estaria afundando, e quando se abrem as torneiras nos hotéis construídos sobre ela só saem baratas.
"A coisa vai melhorar? Eles dizem que sim, mas não sei mais em quem acreditar", disse Sofia, que ainda espera encontrar um emprego antes que seu prazo expire. "As pessoas estão entrando em pânico rapidamente."


Colaborou Ali al-Shouk

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