sábado, 22 de dezembro de 2007

Bali lança Mapa do Caminho

Bali lança o Mapa do Caminho, porém fraco em conteúdo

Fonte site WWF - 15 Dezembro 2007

Bali, Indonésia - A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, ocorrida entre 3 a 14 de dezembro, em Bali, na Indonésia, chega a um acordo e lança o Mapa do Caminho para as negociações de clima nos próximos dois anos. Entretanto as decisões pecaram por falta de ambição.

Os governos reuniram-se ao longo dessas duas semanas em Bali, em negociações que muitas vezes vararam madrugadas, para colocar nos trilhos o futuro tratado que deverá cortar até 2020 as emissões de gases do efeito estufa dos países desenvolvidos entre 25 a 40%, abaixo dos níveis medidos em 1990.

O IV Relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), que rendeu o Prêmio Nobel deste ano para os cientistas que participaram do trabalho, afirma claramente a necessidade de manter o aquecimento global abaixo dos 2ºC. Para isso, é preciso que as emissões globais em 2015 e comecem imediatamente a cair.

Durante um final emocionante nas últimas horas do 15º dia das negociações, a delegação dos Estados Unidos, sob pressão de outras nações e do público que assistia às negociações, decidiu se juntar à maioria absoluta dos países e acordar com o processo internacional. Entretanto, a participação americana custou muito caro ao planeta: um acordo fraco em conteúdo.

"Na verdade, perdeu-se a oportunidade de se chegar a um acordo muito mais ambicioso e iniciar já algo realmente importante para o planeta e para a vida. Temos de sair do imobilismo e enfrentar a questão das mudanças climáticas com mais determinação", afirma Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil.

Em 2009, em Copenhagen, na Dinamarca, os países deverão finalizar o acordo mais esperado da década e apontar finalmente como deter as mudanças climáticas após o primeiro período de compromisso do Protocolo de Quioto, pós-2012.

Inimigos do Clima

Um pequeno grupo de países, liderado pelos Estados Unidos e apoiado pelo Japão e Canadá, tentaram bloquear as negociações nos últimos dias de discussões. Uma das propostas feita pelos Estados Unidos foi que os países industrializados não tivessem metas obrigatórias de reduções de suas emissões, o que resultaria em um retrocesso para a luta contra o aquecimento global.

"Outras delegações pediram diversas vezes para os Estados Unidos desbloquearem as negociações. Quando ficaram claramente isolados, acabaram se curvando à vontade coletiva do plenário", afirma Karen Suassuna, analista em mudanças climáticas do WWF-Brasil. "Mas o preço para o conteúdo do Mapa do Caminho foi alto" completa.

Brasil na liderança

Durante as reuniões, o Brasil assumiu a liderança em vários assuntos e se destacou entre as economias emergentes, junto com a China e a África do Sul. "Nosso país mostrou-se mais flexível e construtivo do que nas negociações anteriores. Também apresentou ao mundo a tecnologia brasileira para monitorar o desmatamento e ter compromissos mensuráveis para os países florestais", afirma Karen Suassuna.

"Com os resultados do monitoramento feito na Amazônia, a transferência de tecnologia entre os países do hemisfério sul torna-se ainda mais viável", explica Suassuna. A transferência de tecnologia de países industrializados para as economias emergentes foi um dos pontos fortes do acordo de Bali e, junto com o mercado de carbono global, podem trazer benefícios reais para os países em desenvolvimento, como a China, a Indonésia e o Brasil.

Florestas

O desmatamento e as queimadas são responsáveis por 75% das emissões brasileiras de gases do efeito estufa e, por causa da falta de cuidado com nossas florestas, o Brasil é o quarto colocado no ranking dos maiores contribuintes para o aquecimento do planeta. A Indonésia, terceira colocada, também tem o desmatamento como principal fonte de emissão. Por isso, um dos assuntos mais discutidos em Bali foi a Redução das Emissões do Desmatamento e Degradação das florestas (REDD). Uma equipe de especialistas da Rede WWF acompanhou atentamente este tópico e comemorou quando as negociações avançaram satisfatoriamente.

Os governos dos 190 países reunidos em Bali reconheceram formalmente que 20% das emissões dos gases de efeito estufa vêm do desmatamento e está prevista uma discussão sobre REDD para o próximo período de compromisso do Protocolo de Quioto, pós 2012. "Essa é uma vitória a ser comemorada, mas precisamos nos lembrar que será necessário ter recursos financeiros e muita vontade política de toda a comunidade internacional para combater o desmatamento", afirma Mauro Armelin, coordenador do Programa de Desenvolvimento Sustentável do WWF-Brasil.

Durante as negociações em Bali, o Brasil apresentou um plano detalhado de um fundo voluntário para financiar o combate ao desmatamento no país. "Foi uma boa iniciativa e pode ser uma ótima alternativa para vários projetos neste setor, mas não deve ser a única opção. Não se pode descartar a importância do mercado de carbono como fonte de financiamento. Nosso país deve adotar as duas vias para ser mais efetivo na conservação das florestas", defende Armelin.

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