domingo, 2 de março de 2008

SP: Qualidade do ar cai após 5 anos de melhorias

Folha de S.Paulo - Poluição piora na Grande SP e migra para o interior e litoral - 02/03/2008





Número de vezes em que a poluição ficou acima do aceitável teve um salto de 54% em 2007 em relação ao ano anterior




Mancha de poluição já
avança 600 km da região
metropolitana e atinge a
região oeste do Estado; Inpe
estuda migração desde 2002



DA REPORTAGEM LOCAL



Respirar ar puro na Grande
São Paulo voltou a ficar mais difícil. O nível de poluição rompeu um ciclo de declínio que
ocorria desde 2002, cresceu no
ano passado e, pior, migra para
o interior e o litoral do Estado.

Levantamento da Folha com
base nos boletins diários de
qualidade do ar da Cetesb
aponta um salto de 54% no número de vezes -contando todas as medições do órgão- em
que o ar ficou com qualidade
inadequada ou má em 2007,
comparando com 2006.

Além disso, o número de dias
em que o ar esteve inaceitável
em pelo menos uma das estações de medição, devido ao excesso de ozônio, subiu 45,6%
entre 2006 e 2007. No ano passado, em 67 dias houve qualidade ruim do ar em ao menos
um dos 24 pontos de monitoramento. Em 2006, foram 46.

Em outros sete dias de 2007
o ar estava ruim em pelo menos uma estação, mas por outros poluentes -monóxido de
carbono, material particulado e
dióxido de nitrogênio.

Segundo Carlos Lacava, assessor da diretoria de engenharia da Cetesb, São Paulo é uma
das piores cidades do mundo
em relação à poluição por ozônio. "É comparável à Cidade do
México [uma das mais poluídas
do mundo em razão de emissões urbanas]", afirma.

A queda na qualidade do ar
coincide com a retomada da
economia no país, que impulsionou o consumo de combustíveis e a venda de automóveis.

Houve aumento de 6,31% do
consumo de óleo diesel, um dos
principais poluentes da região
metropolitana. E a cidade de
São Paulo acaba de atingir a
marca de 6 milhões de veículos.

Além de afetar o ar da região
metropolitana -maior emissora de poluição urbana do hemisfério Sul-, a mancha de poluição já avança mais de 600
km e atinge o extremo oeste do
Estado, à beira do rio Paraná.

O monitoramento por satélite feito pelo Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais) começou a detectar essa
migração em 2002, mas não é
possível dizer se o problema está aumentando ou caindo, já
que seria preciso uma série histórica maior para comparar.

A Cetesb considera que estão
esgotados os mecanismos que
vinham sendo adotados para
controlar a poluição, como a
tecnologia que tornou automóveis menos poluentes e a adoção do rodízio de veículos.

Embora ainda não tenha clareza de novas medidas de controle, técnicos
da agência estudam alternativas, como a inspeção veicular obrigatória e
pressões pela melhoria da qualidade do óleo diesel, com menor adição de
enxofre, papel da ANP (Agência Nacional de Petróleo) e da Petrobras.

Para o chefe do Laboratório
de Física Atmosférica da USP,
Paulo Artaxo, a poluição é um
problema crítico de São Paulo.
Porém, até agora não existe nenhum plano coerente de controle dos níveis de poluentes.
"É dever do poder público ter
um plano de longo prazo, com
metas estabelecidas e punições
para setores que não atingirem
os objetivos", afirma.

Além da inspeção veicular,
ele sugere entre as intervenções possíveis a ampliação da
rede de metrô, pedágios urbanos e incentivo para veículos a
gás, menos poluentes.



Mancha


Com maior controle das
emissões, deve haver uma tendência de queda dos níveis de
poluição também no interior
do Estado. Isso porque a Grande SP exporta poluentes a centenas de quilômetros, conforme revela o monitoramento
por satélite feito pelo Inpe.

Ainda não é possível dimensionar quanto da poluição do
interior é oriunda da capital, já
que muitos municípios "produzem" a sua própria poluição por
conta dos veículos, indústrias e
também em razão das queimadas. Testes da Cetesb indicam
que há cidades em que o nível
de poluentes ultrapassou índices adequados, como Jaú, Paulínia e Ribeirão Preto.

Por isso, a Cetesb planeja implantar dez estações de medição fora da Grande SP, onde o
monitoramente esporádico revelou índices de qualidade
ruins. A poluição já chegou, segundo o Inpe, a São Francisco
Xavier, distrito de São José dos
Campos encravado na serra da
Mantiqueira, região de montanhas com fama de ter um dos
melhores ares do mundo.
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO E AFRA BALAZINA)

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