Fonte: Repórter Brasil - 21/08/08
Uma jovem grávida e outras 26 crianças, com idade entre 12 e 15 anos, trabalhavam em casas de farinha no sul do estado. A jornada de trabalho era de 16 horas diárias; produtores pagavam R$ 6,00 por sete quilos raspados
Quando chegamos, uma menina se aproximou e disse ´tem até uma grávida que o patrão mandou correr´. Fomos atrás da jovem e encontramos ela chorando, com medo, no meio do mato. Explicamos que estávamos ali para ajudá-la". Foi assim que o auditor fiscal Rubervam Du Nascimento, da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Piauí (SRTE/PI), foi recebido em uma das casas de farinha fiscalizadas no município de Marcolândia (PI), na região sul do estado. A jovem citada tem 15 anos e está no sexto mês de gestação. "Ela trabalhava como raspadora de mandioca para ajudar a mãe, que trabalha em outra casa de farinha", explica o auditor.
Junto com a jovem foram encontrados outras 26 crianças e adolescentes, com idades entre 12 e 15 anos. Elas tinham uma jornada de trabalho de 16 horas diárias e recebiam R$ 6,00 a cada sete quilos raspados. A quantia total não somava um salário mínimo por mês. A ação, que durou três dias e fiscalizou dez casas de farinha, contou com a participação de membros da Procuradoria Regional do Trabalho (PRT) da 22ª Região, de Picos (PI).
Adolescentes entre 12 e 15 anos enfrentavam jornadas diárias de até 16 horas (Foto:SRTE/PI) |
As demais casas flagradas nesta última ação também assinaram um TAC com itens para evitar o trabalho infantil. Os funcionários da SRTE/PI entrevistaram as crianças para checar dados socioeconômicos e encaminhá-las para o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti).
O auditor responsável pela ação diz que pretende fazer novas fiscalizações na região porque acredita que há mais crianças trabalhando. "Após o primeiro dia de fiscalização, fica difícil encontrar crianças e adolescentes em serviço, pois os proprietários das casas de farinha mandam todas embora".
Na opinião de Rubervam, a exploração de mão-de-obra infantil é conseqüência da falta de trabalho para os pais. "A raspagem de mandioca é a única fonte de renda das famílias na região. Essas crianças geralmente acompanham a mãe para ajudar a complementar a renda. Nós detectamos que muitos pais dessas crianças viajaram para trabalhar no corte de cana no interior de São Paulo e Mato Grosso do Sul, em muitos casos como trabalhadores escravos."
A situação dos adultos que trabalham nas casas de farinha também não é das melhores. O auditor explica que os empreendimentos inspecionados funcionavam na informalidade. "As casas não são registradas como empresas. Não existe, portanto, qualquer registro formal de empregado. Essa é uma das questões que iremos tentar resolver na próxima ação fiscal, pois detectamos que existe, sim, a figura do patrão ou gerente que estruturam e administram os serviços prestados pelos trabalhadores".
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