segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Preconceito contra pacientes de Aids persiste, aponta Ministério da Saúde

Fonte: uol noticias

Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde mostra que o preconceito em relação às pessoas com aids persiste. O levantamento foi feito com oito mil pessoas, de todas as regiões do país e apontou discriminação até mesmo em família.
Do total de entrevistados,19% opinaram que a pessoa com Aids não deve ser cuidada em casa; 22,5% disseram que não comprariam legumes ou verduras em um local onde trabalha um funcionário com HIV; 13% afirmaram que uma professora com Aids não pode dar aulas em qualquer escola. Os dados completos da pesquisa serão divulgados apenas em fevereiro.

Material da campanha do Ministério da Saúde para 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta Contra a Aids. O foco na população com 50 anos ou mais foi escolhido porque a incidência dobrou nessa faixa etária nos últimos dez anos, segundo levantamento


Para a diretora do Programa Nacional de DST (doenças sexualmente transmissíveis) e Aids, Mariângela Simão, os percentuais que já foram divulgados preocupam. "Quando se sabe que mais de 90% da população sabe que aids é uma DST, e você diz que 22,5% - quase um quarto da população - não comprariam verduras de um vendedor com aids, você percebe que o conhecimento não é suficiente para reduzir o preconceito e a discriminação", ressalta.
A diretora diz que o número relacionado aos familiares são ainda mais preocupantes. "Ele demonstra uma culpabilização do indivíduo, a persistência da idéia de que, se você pegou Aids, a culpa é sua. Isso estigmatiza", alerta.
O psicólogo Mário Ângelo Silva, professor do departamento de Serviço Social da UnB (Universidade de Brasília) percebe uma mudança no preconceito ao longo dos anos. Segundo ele, quando a doença foi descoberta, a discriminação tinha como causa do desconhecimento. Atualmente, o motivo é outro. "Não existem mais grupos de risco, as pessoas afetadas têm outro perfil, mas a questão passa muito pelos valores morais", afirma.
O especialista explica que questões como promiscuidade, uso de drogas, homossexualidade e infidelidade ainda estão na origem da discriminação. Segundo ele, o preconceito não é diagnosticado apenas em pessoas mais velhas, mas também em "jovens, independente da classe social". "Valores e sentimentos são transmitidos de grupos para grupos, de geração para geração".
A origem do problema pode estar nas primeiras campanhas de prevenção da doença. "Elas tinham o impacto do medo, mostravam a Aids como uma sentença de morte", lembra Mariângela Simão. "Em muitos lugares na África ainda são assim", completa.
As primeiras imagens de pessoas doentes ficaram no imaginário social e agora é preciso trabalhar para mudar essa herança, na opinião do professor da UnB. "Faz tempo que não se trata a questão do preconceito na mídia. A mídia, aliás, também tem culpa no cartório, porque continua falando em 'aidético', divulgando informações negativas sobre a doença. É preciso desconstruir esses valores", defende.
Na opinião da diretora do Ministério da Saúde, a divulgação de dados como o aumento da sobrevida dos pacientes de Aids é uma forma de desmistificar a doença. Estudo divulgado pelo ministério na última semana afirma que o tempo de sobrevida dobrou entre 1995 e 2007 nas regiões Sul e Sudeste do país, passando de 58 meses para mais de 108 meses.
"A pessoa com Aids deve ser vista como uma pessoa com doença crônica. O estigma afasta as pessoas do diagnóstico e também do tratamento, impedindo que ela tenha uma melhor qualidade de vida", conclui Mariângela.

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