domingo, 23 de novembro de 2008

USP mostra ineficácia da saúde em Ribeirão

Fonte: Folha de São Paulo

USP mostra ineficácia da saúde em Ribeirão

Estudo feito em 10 meses mostra que médicos atendem mal em unidades de saúde e que problemas não são resolvidos

Em 62,8% das guias de referência analisadas pela universidade, não há descrição da duração da queixa do paciente


Edson Silva/Folha Imagem

Pacientes aguardam atendimento na UBDS Central de Ribeirão

VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

O problema da saúde pública em Ribeirão começa bem antes da demora para o agendamento de consultas especializadas ou das filas nas unidades de urgência e emergência. É o que revela um estudo coordenado pela FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto), da USP (Universidade de São Paulo).
A primeira etapa da pesquisa, realizada entre junho de 2007 e março deste ano, comprova a ineficácia da atenção básica da rede pública municipal, primeira fase do atendimento prestado aos pacientes. "Os médicos atendem mal e a resolutividade dos problemas é muito baixa", afirma o médico José Sebastião dos Santos, coordenador do estudo, docente da FMRP e ex-secretário da Saúde de Ribeirão.
Em agosto do ano passado, os pesquisadores recolheram 3.756 guias de referência encaminhadas das UBSs (Unidades Básicas de Saúde) para a central de regulação da prefeitura.
As guias são os documentos nos quais os médicos das UBSs, que atendem clínica geral, ginecologia e pediatria, descrevem o motivo de os pacientes precisarem de um médico especialista. A análise das guias demonstrou, por exemplo, que em 31,1% dos casos os documentos não podem ser usados corretamente pela central de regulação por não informarem sequer a queixa do paciente, ou porque estão ilegíveis.
"Casos, algumas vezes simples, que poderiam ser resolvidos pelo próprio médico do posto, são encaminhados para um especialista. E aí, o que acontece? Você joga o paciente para uma fila de espera, faz ele ficar esperando meses às vezes", disse Santos.
Outra informação considerada fundamental pelos pesquisadores e inexistente em 62,8% das guias de referência analisadas é a descrição da duração da queixa do paciente. Saber há quanto tempo um paciente sente dores de cabeça, por exemplo, pode ser a diferença para o diagnóstico de uma doença grave.

Sete meses de espera
Desde maio, a recepcionista Neusa Brunelli Franklin da Silva, 44, tenta resolver um problema de saúde aparentemente simples. Ao bater o pé esquerdo no móvel de sua casa, ela teve uma fratura, que até anteontem não estava resolvida. Por causa disso, ela dividia a fila da UBDS (Unidade Básica Distrital de Saúde) Central com outras dezenas de pacientes.
Entre o posto de saúde da Vila Tibério e a UBDSs, durante os sete meses em que a dor no pé ainda não passou, ela já ouviu três informações diferentes. "Primeiro o médico disse que eu estava com o pé quebrado, depois outro médico disse que o osso tinha colado. Agora, eu vim aqui e me disseram que ainda estou com o pé quebrado", afirmou.

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