quinta-feira, 30 de abril de 2009

Estudo diz que humanidade terá que reduzir consumo de reservas fósseis a 25%

30/04/2009 - 13h58

France Presse, em Paris

Charlie Riedel/AP

Usina de carvão mineral de Holcomb, no Kansas, EUA; estudo diz que humanidade deve reduzir consumo de reservas fósseis a 25%



A civilização só poderá consumir 25% das suas conhecidas reservas de energias fósseis (petróleo, gás e carvão) até 2050, caso queira limitar o aquecimento global a 2ºC no máximo, de acordo com um estudo publicado na quarta-feira (29).

Uma equipe de pesquisadores do Reino Unido, da Suíça e da Alemanha tentou avaliar, pela primeira vez, o volume de emissões de gases de efeito estufa que pode ser lançado na atmosfera até a metade do século, para manter um "aquecimento aceitável". Os trabalhos foram publicados pela revista britânica "Nature".

A comunidade internacional chegou a um consenso sobre um máximo de 2ºC suplementares em relação aos níveis pré-industriais, mas para os pequenos países insulares, ameaçados pela subida dos oceanos, seria necessário limitar a elevação a 1,5ºC.

"Se vocês realmente quiserem limitar o risco de exceder os 2ºC de aquecimento global, o volume total de COº2º expelido na atmosfera durante a primeira metade do século deve ficar abaixo dos 1.000 milhões de toneladas", explicou Malter Meinshausen, do Instituto de Pesquisa sobre o Impacto Climático Postdam.

Se não houver um acordo climático forte, os 2ºC suplementares terão sido atingidos na primeira metade do século, dizem os autores do estudo.

Se as emissões ultrapassarem 1,5 bilhão de toneladas de equivalente COº2º até 2050, a probabilidade de limitar o aquecimento a 2ºC será de apenas 25%, "independentemente das medidas tomadas depois" para limitar as emissões, insistiu Meinshausen.

Segundo o estudo, as emissões mundiais têm de começar a diminuir já em 2020, e serem reduzidas em 70% até 2050. A meta do G8 é reduzir pela metade as emissões mundiais até 2050.

Poluição aumenta risco de desenvolver doença autoimune

JULLIANE SILVEIRA - Folha de S.Paulo - 30/04/2009

Já se sabe que a poluição atmosférica pode causar problemas respiratórios e cardiovasculares. Agora, novos estudos têm apontado que partículas poluentes também aumentam riscos de doenças autoimunes --distúrbios que aparecem quando as células de defesa agem contra o organismo.

Um estudo recente da Escola de Saúde Pública de Harvard observou que a exposição a poluentes de rodovias eleva a incidência de artrite reumatoide.

Os pesquisadores usaram dados do Nurses" Health Study, um estudo com 200 mil enfermeiras, que teve início em 1976 e levanta dados sobre a saúde e a incidência de doenças nas participantes.

Para esse trabalho, foram consideradas informações de 90.297 mulheres. Após avaliar as informações, constatou-se que viver a menos de 50 metros de vias de tráfego intenso aumentou de 31% a 63% as chances de as mulheres desenvolverem artrite reumatoide.

Foram excluídas variáveis como tabagismo, uso de hormônios, índice de massa corporal e sedentarismo.
A artrite reumatoide desencadeia inflamações nas articulações, principalmente nos pés e nas mãos. Isso pode causar deformações e perda de movimentos na região atingida.

Pesquisadores acreditam que os poluentes ajam como agressores, e o organismo não os reconhece como uma substância própria. Dessa forma, o corpo reage, produzindo anticorpos para combatê-los. Quando o faz de maneira descontrolada, acaba combatendo células do próprio corpo.

"Há editoriais de revistas científicas de muito prestígio com evidências de que a poluição pode influenciar no sistema imune. Isso ocorre especialmente no caso de solventes e de exaustão de diesel", diz o patologista Paulo Saldiva, coordenador do Instituto Nacional de Análise Integrada de Risco Ambiental da USP (Universidade de São Paulo).

Além da artrite reumatoide, é possível associar a inalação de poluentes a outras doenças autoimunes, como tireoidite crônica autoimune, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjogren, vitiligo e esclerose múltipla, acrescenta a endocrinologista Maria Ângela Zaccarelli Marino, professora da Faculdade de Medicina do ABC.

Poluição industrial

Marino realiza pesquisas no Polo Petroquímico do Capoava, que fica entre as cidades de Santo André e Mauá e o parque São Rafael (zona leste de São Paulo). A área reúne fabricantes de produtos químicos derivados do petróleo, que são a matéria-prima de resinas, borrachas, tintas e plásticos. "Estudamos poluição de indústria. As doenças autoimunes são muito frequentes perto das indústrias: quanto mais perto a pessoa mora, maiores são os riscos de problemas", afirma.

Os trabalhos foram realizados com 2.004 moradores da região. Foi verificado que quem mora na área poluída tem cinco vezes mais chances de sofrer de tireoidite crônica autoimune.

A doença surge quanto os anticorpos agem contra a tireoide, o que pode levar a uma inflamação da glândula e à queda na produção de hormônios (hipotireoidismo).

Ainda não é possível definir, no entanto, quais partículas poluentes são responsáveis por desencadear tais problemas.

"Vamos começar a estudar agora os agentes que provocam essas doenças, para haver conscientização. Podemos escolher a água, o alimento, mas não o ar que respiramos. O ar precisa ser filtrado para evitar novos casos", afirma Marino.