sexta-feira, 18 de março de 2011

Morte no trabalho: fatalidade ou assassinato?

Os acidentes de trabalho, só entre trabalhadores formais, causam cerca de três mil mortes por ano no país



14/03/2011

Manoela Lorenzi

Na manhã de quinta-feira, 3/3, em uma construção no bairro Vila Izabel em Curitiba, morreu em um grave acidente de trabalho Adir Lins Machado. O fato ocorreu quando o elevador em que Adir estava despencou de uma altura de 10 metros. O trabalhador tinha apenas 35 anos.

Um mês antes, o trabalhador Gidomar Gonçalves Alencar, da construção civil, morreu vítima de mais um grave acidente de trabalho no Ecoville, em Curitiba. Ele teria levado uma forte descarga elétrica da extensão que alimentava o vibrador de concreto. Alencar era funcionário de empresa terceirizada. Tinha apenas 25 anos.

Na madrugada do dia 22 de fevereiro, em Cascavel, uma trabalhadora do frigorífico Globoaves morreu na sala em que trabalhava. O teto simplesmente despencou. Ela tinha 22 anos.

Os acidentes de trabalho, só entre trabalhadores formais, causam cerca de três mil mortes por ano no país. Isso significa uma morte a cada três horas. Dados da Previdência Social mostram que, no setor privado, 653.090 acidentes foram registrados em 2007, número maior que o do ano anterior, de 512.232 casos. Estes acidentes deixaram, em 2007, uma média de 31 trabalhadores inválidos por dia. Se considerar trabalhadores informais e os acidentes que não foram notificados e incorporados nestes dados, a realidade deve ser muito mais trágica.

No Paraná, morre um trabalhador por dia vítima de acidente de trabalho, incluídos acidentes de trajeto, como o deslocamento casa-trabalho e trabalho-casa.

Esses dados são do SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – do Sistema Único de Saúde. No SINAN são notificados acidentes graves e fatais
relacionados ao trabalho.

Os dados acima podem assustar. Acontece que estes números são muito menores do que a realidade. Os empregadores manipulam o local da morte, impedem a notificação, investigação e divulgação do fato. Eximem-se da culpa e tratam com naturalidade, culpabilizando o trabalhador pela sua própria morte. É como se fosse uma fatalidade. Não um crime.

Pior do que o silêncio do patrão é o silêncio da classe trabalhadora. Lutar por indenizações na justiça não basta. O lucro dos capitalistas é muito maior do que o valor pago em troca da morte. Nenhum dinheiro pode pagar pela vida que se foi. É preciso que os culpados sejam responsabilizados. É preciso lutar para que trabalhadores não mais tenham a vida retirada desta forma.

Manoela Lorenzi é nutricionista e assessora do SindSaúde.

Publicado no Brasil de Fato: www.brasildefato.com.br