sábado, 10 de maio de 2008

Hiroshima: as imagens que o mundo nunca tinha visto

O texto abaixo, do Le Monde, traz o relato de mais um detalhe sórdido de um dos maiores crimes cometidos contra a humanidade: as bombas atômicas jogadas em Hiroshima e Nagasaki, o Holocausto cometido pelos norte-americanos dos EUA.

Apesar deste blog tratar das questões específicas de saúde, trabalho e meio ambiente, devemos sempre estar atentos aos grandes crimes da humanidade. Relembrá-los mostra-nos a imensa capacidade de cometer grandes atrocidades que a humanidade possui... e nos faz pensar nas "pequenas" atrocidades que o homem pratica no cotidiano, no trabalho, na saúde e em relação ao meio ambiente.

A reportagem do Le Monde traz uma parte da história de tentar "esconder" a verdadeira história. Um relato de proibição de fotos e fatos sobre a tragédia praticada pelos norte-americanos. Mas, talvez por natural repulsa, não traz as fotos originais, elas podem ser encontradas, juntamente com todo o horror que retratam, no site: Atomic Tragedy.

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Hiroshima: as imagens que o mundo nunca tinha visto
Fonte: Le Monde

Sylvain Cypel e Philippe Pons
Correspondentes em Nova York e Tóquio

São fotos que foram feitas no solo, do lado de dentro do desastre. Nada a ver com a visão abstrata e desencarnada do cogumelo nuclear. Essas imagens mostram o estado da cidade japonesa de Hiroshima nos primeiros dias que se seguiram ao arremesso, pela aviação americana, da primeira bomba atômica, em 6 de agosto de 1945, às 8h17.

Fotos atordoantes de corpos que flutuam nas águas. Imagens aterradoras de rostos distorcidos pelo sofrimento. Retratos de cadáveres amontoados em pirâmide, de corpos enrijecidos. São adultos empilhados junto com idosos e crianças, que foram apagados num instante. Não há mais nem homem nem mulher. Unicamente corpos calcinados, emaranhados debaixo dos escombros, ou deitados em fileiras que se estendem até onde a vista alcança. Eles foram alinhados pelas equipes de resgate e de militares japoneses que foram as primeiras a chegarem ao local, e cujos integrantes perambulam sem rumo, protegidos por máscaras, no meio das ruínas, neste cenário de absoluta desolação. Dá para reconhecer as crianças simplesmente por causa do seu tamanho menor.

Foi o "think tank" da Hoover Institution, na universidade Stanford, na Califórnia, que tornou públicas dez fotografias excepcionais, na segunda-feira, 5 de maio. Elas lhe foram entregues, em 1998, por Robert L. Capp, um soldado que havia participado das operações das forças americanas de ocupação do Japão depois do encerramento da Segunda Guerra Mundial. "Quando estava vasculhando num porão perto de Hiroshima", explica Sean Malloy, um historiador e pesquisador na Universidade da Califórnia, em Merced, "Capp se deparou com películas que nunca haviam sido reveladas: entre elas, havia essas fotos". O seu autor, um japonês, é desconhecido.

AFP
Foto tirada em 1948 mostra a cidade de Hiroshima devastada pela bomba atômica


Quando estava trabalhando na elaboração de um livro que foi publicado neste ano, intitulado "Atomic Tragedy: Henry L. Stimson and the Decision to Use the Bomb Against Japan" (A tragédia nuclear: Henry Stimson e a decisão de arremessar a bomba sobre o Japão, Cornell University Press), Sean Malloy, um veterano da universidade Stanford, foi autorizado a ver essas fotos. Depois disso, ele conseguiu se reunir com a família Capp, que lhe permitiu divulgar três fotos inéditas no seu livro. Robert Capp, que faleceu nesse meio tempo, havia doado a sua coleção, em 1998, para o fundo de arquivos Hoover, exigindo que essas fotos não fossem mostradas antes de 2008.

Em razão da censura draconiana que foi imposta pelo ocupante americano em relação a tudo o que se referisse ao bombardeio de Hiroshima (e também ao de Nagasaki, que ocorreu três dias mais tarde), durante meses o mundo permaneceu na ignorância da amplidão da tragédia da qual foram vítimas populações essencialmente civis. As imagens que foram efetuadas pelos primeiros fotógrafos japoneses que se deslocaram até o local tiveram a sua divulgação proibida. As fotos que Robert Capp encontrou foram, sem dúvida, realizadas por um amador. Elas constituem um testemunho do horror dos primeiros dias que se seguiram aos bombardeios.

Neste dia 6 de agosto de 1945, Hiroshima (350.000 habitantes) se prepara para viver uma jornada de calor úmido, acachapante, tendo como trilha sonora os ruídos das cigarras, no tórrido verão japonês. A bomba arremessada pela fortaleza voadora Enola Gay, que havia levantado vôo na primeira hora do dia, na cidade de Tinan, no oceano Pacífico, explode a 580 metros de altitude. A cidade é demolida numa proporção de 90%, e 150.000 pessoas morrem instantaneamente ou depois de uma longa agonia. Aos efeitos fulminantes se acrescentará a morte lenta provocada pelas radiações. "Devolvam-nos a nossa humanidade", pedirá então o poeta Sankichi Toge, vítima das radiações.

Com a exceção da reportagem do jornalista australiano William Burchett, "No more Hiroshima" (Nunca mais Hiroshima), que foi publicada em setembro, não se sabe praticamente nada, seis meses mais tarde, daquilo que aconteceu em Hiroshima e em Nagasaki. O que também implica em conseqüências humanas trágicas: como tratar esses terríveis ferimentos, com os quais as equipes médicas lidam como se fossem simples queimaduras? Como debelar as hemorragias de corpos esfolados vivos? O único organismo a ser implantado pelo ocupante foi um centro de pesquisas sobre os efeitos da bomba: ele não fornece nenhuma assistência médica, mas solicita que os mortos lhe sejam entregues para autópsia...

O horror dessas fotos traz à tona novamente a seguinte pergunta: a bomba A era mesmo o único meio de pôr fim à guerra do Pacífico? Em 1945, o Japão estava completamente exausto. Em Potsdam, em 26 de julho, os Estados Unidos haviam exigido a sua capitulação incondicional, à qual Tóquio recusou se submeter. Mas a decisão de arremessar as suas bombas sobre o arquipélago já havia sido tomada, na véspera, em Washington. Nas suas Memórias, o general que se tornaria presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower, escreve que em agosto de 1945, "o Japão já estava derrotado, e, portanto, era inútil recorrer à bomba atômica". E mais ainda, arremessar a segunda, sobre Nagasaki, que matou instantaneamente 70.000 pessoas. Contudo, mais do que obter a capitulação japonesa, tratava-se de demonstrar a supremacia americana para a URSS, que nesse meio tempo havia declarado a guerra ao Japão.

Desde a divulgação dessas fotos, blogueiros e internautas americanos vêm se digladiando em disputas em torno do assunto. Uma frase volta de maneira recorrente nos comentários: "Os japoneses só tiveram o que eles mereciam". No site MetaFilter, um internauta cujo codinome é "postroad" avalia que "uma vez que o Japão não tinha a menor intenção de capitular, conforme mostra o filme de Clint Eastwood ('Cartas de Iwo Jima', 2006), por mais horríveis que sejam (essas fotos), estes bombardeios salvaram um grande número de vidas americanas - e também japonesas". Inversamente, outros internautas avaliam que "a América dissimula os seus crimes vergonhosos".

Muitos são os internautas que se perguntam também por que essas fotos só estão sendo divulgadas agora. Poucos são os que confiam na versão oficial. Será possível acreditar realmente que Robert Capp tivesse esperado durante 53 anos antes de mostrar essas imagens para quem quer que seja? Por que teria ele exigido que elas continuassem sendo mantidas em segredo durante dez anos? Sean Malloy não tem nenhuma explicação: "É só uma suposição, mas Capp sabia que estava se aproximando do fim da sua vida. Ele não queria se ver envolvido nas polêmicas que essas fotos poderiam provocar".

Da mesma forma, por que Robert Capp teria fornecido esses documentos precisamente para a Hoover Institution? Pois esta é considerada como um centro de pesquisas neoconservador dos mais extremados. Alguns enxergam nisso uma vontade de "incentivar" uma intervenção americana contra o Irã antes que este país, uma vez que ele dispuser da bomba A, possa atacar Israel. Inversamente, outros sugerem a Hillary Clinton para "olhar com atenção para essas imagens antes de fazer certas declarações". A pré-candidata democrata ameaçou recentemente "apagar o Irã" do mapa caso ele atacasse o Estado judeu. O internauta que se faz chamar de "oneirodynia" insiste a respeito do "esforço maciço de censura, tanto por parte dos Estados Unidos quanto de Tóquio, depois que a bomba tivesse sido arremessada. No verão de 1946, a equipe americana encarregada da censura no Japão havia sido aumentada, a tal ponto que ela mobilizava 6.000 pessoas".

Referindo-se à "cultura do segredo" que eles acreditam detectar nos Estados Unidos, inúmeros comentários estabelecem uma relação entre Hiroshima, os bombardeios maciços com napalm das populações locais durante a guerra americana no Vietnã e... as prisões americanas de Guantánamo e de Abu Ghraib atualmente. De Hiroshima ao Iraque, um internauta anônimo escreve, no site do Yahoo!, que "o povo americano nunca se interessa por outra coisa senão pelos seus próprios mortos".

Enquanto o debate vai se desenvolvendo na Internet, a imprensa americana ainda não noticiou nem comentou a divulgação dessas novas fotografias da tragédia de Hiroshima. Nem a imprensa japonesa, aliás.

Tradução: Jean-Yves de Neufville

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Ar mais limpo no Hemisfério Norte provoca seca intensa na Amazônia

Fonte: Portal EcoDebate -Cidadania e Meio Ambiente - Admin em 09/05/2008

Estudo publicado hoje mostra que poluição mascara o aquecimento porque reflete a radiação do Sol de volta ao espaço

Secas como a enfrentada pela floresta amazônica em 2005, considerada uma das piores dos últimos cem anos, poderão passar a ocorrer ano sim, ano não já a partir de 2025 e se tornar a norma para o clima da região de 2060 em diante. Um motivo é conhecido: as emissões de gases causadores do efeito estufa. O outro é inusitado: o ar cada vez mais limpo do Hemisfério Norte. Por Carlos Orsi, Cristina Amorim e Alexandre Gonçalves, do O Estado de S.Paulo, 08/05/2008.

Trabalho publicado hoje na revista Nature (www.nature.com) aponta que o lançamento de poluentes na atmosfera, especificamente de partículas de enxofre pelas usinas termelétricas dos Estados Unidos e da Europa nos anos 1970 e 1980, ajudava a contrabalançar o aquecimento global gerado pelo efeito estufa.

A poluição, sob a forma de sulfatos - compostos de enxofre e oxigênio -, mascara o aquecimento porque, em suspensão na atmosfera, reflete a radiação do Sol de volta ao espaço. De acordo com o estudo da Nature, sem os sulfatos para funcionar como “sombrinhas” sobre o Oceano Atlântico, as águas se aquecem mais ao norte, o que acaba atraindo para longe da floresta a umidade que cairia como chuva, no período de julho a outubro.

Evidentemente que, se é verdade que o “guarda-chuva sujo” faz falta à Amazônia, também é fato que a política correta é reduzir essa poluição. “Ela pode provocar chuva ácida. Partículas em baixa altitude geralmente são ruins para a qualidade do ar e, portanto, para a saúde humana. Reduzi-las é a coisa certa a fazer”, diz o principal autor do trabalho, o pesquisador britânico Peter Cox, da Universidade de Exeter. “Mas esses aerossóis de sulfato também vinham compensando uma boa parte do aquecimento global causado por gases do efeito estufa.”

“A faixa de chuvas intensas nos trópicos acompanha a parte mais quente do Oceano Atlântico”, explica Cox. “Quando a seção tropical do Atlântico Norte fica anormalmente quente, essa faixa se desloca para o norte e para longe de boa parte da Amazônia.”

Além de britânicos, o trabalho contou com a participação dos pesquisadores brasileiros Carlos Nobre e José Marengo, ambos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. “Quando unimos aerossóis e gases-estufa, a seca pode acontecer em 9 de 10 anos a partir de 2060”, diz Marengo.

Artigo publicado na revista Science em 2007 apontava um aumento no verde da floresta durante a seca de 2005, indicando que ela tinha conseguido aproveitar bem o excesso de radiação solar trazido pela falta de nuvens, sem se abater com a perda de umidade. Mas não há garantia de que esse efeito possa se manter ao longo de uma seqüência de secas, adverte Cox. “Algumas árvores têm raízes muito profundas, que lhes permitem sobreviver por alguns poucos anos secos consecutivos”, explica. “Mas aqui estamos falando de uma mudança de longo prazo para uma Amazônia mais seca e, nesse caso, até mesmo as raízes mais profundas finalmente ficarão sem a umidade do solo.”

ESCUDO DE SULFATO

O químico Paul Crutzen, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Química de 1995 por seu trabalho sobre camada de ozônio, chegou a sugerir que a humanidade deveria espalhar sulfatos nas camadas mais elevadas da atmosfera, criando assim um escudo artificial contra o aquecimento global.

Cox não sabe se seria boa idéia. “É crucial que passemos pelas simulações científicas apropriadas antes que alguém tente fazer uma geoengenharia de larga escala no sistema climático.” Para Marengo, “a solução não seria aumentar o índice dos aerossóis, mas reduzir os gases-estufa”.

O diretor do Laboratório de Poluição da USP, Paulo Saldiva, não questiona a ação das partículas no atenuamento do efeito estufa. Mas lembra sua repercussão nociva na saúde. “Um aumento de 10 microgramas de material particulado por m3 de ar diminui em um ano o tempo médio de vida em uma comunidade”, diz.

Fazendeiros são condenados a prisão por trabalho escravo e coação

Fonte: Portal EcoDebate -Cidadania e Meio Ambiente - Admin em 09/05/2008

Eles mantiveram trabalhadores escravos na Fazenda Cajueiro, em Itupiranga, sudeste do Pará

O fazendeiro Francisco Alves do Nascimento foi condenado a cinco anos de prisão em regime semi-aberto por ter mantido sete trabalhadores em regime análogo à escravidão na fazenda Cajueiro, em Itupiranga, sudeste do Pará. Os filhos dele, Jonas Gomes do Nascimento e Josiel Gomes do Nascimento foram condenados a três anos de prisão em regime fechado por terem ameaçado um dos trabalhadores que, depois do flagrante de escravidão, testemunhou contra a família em inquérito policial federal.

Os funcionários, entre eles uma mulher, dormiam em barraco de lona sem luz nem instalações sanitárias e bebiam água do mesmo córrego em que se banhavam. Além das condições degradantes, eram submetidos a jornadas exaustivas e mantidos presos pelas dívidas. Foram contratados para roçar “juquira” e preparar o pasto. Eles foram libertados em novembro de 2007 pelo Grupo Móvel de Fiscalização do Ministério do Trabalho e os donos da fazenda denunciados pelo Ministério Público Federal em janeiro de 2008. A sentença condenatória foi publicada no último dia 28 de abril.

Jonas e Josiel Gomes foram presos preventivamente uma semana depois da fiscalização, porque ameaçaram um dos trabalhadores que havia testemunhado contra eles. Por isso, permanecerão presos, mesmo se recorrerem contra a sentença pelo crime de coação. Eles foram armados e acompanhados de capangas até a casa de uma das testemunhas, o trabalhador Pedro Sebastião da Silva. Só não conseguiram atentar contra a vida do ex-funcionário porque foram enganados pela mulher dele.

O juiz Carlos Henrique Borlido Haddad, da Vara Federal de Marabá, ressaltou na sentença que os dois têm “fama de violentos” e respondem a outros processos por tentativas de homicídio. Francisco Alves do Nascimento, pai de Jonas e Josiel, era o responsável pela contratação dos funcionários e proprietário da fazenda, mas poderá recorrer em liberdade. Ele terá que pagar multa de R$ 30 mil ao final do processo.

Só em 2008, o Ministério Público Federal já denunciou 31 pessoas em 18 processos criminais pelo crime de reduzir trabalhadores a condição análoga à de escravo. Em 2007, no ano inteiro, foram denunciadas mais de 103 pessoas pelo mesmo crime. A maior parte dos processos – 34 – tramitam na Vara Federal de Marabá, responsável por casos de trabalho escravo flagrados em 36 municípios do sul e sudeste do Pará.

Helena Palmquist
Procuradoria da República no Pará
Assessoria de Comunicação


Proteção social ao trabalhador deve recuperar nível de 30 anos atrás


Fonte: Folha de São Paulo

Quando o presidente Lula deixar o governo, 50% dos ocupados deverão ter alguma proteção social, percentual parecido com o de 1980, segundo o Ipea

FÁTIMA FERNANDES

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o presidente Lula deixar o governo em 2010, a proporção de trabalhadores com alguma proteção social deverá ser parecida com a que existia quando ele ainda era sindicalista, no fim dos anos 70.

Em 2006, 48,8% das pessoas ocupadas tinham alguma proteção social mínima, como acesso à Previdência Social, considerando dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE.

Se a economia brasileira mantiver crescimento até 2010 parecido com o do ano passado, de 5,4%, e o mercado de trabalho criar por ano 2,5 milhões de vagas, essa proporção pode subir para algo próximo a 50%, percentual parecido com o de 1980, de 50,3%. O que significa que há 30 anos a proporção de trabalhadores com proteção social não se alterou no país.

Os cálculos e as projeções foram feitas por Marcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Para ele, trabalhador com proteção social é aquele que tem ao menos acesso à
Previdência Social, como o assalariado, o autônomo, o trabalhador por conta própria e também o funcionário público.

"De 1976 até 1980 houve aumento da proteção social. Com a crise da dívida externa brasileira, em 1980, a proporção de trabalhadores protegidos voltou a cair [para 47,4,%, em 1984]. Depois houve nova recuperação, mas, com a abertura do mercado brasileiro, voltou a cair [para 43%, em 1994]. A partir da década de 90 ganhou dimensão a geração de postos de trabalho precários, sem proteção social e trabalhista", diz.

A partir de 2000, segundo Pochmann, com a mudança no regime cambial, a criação de ocupações com proteção social passou a ocorrer num ritmo maior do que a de postos de trabalho sem proteção.

"Essa tendência de recuperação ainda levará de dois a três anos para voltarmos ao percentual próximo de 50%. Nos últimos 30 anos o mercado de trabalho não foi favorável ao brasileiro", diz Pochmann.

Se a economia continuar crescendo no ritmo de 2007, na avaliação Clemente Ganz Lucio, diretor técnico do Dieese, a tendência é de criação de empregos com proteção social ser maior do que a criação de empregos sem proteção.

Nos últimos 12 meses terminados em março deste ano, os postos de trabalho com carteira assinada cresceram 9,2% e as ocupações sem carteira, 5,7%, segundo a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), do Dieese, realizada em seis regiões metropolitanas do país.

Nas regiões metropolitanas a proteção social do trabalhador é maior, segundo Ganz Lucio. "Cerca de 60% dos trabalhadores têm proteção. No final dos anos 90 esse percentual era da ordem de 50%. E está melhorando cada vez mais. Em algumas regiões do país esse percentual chega a 65%", afirma.

O grande desafio do país hoje, na opinião do diretor técnico do Dieese, é a busca por mecanismos de proteção social para os trabalhadores que não são assalariados, como o trabalhador autônomo da construção civil e o trabalhador rural com várias ocupações no mês.

"Se um autônomo sofre um acidente e não é contribuinte da Previdência Social, fica sem renda. A idéia é fazer com que a proteção se estenda para mais trabalhadores", diz Ganz Lúcio.

Rendimento

O estudo feito pelo presidente do Ipea sobre a situação do mercado de trabalho nos últimos 30 anos no país mostra também que o rendimento do trabalhador cresceu menos que o PIB (Produto Interno Bruto).

Enquanto o PIB cresceu em média 2,8% ao ano entre 1976 e 2006, o rendimento médio real dos trabalhadores ocupados aumentou 1,1%, em média.

"Tivemos um período de regressão do ponto de vista da remuneração, em um cenário de elevado desemprego e precarização do trabalho", afirma o presidente do Ipea.

Em 1979, o número de desempregados era de 1,2 milhão de pessoas, o que correspondia a 2,7% da população ocupada no Brasil, segundo dados da Pnad. Em 2006, esse número chegou a 8 milhões, o que equivalia a 8,7% dos ocupados.

O estudo também mostra que, em 1980, 50% da renda nacional era formada pelo rendimento do trabalho. Em 2005, esse percentual foi de 39,1%.

"Apesar de o rendimento médio real ter iniciado um movimento de recuperação nos últimos cinco anos, a trajetória para recuperar o poder de compra dos salários é longa", diz.


quarta-feira, 7 de maio de 2008

O DIA MUNDIAL EM MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DE DOENÇAS E ACIDENTES DE TRABALHO

Fonte: Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados de São Paulo - SINDPD/SP

Artigo assinado pelo companheiro Pérsio Dutra (Diretor do SINDPD e DIESAT)


No último dia 28 de abril, homenageou-se as vítimas de doenças e acidentes do trabalho. Vários eventos foram organizados, com a participação do movimento sindical, das associações de vítimas de acidentes e doenças do trabalho, dos conselhos de saúde, e dos técnicos e serviços públicos de saúde do trabalhador.

Raras datas assumem importância de tal porte para a classe trabalhadora mundial e brasileira, em particular. Ela deve ser, sim, de ampla participação, divulgação e denúncia pelos trabalhadores. Não só por que os órgãos da grande imprensa a boicotam, assim como boicotam a discussão sobre as causas dos acidentes e doenças do trabalho (claro, com honrosas exceções, até de algumas matérias que nos serviram de fonte). Mas por que tal tema é assunto de saúde pública e da mais alta importância – e que tem sido enormemente subestimado!

Muitas vezes o trabalho incapacita e mata mais do que os mais badalados males que afligem a nossa sociedade e a humanidade. Algumas doenças do trabalho, não contagiosas, têm incidência de novos casos equivalente ao de algumas moléstias famosas porque transmissíveis – como AIDS e dengue, e mortalidade muitas vezes semelhante ou maior (muito). No entanto, embora devesse ser assunto de manchete de primeira página, isto é colocado lá no espaço mais escondido. Mas os números são estarrecedores.

São cerca de 2.200.000 (dois milhões e duzentas mil) mortes por doenças (DT) ou acidentes (AT) relacionados ao trabalho e cerca de 270 milhões de feridos e 160 milhões de doentes por ano, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) – e isto apenas os dados confirmados, pois segundo o organismo, esta estimativa pode estar (deve estar) subestimada, visto o grande número de países com sistemas ineficientes de notificação. Esta realidade indecente, de fato, deve ser muito mais grave.

A OMS (Organização Mundial de Saúde), por exemplo, estima em 96 a 97 por cento a subnotificação de doenças e acidentes do trabalho na América Latina. Isto é, a cada 3 ou 4 casos registrados, outros 96 ou 97 deixam de ser. Há outros países em que a situação parece estar muito pior. A Índia, por exemplo, notificou no ano de referência do estudo (2002) 222 – DUZENTAS E VINTE E DUAS – mortes em decorrência do Trabalho, para uma população de um bilhão de habitantes e uma PEA (População Economicamente Ativa) de 402.234.000 habitantes. Em contraposição, a República Tcheca, com uma PEA equivalente a 5.172.000 habitantes, notificou 231 mortes. A OIT estima um total aproximado de 40.000 mortes por AT / DT anuais para a Índia.

No Brasil, não é muito diferente. Os dados oficiais de AT e DT são os da Previdência Social, com base nos benefícios concedidos pelo INSS por este motivo, ou seja, reconhecidos como tal pelo órgão – num total de 491.711 em 2005 dos quais cerca de 90.000 casos de doenças do trabalho, com 2708 mortes – doenças e acidentes estes sabidamente subnotificados, e cuja abrangência cobre apenas os trabalhadores com registro em carteira de trabalho, deixando fora os servidores públicos estatutários, os domésticos e os infelizes que têm relação de trabalho precário (cooperados, PJ’s, escravos e outras formas, todas eufemisticamente chamadas de informais).

Para se ter uma idéia, estudo realizado pela UNESP na região de Botucatu em 1997, constatou que apenas 22,4% dos acidentes de trabalho foram captados pelos registros do INSS – e o próprio sistema deixa de lado 80% dos casos – os afastamentos de menos de 15 dias, por exemplo. Para piorar, se compararmos a proporção entre doenças e acidentes no Brasil e no mundo veremos que o número daquelas está flagrantemente discrepante em nosso país. Note-se que estamos falando do chamado setor “formal”. Exemplifiquemos algo que ocorre com os “informais”.

Uma única categoria – a dos motoboys da cidade de São Paulo – faria a estatística das mortes do país crescer em mais de 39%. A maioria esmagadora (seguramente mais de 85% deles) não tem vínculo formal. Morrem mais de 400 por ano de acidentes de trânsito registrados (só é registrado como tal o caso em que o acidentado já chega morto, ou morre ao dar entrada, no hospital. A partir daí vira poli-traumatismo, etc). Um estudo realizado durante a filmagem de “Vida Loca” concluiu que o número real de motoqueiros por acidente, assim, é o triplo do oficial – ou seja, mais de 1.200 por ano. Dos quais apenas uma ínfima parcela é registrada como acidente de trabalho. E, portanto, isto não gera providências.

E com as mudanças no mundo do trabalho, novas mazelas despontam nos acometimentos dos trabalhadores, como os distúrbios psicossociais, alcoolismo, dependência química e outros, que se juntam às LER, às PAIR (perda auditiva induzida por ruído), pneumoconioses, intoxicações, etc., para tornar o quadro da saúde no trabalho ainda mais espantosamente preocupante.

A OIT estima o custo destas mazelas em 4% do PIB mundial. O Brasil, segundo a própria Previdência, tem um custo social em torno de U$ 40 bilhões anuais com os acidentes e doenças do trabalho. E com novas transformações se insinuando, e não havendo providências, estes números irão à estratosfera.

Por tudo isto, a reflexão e a participação no 28 de abril é importante, e esta semana, que tem seu ápice no dia do trabalho – também um dia em homenagem aos mortos na luta pela melhoria nas condições de trabalho e portanto, da saúde do trabalhador – é a semana culminante para a atuação da classe trabalhadora. Para que no futuro estas datas sejam apenas de homenagens, e não de dores. De lembranças, e não de infâmias.

FONTES
Paula Laboissière – Agência Brasil
OIT Brasil – portal
OIT (ILO) – LABORSTA – YEARLY STATISTICS – Total economically active population
Pesquisa FAPESP
– Edição Impressa 76 - Junho 2002
PORTAL DO GDF – O GLOBO

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Incidência de HIV nas prisões é vinte vezes maior

da Agência Brasil - 03/05/2008 - 19h50

Estudo do Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids) aponta que a incidência de HIV nas prisões chega a ser vinte vezes maior do que entre a população em liberdade.

"Essa situação reproduz o nível de marginalização a que as pessoas que estão dentro das prisões estão submetidas", afirmou Márcia de Alencar, coordenadora-geral do Programa de Fomento às Penas Alternativas do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) do Ministério da Justiça.

A situação de confinamento, a falta de assistência adequada e fatores de risco, como uso de drogas injetáveis e compartilhamento de material utilizado em tatuagens, contribuem para essa maior incidência.

O assunto vai ser tema da 1ª Conferência Regional de HIV/Aids no Sistema Prisional, com representantes de vinte países da América Latina e Caribe, entre especialistas em saúde, gestores penitenciários e organizações da sociedade civil. O encontro acontecerá em São Paulo, de segunda (5) a quarta-feira (7).

Na avaliação da coordenadora do Depen, o encontro vai possibilitar a formulação de políticas e diretrizes para o tratamento da população prisional portadora do HIV. Ela acredita que a solução para essas políticas passa pela articulação entre as organizações da sociedade civil e gestores públicos de saúde das três esferas.

Durante a conferência, os gestores deverão formular iniciativas intersetoriais entre as áreas de saúde, justiça e direitos humanos. Os participantes também vão discutir uma proposta de diagnóstico rápido sobre a situação do HIV no sistema prisional latino-americano e estratégias de apoio à população penitenciária para garantir acesso aos serviços de saúde.

Mina de carvão explode em SC; dois estão desaparecidos

Martha Alves da Agência Folha - 05/05/2008 - 07h03

Duas pessoas estão desaparecidas depois da explosão de uma mina de carvão no distrito de Guatá, em Lauro Muller (211 km de Florianópolis), às 3h40 desta segunda-feira. Ao menos 37 pessoas trabalhavam no local no momento do acidente.

Segundo o Corpo de Bombeiros, a explosão soterrou parte da mina e 7 pessoas conseguiram escapar. Outros 28 mineiros que estavam no local no momento da explosão conseguiram se proteger e aguardam o resgate.

Ao menos 80 bombeiros das cidades de Orleans, Criciúma, Urussanga, Braço do Norte e Tubarão participam das buscas aos mineiros desaparecidos.

Ainda não há informações sobre o que teria causado a explosão.