quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Gastos com acidentes de trabalho crescem 8% em 2007

PREVIDÊNCIA

JULIANNA SOFIADA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Fonte: Folha de São Paulo, 31/01/2008

Os gastos da Previdência Social com benefícios relacionados a acidentes do trabalho e atividades insalubres cresceram 8% no ano passado em relação a 2006.
Em 2007, as despesas com auxílio-doença acidentário e aposentadoria especial por insalubridade chegaram a R$ 10,7 bilhões, o maior valor já desembolsado com esses benefícios pela Previdência.De acordo com o diretor de Segurança e Saúde Ocupacional, Remígio Todeschini, o aumento se deve à expansão da massa salarial (elevando o valor dos benefícios pagos), o crescimento do mercado de trabalho formal (aumentando o número de trabalhadores passíveis de acidente) e ainda mudanças de regras da Previdência.
Desde o ano passado, entrou em vigor o Nexo Técnico Epidemiológico, que vincula ocupações a determinados tipos de doenças. Assim, uma parte dos benefícios que eram tratados como auxílio-doença passou a ter uma relação com o trabalho e foi enquadrada como auxílio-doença acidentário."Esse aumento serve para mostrar a realidade nas condições de trabalho no Brasil. É preciso avançar na questão da prevenção", declarou Todeschini.
O ministério também divulgou o Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho de 2006. Os dados mostram que houve elevação no número de acidentes entre 2005 e 2006. O total passou de 499.680 para 503.890 -acréscimo de 0,8%.O crescimento ocorreu principalmente no trajeto de trabalhadores para o trabalho (8,8%).
Entre os setores econômicos, foi a indústria que concentrou a maior parte dos acidentes: 47%.O secretário de Previdência Social, Helmut Schwarzer, destaca que 30% do total de acidentes afetou o punho ou a mão do trabalhador. Na avaliação dele, isso revela o amplo uso de máquinas obsoletas e inadequadas. Além disso, indica que os acidentes podem ser evitados com o investimento das empresas.
Desde o ano passado, os setores econômicos foram reclassificados por índice de acidente de trabalho. O setor bancário, por exemplo, pagava um adicional de 1% sobre a folha de salários por causa do elevado número de doenças ocupacionais. Essa alíquota subiu para 3%.A partir do ano que vem, entrará em vigor um fator que reduzirá ou elevará essa cobrança adicional individualmente. O Fator Acidentário Previdenciário será aplicado por empresa e levará em conta o número de acidentes registrados nos estabelecimentos.

PS: Em tempo: Remígio Todeschini é ex-Secretário Geral do DIESAT.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Parque no MT perde área de mata igual a 60 campos de futebol

Folha de São Paulo - 29/01/2008


O avanço do desmatamento na região norte de Mato Grosso nos últimos cinco meses também fez estragos em uma das mais importantes unidades de conservação da Amazônia, revela reportagem da Folha de S.Paulo desta terça-feira.

De agosto a dezembro, segundo os dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), uma área equivalente a 60 campos de futebol foi derrubada no Parque Estadual do Cristalino, entre os municípios de Alta Floresta e Novo Mundo (830 km de Cuiabá).

O local abriga, em 184 mil hectares, uma das mais ricas amostras da biodiversidade de toda a Amazônia, especialmente em relação às aves: são quase 600 espécies identificadas, das quais 50 endêmicas --ou seja, que só existem ali. É também uma das áreas mais ameaçadas, pois está situada exatamente no limite da fronteira agrícola da região, cercada por estradas, fazendas de gado e dois assentamentos rurais.

Na semana passada, o Inpe lançou um novo alerta de desmatamento na região ao divulgar dados do Deter --sistema de detecção de desmatamento em tempo real--, que registrou a derrubada de 3.235 km2 de floresta na Amazônia nos últimos cinco meses de 2007.

Para o Inpe, o ritmo mostrou-se especialmente acelerado em Mato Grosso --que havia perdido a liderança no ranking do desmatamento para o Pará-- e em novembro e dezembro, meses em que tradicionalmente não há corte raso da floresta porque chove muito.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Pior câncer de pele custa 280% a mais ao SUS em SP

Matéria publicada em 30/10/07 em Terra Magazine

Rafael Sampaio
Da PrimaPagina

A rede pública de saúde gasta em média R$ 4,4 milhões por ano no Estado de São Paulo com o tratamento do tipo mais letal de câncer de pele, o melanoma, segundo um estudo que analisou os 2.920 casos da doença entre os paulistas, de 2000 a 2007. Agravada pela destruição da camada de ozônio e a conseqüente exposição mais intensa a raios ultravioletas, a enfermidade geralmente pode ser prevenida com facilidade. Se fossem detectados em sua fase inicial em todos os pacientes, os 2.920 casos custariam aos cofres paulistas R$ 1,15 milhão - ou seja, os gastos atuais são 282% maiores.

Os dados são de uma pesquisa ainda inédita do oncologista Reynaldo Sant'Anna, do Hospital do Câncer de Ribeirão Preto. Elaborado em conjunto com quatro especialistas da UNIFEI (Universidade Federal de Itajubá, em Minas Gerais), o trabalho aponta que nos sete anos pesquisados o SUS (Sistema Único de Saúde) desembolsou R$ 31 milhões com melanoma em São Paulo. Feito a partir de dados da Fundação Oncocentro de São Paulo, o levantamento considerou preço de consultas, biópsias, remédios, tratamentos e outros procedimentos hospitalares.

Sant'Anna vai comentar alguns dados da pesquisa no simpósio "Efeitos da Destruição da Camada de Ozônio na Saúde: O que temos de fazer?", que acontece nesta terça e quarta-feira em Brasília, promovido pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério do Meio Ambiente, com apoio do PNUD. O evento também vai abordar substituição de inaladores que usam CFC (clorofluorcarbonos, gases destruidores da camada de ozônio) e prevenção e controle de doenças relacionadas à radiação ultravioleta.

O melanoma é o mais letal dos tumores de pele conhecidos pela medicina. Embora represente 4% dos tipos de câncer de pele, mata em 75% das vezes que se manifesta, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde). Todo ano são registrados cerca de 132 mil casos de melanoma no planeta, além de 2 milhões de outros tipos de câncer de pele, ainda segundo a OMS. Milhares de casos de doenças relativas à exposição ao sol também são verificados anualmente, como catarata, queimadura de córnea, de globo ocular e crescimento do pterígio (membrana que recobre uma parte do olho).

O estudo sobre a rede pública em São Paulo indica que um paciente que está com melanoma ainda na fase inicial custa R$ 382 por mês. "Já o custo para tratar um paciente com melanoma disseminado, no chamado estadio 4, é em média R$ 32 mil anuais", afirma Sant'Anna.

O oncologista assinala que, se fosse somado o gasto público com outros tipos de tumores e doenças relacionados à exposição ao sol, o valor seria muito maior que R$ 31 milhões. Só em São Paulo foram registrados 49.993 casos de câncer de pele entre 2000 e 2007, dos quais 47.073 eram carcinomas, tumores de pele mais comuns, porém menos letais que os melanomas.

"O gasto com o tratamento de melanoma mostra que o governo brasileiro deveria investir mais na prevenção desse tipo de doença", afirma o médico. O câncer de pele é um dos poucos que são preveníveis, diferentemente dos tumores de próstata ou mama.

A camada de ozônio funciona como um filtro para a ação dos raios ultravioleta, que são de três tipos: UVA, UVB e UVC. O melanoma é basicamente causado pela incidência de radiação UVB na pele. "Além do buraco na camada de ozônio permitir que os raios ultravioleta atinjam a superfície do planeta, a emissão de gás CFC (clorofluorcarbono) afinou a camada como um todo, o que teve um impacto na incidência do câncer de pele", diz Sant'Anna. A OMS estima que cada 10% de redução da camada de ozônio provocaria cerca de 4,5 mil novos casos de melanoma, além de 300 mil novos tumores de carcinoma e 1,7 milhões de casos de catarata no mundo.

A assinatura do Protocolo de Montreal há duas décadas fez com que os 191 países signatários (dentre eles o Brasil) se comprometessem a combater a emissão dos gases que destroem a camada de ozônio, dentre eles o brometo de metila e o CFC, o que melhorou a situação atual.

A avaliação da ONU é de que as medidas adotadas nestes 20 anos estacionaram a destruição da camada de ozônio e foram bem-sucedidas. "As medidas não têm efeito imediato, porque os gases ficam por décadas na atmosfera. Mas a expectativa da ONU é de que haja uma recuperação completa da camada de ozônio até 2075", afirma Sant'Anna.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Temporão critica ação da Igreja contra pílula

Fonte: Folha de São Paulo - 28/01/2008
MALU TOLEDODA SUCURSAL DO RIO

Ministro da Saúde diz que entidade está "equivocada mais uma vez" ao tentar impedir distribuição de pílula do dia seguinte em RecifeGoverno lançou ontem a campanha "Bom de cama é quem usa camisinha", que neste Carnaval focará mulheres jovens.



Ao abrir ontem a campanha de prevenção à Aids no Carnaval, o ministro José Gomes Temporão (Saúde) criticou no Rio a posição da Igreja Católica contra a distribuição da pílula do dia seguinte em Recife durante o Carnaval. O arcebispo de Recife e Olinda, dom José Cardoso Sobrinho, anunciou na quinta que a igreja entraria com uma ação para evitar que a Prefeitura de Recife distribua o contraceptivo. Ele não comentou ontem as declarações do ministro.
"A prefeitura está correta, e a Igreja está equivocada mais uma vez. A prefeitura está fazendo uma coisa que está dentro do protocolo do Ministério da Saúde. A pílula do dia seguinte é usada por orientação médica. É uma questão de saúde pública, não é uma questão religiosa. Lamentavelmente, a igreja cada vez mais se afasta dos jovens com esse tipo de postura", declarou o ministro.
Eles estava no Centro Cultural Cartola, na Mangueira, onde lançou a campanha "Bom de cama é quem usa camisinha". O foco deste ano é nas mulheres jovens. Segundo o Ministério da Saúde, na faixa etária entre 13 e 19 anos, a cada seis meninos com Aids, há 10 meninas. Quando se considera todas as faixas, a proporção é de 15 homens para cada 10 mulheres.
Há 180 mil pessoas em tratamento contra a Aids hoje no Brasil -0,6% da população adulta, segundo Mariângela Simão, diretora do Programa Nacional de DST e Aids. Ela estima que existam 600 mil soropositivos no país e que 85% dos municípios tenham pelo menos um caso de morador portador do HIV. Segundo uma pesquisa feita pelo Ministério da Saúde, 87% dos homens de 16 a 19 anos disseram que usam camisinha nas relações sexuais eventuais. Na mesma pesquisa, apenas 42% das mulheres disseram que exigem preservativo.
O vídeo da campanha deste ano mostra uma jovem exigindo o uso do preservativo. Depois de ouvir o garoto dizer que não tem, ela diz que "não vai rolar". Uma banda surge em cena e joga uma camisinha para o casal. Em seguida, a cantora Negra Li pede aos jovens que se lembrem da camisinha antes de sair de casa.
Serão distribuídas 19,5 milhões de camisinhas durante o Carnaval -8,5 milhões a mais que no ano passado. Além de folders, cartazes e bandanas, o ministério distribuirá tatuagens com a frase "Tenho atitude, uso camisinha". "Seja você de que religião for, qual sua opção sexual, não importa. O que importa é que todos temos o direito de nos prevenir", disse Negra Li no evento, uma feijoada feita em parceria com a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba).
Temporão destacou como avanços contra a Aids no país o evento ecumênico no Cristo no dia 1º de dezembro do ano passado e o licenciamento compulsório do Efavirenz, medicamento do cocktail anti-Aids. O Brasil passou a comprar o medicamento genérico da Índia e produzirá o medicamento até o fim do ano. Segundo Mariângela Simão, 2,6 milhões de comprimidos são consumidos por mês no Brasil.

Igreja

O arcebispo de Recife e Olinda, dom José Cardoso Sobrinho, foi procurado por telefone pela Folha na tarde de ontem, tanto na sede da arquidiocese, em Olinda, como em sua residência, em Recife, mas nos dois locais atendentes informaram que ele não poderia falar, por estar muito ocupado, e que somente hoje seria encontrado. Também informaram que não havia mais ninguém da Igreja autorizado a opinar sobre o assunto.

Colaborou KAMILA FERNANDES , da Agência Folha, em Fortaleza

Posse dos Conselheiros

SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE
Conselho Municipal de Saúde – CMS

Conselho Municipal de Saúde de São Paulo
Nota de Esclarecimento à População de São Paulo

O Conselho Municipal de Saúde de São Paulo (CMS-SP) vem a público esclarecer a população paulistana sobre os fatos graves que estão ameaçando o seu funcionamento democrático, pois violentam os princípios constitucionais do SUS, em especial, os do controle social.
Desde sua criação, ainda nos anos 80, o CMS-SP se constitui de modo tripartite, com representantes do governo municipal, os usuários e os trabalhadores da saúde. Os representantes dos usuários e trabalhadores da saúde sempre foram indicados de modo autônomo pelos seus movimentos e entidades, sem qualquer ingerência dos governos. Mesmo no período de vigência do famigerado PAS, imposto pelos governos Maluf-Pitta, o CMS-SP respeitou essa regra de composição do pleno do Conselho.
Em novembro de 2007, uma vez mais, os movimentos e entidades desencadearam processos eleitorais para indicar seus legítimos representantes ao plenário do CMS-SP. Os resultados desse processo foram amplamente discutidos e aprovados pelo pleno do CMS-SP.
Contudo, em janeiro de 2008, quando aguardávamos que o governo municipal indicasse os seus representantes para comporem o CMS-SP para o período 2008-2009, isso não aconteceu. Para nossa perplexidade, ao invés de indicar seus representantes, o Senhor Secretário Municipal de Saúde, extrapolando completamente suas competências, decidiu substituir a vontade dos movimentos populares e entidades e, de modo autoritário e unilateral, publicou no Diário Oficial do Município, portarias impugnando os eleitos democraticamente pela população paulistana. Um verdadeiro ato de cassação de mandatos populares que faz lembrar os piores momentos da ditadura militar. Para um governo de um partido cujo nome é Democratas, nada pode ser tão contrário à noção de democracia.
Em reunião plenária, realizada em 24/1/08, o CMS-SP deliberou tornar sem efeito os atos autoritários do Senhor Secretário de SMS e dar posse aos conselheiros eleitos para o período 2008-2009. Isto foi feito em respeito à soberania dos cidadãos paulistanos e contra a ingerência do governo em decisões da comunidade.

São Paulo, 24 de Janeiro de 2008.
Plenário do Conselho Municipal de Saúde de São Paulo

Pesquisa mostrou aumento de metal em água de garrafa PET armazenada

Folha de São Paulo - 27/01/2008

Matuiti Mayezo - 22.jan.08/Folha Imagem
PET gigante de artista no Tietê; material é alvo de ambientalistas


DA REPORTAGEM LOCAL

Assim como o policarbonato, a garrafa PET também é alvo de críticas de cientistas e ambientalistas e vem sendo destaque na mídia internacional.
Uma pesquisa e artigos de cientistas da Universidade de Heidelberg (Alemanha) divulgados em 2006 e 2007 são os principais responsáveis pela polêmica. Eles defenderam que o antimônio -metal pesado usado na fabricação da resina da garrafa PET- aumenta consideravelmente sua presença na água que é armazenada.
"Chegamos à conclusão por acidente", disse à Folha um dos autores do estudo, o cientista William Shotik. Por e-mail, ele contou que estudava a presença do metal, jogado no ambiente por indústrias, em águas subterrâneas no Canadá. Ao comparar os resultados com a água de garrafas PET da Europa e do Canadá, verificou que esta tinha mais antimônio.
Mas a principal conclusão se deu meses depois, quando comparou a quantidade de antimônio em garrafas armazenadas. O nível havia subido mais de 90% em algumas.
Mesmo assim, ficou bem abaixo do permitido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Entretanto, o pesquisador alertou que, "a liberação contínua de antimônio da garrafa para o líquido sugere que novos estudos são necessários" para conhecer o impacto da maior quantidade do metal.
Segundo a Abipet (Associação Brasileira da Indústria do PET), o consumidor pode "ficar tranqüilo e seguro quanto à qualidade das águas envasadas em PET, que são plenamente testadas e analisadas". Alfredo Sette, presidente da entidade, diz que o material "é inerte".
O PET poderá ser reciclado em breve para armazenar alimentos, segundo texto aprovado pela Anvisa após consulta pública. Hoje, o reciclado serve apenas para outros produtos.

Consumo
As recentes pesquisas sobre plásticos ainda não foram capazes de gerar novos consensos para a compra e o uso doméstico de produtos. Mara Dantas, pesquisadora do laboratório de embalagens do IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológicas), diz que o consumidor pode tomar cuidados na hora de comprar. "Se ele notar que o garrafão de água está muito riscado ou tem uma sujidade, já não dá para ter uma confiança no uso", afirma.

"Mamadeira obedece norma", diz Plastivida



Folha de São Paulo - 27/01/2008

DA REPORTAGEM LOCAL



Procurada, a Associação Brasileira da Indústria Química encarregou a Plastivida (Instituto Socioambiental dos Plásticos) de comentar as recentes pesquisas sobre o plástico.
Silvia Rolim, assessora técnica da Plastivida, afirmou que "todas as mamadeiras e outros recipientes de policarbonato no Brasil obedecem a resolução nº 105 da Anvisa que regula a utilização de toda e qualquer embalagem que entre em contato com alimentos".
Essa resolução traz uma tabela dizendo a quantidade máxima de substâncias no plástico que podem "migrar" para os alimentos. Segundo Silvia, mesmo que os plásticos liberem algo, se a quantidade for a permitida, não há nada de irregular e nenhum risco à saúde.
De acordo com Luiz Enrique Catalani, professor de química da USP, o bisfenol A é usado como um plastificante nos policarbonatos, o que os torna mais maleáveis e facilita a produção. "A grande polêmica é saber quanto pode lixiviar."
A assessoria de imprensa da Anvisa informou que as restrições de uso dos plásticos e os limites de migração de seus componentes serão atualizados em breve para adequar-se à uma tabela do Mercosul. Para isso, será emitida uma nova resolução nas próximas semanas. O órgão não falou, porém, se os atuais parâmetros são seguros.

Composto do plástico pode afetar função de glândulas

MÁRCIO PINHODA
Fonte: Folha de São Paulo - 27 de janeiro de 2008


Pesquisas já mostraram que o bisfenol A pode inclusive facilitar o ganho de pesoSubstância, presente em mamadeiras e panelas, pode se soltar nos alimentos quando for aquecida no microondas, por exemplo.


Uma substância presente em mamadeiras, algumas latas, panelas e brinquedos pode ser uma grande vilã para a saúde e, até mesmo, ajudar a engordar. Cientistas e ambientalistas em todo o mundo estudam e contestam o uso do bisfenol A, composto químico para fabricação do policarbonato, plástico desses produtos.

Algumas pesquisas já mostraram que o bisfenol A fica mais suscetível a se soltar nos alimentos quando aquecido a altas temperaturas (no microondas, por exemplo), quando lavado repetidamente ou em contato com alguns alimentos.

As agências de vigilância sanitária, como a Anvisa, no Brasil, consideram limites para a liberação dessa substância nos alimentos e não coibem a venda de produtos que não ultrapassam os limites por considerar que não há prejuízo à saúde.

Porém, os críticos do bisfenol A não concordam e pedem uma revisão dessa permissão. As investigações sobre a substância começaram após a descoberta de que ela pode atuar da mesma forma que o estrógeno (hormônio feminino). Pesquisas com ratos mostraram que o bisfenol A é, na verdade, um "disruptor" endócrino -algo capaz de afetar o funcionamento das glândulas."Houve uma preocupação grande sobre o dano em potencial da substância nos animais, incluindo a chance de diabetes, câncer e obesidade. A previsão é que podemos esperar os mesmos efeitos em humanos", disse o cientista Frederick vom Saal, em entrevista ao "New York Times", neste mês.

Em 2007, ele coordenou uma revisão de estudos sobre o bisfenol A feita por 40 pesquisadores e financiada pelo governo dos EUA. No país, um levantamento nacional mostrou que 92,6% dos americanos têm bisfenol A no sangue.Vom Saal, que é professor da Universidade Missouri-Columbia, faz parte de uma geração de cientistas que estuda como o composto pode facilitar o ganho de peso. Ele expôs no congresso da Associação Americana pela Avanço da Ciência uma pesquisa mostrando que ratos que receberam alimentos que imitam o bisfenol A quando fetos ou pequenos tiveram mais chances de ser obesos.Isso é "realmente possível", diz o endocrinologista e professor da USP Alfredo Halpern. "Já vimos que substâncias de inseticidas chegavam aos alimentos e também afetavam o funcionamento das glândulas."

Outro estudioso dos efeitos dos plásticos nos EUA, Bruce Blumber, da Universidade da California, disse à Folha, por e-mail, que "já há informação suficiente para ligar a substância à obesidade. "Ela afeta as glândulas", explica, comparando sua ação à de um composto químico usado na pintura de navios que age nos hormônios de crustáceos, impedindo sua reprodução.

Controvérsia

O perigo dos plásticos é um tema controverso. Cientistas que criticam o bisfenol A são acusados de participar de lobby de ambientalistas, enquanto os que dizem que o composto não traz danos à saúde são chamados de "representantes da indústria do plástico".Entre os críticos dos críticos está Joseph Politch, cientista da Universidade Boston. Ele afirmou em um artigo que "diversas pesquisas recentes superestimaram as concentrações de bisfenol A".Ele cita outros estudos que mostraram que, quando a substância é ingerida, ela é rapidamente metabolizada e eliminada pelo corpo, e que não pode, portanto, causar doenças crônicas anos após consumida.