sábado, 1 de março de 2008

União propõe medida para favorecer remédio nacional

Folha de S.Paulo - União propõe medida para favorecer remédio nacional - 01/03/2008
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA



O Ministério da Saúde irá propor mudanças na legislação para substituir importações de remédios e equipamentos de saúde.

A medida, anunciada como parte do "PAC da Saúde", foi oficializada ontem por meio de uma portaria publicada no "Diário Oficial" da União.
Uma das possibilidades estudadas é mudar a lei de licitações para permitir que os órgãos públicos dêem preferência aos produtos nacionais, ainda que eles sejam mais caros do que equivalentes estrangeiros.
"Não é uma medida contra as multinacionais", afirma Adriana Diaféria, diretora do Departamento de Economia da Saúde do ministério. "O objetivo é diminuir os preços do SUS [Sistema Único de Saúde] e, para isso, é preciso melhorar a competitividade da indústria nacional."
Caso o produto nacional custe mais caro que o estrangeiro, Diaféria afirma que seria possível firmar um contrato em que a empresa se comprometesse a reduzir preços a médio ou longo prazo.
No fim de março, a pasta deverá publicar uma lista com os produtos que serão contemplados com a nova política industrial.
Entre eles, devem constar remédios para hipertensão, diabetes, medicamentos de grande impacto no orçamento do ministério -como os anti-retrovirais, e os produtos para as chamadas "doenças negligenciadas", como dengue, tuberculose e hanseníase.
De acordo com dados do ministério, o déficit da indústria brasileira de medicamentos e equipamentos de saúde saltou de um patamar de US$ 700 milhões na década de 1980 para US$ 6 bilhões no ano passado.
Dados da pasta mostram ainda que cerca de 60% dos R$ 5 bilhões gastos por ano pelo governo federal com medicamentos vão para laboratórios estrangeiros.
Dos recursos destinados à compra de medicamentos, entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão se referem a produtos que não são protegidos por patentes e que, portanto, poderiam ser fabricados no Brasil.
Na opinião dos idealizadores dos incentivos à indústria nacional da área de saúde, a dependência da indústria estrangeira no setor "vulnerabilidade" à rede pública de saúde, que fica mais suscetível às variações do dólar, por exemplo.
(ANGELA PINHO)

Sob pressão, STF pepara voto sobre embriões

Folha de S.Paulo - Sob pressão, STF prepara voto sobre embriões - 01/03/2008

Ministros do Supremo recebem visitas de lobbies pró e contra células-tronco.

Para CNBB, liberar pesquisa é abrir porta para o aborto; para ministro da Saúde, proibi-la é obscurantismo; julgamento será na quarta

SILVANA DE FREITAS
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

A Igreja Católica, de um lado, e cientistas e portadores de doenças graves, de outro, aumentaram nesta semana as pressões sobre os 11 ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar na última hora ganhar votos do julgamento que decidirá, na semana que vem, se o país pode ou não usar embriões humanos em pesquisas de células-tronco.
A polarização chegou ao auge ontem, com declarações feitas pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e pelo secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Dimas Lara Barbosa.
O último afirmou que a liberação das pesquisas é uma porta para a legalização do aborto (leia texto à direita). O primeiro previu que o Brasil pode viver "época do obscurantismo e do atraso" se o Supremo Tribunal Federal proibir os estudos com células-tronco embrionárias.
"É uma área em que o Brasil tem todas as possibilidades de chegar à fronteira do conhecimento em pé de igualdade com os países mais avançados. Podemos entrar em uma época de obscurantismo e atraso ou seguir o caminho da ciência e nos capacitar a enfrentar doenças", declarou Temporão, no Rio.
Em Brasília, no início da tarde de ontem, cerca de 30 pessoas portadoras de doenças graves fizeram uma manifestação em frente do prédio do STF pela liberação das pesquisas com células-tronco.
Elas soltaram 600 balões de gás e depositaram ao pé da estátua da Justiça gérberas laranja, para simbolizar a expectativa de julgamento isento.

Ação

Na próxima quarta-feira, o STF começará a julgar uma ação direta de inconstitucionalidade contra o artigo da Lei de Biossegurança que autorizou a realização de pesquisas com células-tronco de embriões. O julgamento poderá se estender ao dia seguinte.
Ainda ontem, o relator da ação, Carlos Ayres Britto, recebeu em seu gabinete representantes da CNBB, que atua formalmente como parte interessada. Na segunda-feira, falará com um representante da outra parte, o advogado Luís Roberto Barroso, do Movitae (Movimento em Prol da Vida), integrado por cientistas e portadores de doenças diversas.
Antes de quarta-feira, a CNBB vai enviar carta aos ministros defendendo que existe vida desde a fecundação, mas disse que não quer fazer pressão em cima dos ministros.
Até o início do julgamento, também será protocolado no STF um abaixo-assinado com 40 mil assinaturas pela liberação das pesquisas, colhidas pelas entidades de portadores de doenças e familiares.
Cientistas contrários ao uso de embriões também pretendem entregar um documento aos ministros. Alguns estiveram no STF nesta semana, para audiências. Cláudia Batista, da UFRJ, conversou com o ministro Ricardo Lewandowski e tirou dúvidas como "em que estágio se congela um embrião".
O STF irá reservar espaço no plenário para 20 cadeiras de rodas durante o julgamento. Paraplegias e distrofias musculares, que muitas vezes comprometem a locomoção, são algumas das doenças que podem supostamente, no futuro, obter tratamentos mais eficazes a partir do resultado de pesquisas com células-tronco.
As pressões sobre Britto começaram em abril de 2007, depois da audiência pública sobre o tema, a primeira da história do STF. Desde então, o seu gabinete recebe cerca de dez e-mails por semana, encaminhados tanto por fiéis católicos, contrários às pesquisas, quanto por portadores de doenças.
Anteontem, Eros Grau e Lewandowski receberam a geneticista da Universidade de São Paulo Mayana Zatz. Ela mostrou a cada um uma pequena vareta, mais fina que um palito. "Em um fiozinho como esse se congelam dezenas de embriões", disse para tentar evitar a comparação com pessoas. Barroso também esteve com eles e outros três ministros.
O autor da ação e ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles tem o apoio da CNBB. No campo adversário, estão a Advocacia Geral da União, o Congresso e três ONGs que representam cientistas e portadores de doenças: Movitae, Conectas Direitos Humanos e Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero.
Para Temporão, o momento de debater a questão já passou. "Agora é a hora da decisão. Proibir as pesquisas teria um impacto difícil de mensurar."

Blitz vê falhas em usina de governador de AL


Folha de S.Paulo - Blitz vê falhas em usina de governador de AL - 01/03/2008
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA


Fonte: Folha de São Paulo

O usineiro e governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), também foi alvo da megablitz realizada pela força-tarefa montada pelo Ministério Público do Trabalho em usinas de cana-de-açúcar do Estado.
Na usina Seresta, da qual ele é sócio, na cidade de Teotônio Vilela (88 km de Maceió), procuradores do Trabalho dizem ter encontrado irregularidades como falta de equipamentos e de banheiros no campo.
Não houve libertação de trabalhadores, a exemplo do ocorrido na usina Laginha, do adversário político João Lyra (PTB). Mas a inspeção na usina não contou com o grupo móvel do Ministério do Trabalho, em razão das blitze em outras usinas acontecendo concomitantemente.
Na Seresta, segundo o procurador Rodrigo Alencar, faltam equipamentos de proteção individual. "Cada trabalhador recebe uma luva apenas, nem o par é dado." Além disso, diz ele, foi constatada a inexistência de barracas sanitárias em uma das frentes de trabalho.
"Eles até vão dizer que têm, porque montam barraquinhas e chamam aquilo de banheiro, mas ninguém usa", diz Ronaldo Lira, também procurador.
O não-pagamento das horas de percurso (ida para o trabalho e volta para casa) também é visto como problema. Alencar diz que a pesagem da cana não era feita na presença dos trabalhadores e até as 9h, o que fere a convenção da categoria.
Segundo ele, será ajuizada ação civil pública pedindo que as irregularidades na usina sejam sanadas e que seja dada indenização aos trabalhadores.
De acordo com ele, a Seresta descumpriu um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) e deve ser multada. Até agora, foram inspecionadas pela força-tarefa oito usinas em Alagoas.
O consultor da Seresta, Cariolando Guimarães, classifica de "absurdas" as supostas irregularidades. Sobre as luvas, diz que o Nordeste "é muito quente". "O homem não usa a luva na mão do facão. Não adianta dar que ele não vai usar."
Diz que há banheiros, chamados de "pipi móveis". "Só um que não tinha um buraco, porque o responsável ficou com preguiça e não fez o furo. Mas estava com papel higiênico, tudo certinho." Segundo ele, nunca houve problemas com a pesagem da cana. Guimarães diz ainda que "nenhuma usina em Alagoas" paga o deslocamento de casa para o trabalho e vice-versa. "A Seresta já dá ônibus, faz o transporte dele."
A assessoria de Teotonio Vilela Filho diz que ele se afastou da administração da usina desde o primeiro mandato como senador, conquistado em 1986, e, por isso, não se manifestaria.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Blitz em Alagoas liberta mais 550 trabalhadores de usinas

Folha de S.Paulo - Blitz em Alagoas liberta mais 550 trabalhadores de usinas - 29/02/2008


THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

Fonte: Folha de São Paulo

Foto: Gianne Carvalho
Força-tarefa encontrou empregados alojados em locais insalubres e sem água potável

"Os trabalhadores dormiam no chão, grudados um no outro, igual a uma cela superlotada", afirmou Luiz Carlos Cruz, do grupo móvel

Em uma megablitz em usinas de cana-de-açúcar em Alagoas, uma força-tarefa do Ministério Público do Trabalho e do grupo móvel do Ministério do Trabalho encontrou mais de 550 trabalhadores em condições degradantes em Rio Largo, Marechal Deodoro e Cajueiro.

Na sexta-feira, já havia ocorrido uma operação na usina Laginha, do grupo João Lyra (candidato derrotado ao governo do Estado pelo PTB e um dos maiores usineiros do país), em União dos Palmares. No início, foram alcançadas 61 pessoas, mas, como oito delas não moravam nos alojamentos, o número final de resgatados foi 53, segundo o grupo móvel.
No local, os fiscais dizem ter encontrado trabalhadores sem equipamentos de proteção, vivendo em alojamentos insalubres e sem água potável. Ontem, o corte da cana-de-açúcar foi interditado pela Justiça.
Outra fiscalização também envolveu um dos grandes grupos do Estado: o Toledo.

Nas usinas Capricho e Sumaúma, cerca de 200 pessoas foram encontradas em alojamentos precários, de acordo com os fiscais.
"Com certeza, a situação ali nos alojamentos era a pior de todas, insuportável. Os trabalhadores dormiam no chão, grudados um no outro, igual a uma cela superlotada", afirmou o subcoordenador do grupo móvel, Luiz Carlos Cruz.
De acordo com o auditor, a primeira operação no setor sucroalcooleiro no Nordeste mostra que "não há como vender álcool para o exterior com esse tipo de procedimento". "Há descumprimento dos direitos humanos", afirma.

O álcool vendido pelo grupo Toledo tem como principais destinos a América do Norte, o Japão e a Coréia. Segundo o grupo móvel, uma outra operação, na usina Santa Clotilde, no município de Rio Largo, também verificou 353 trabalhadores em condição degradante. Em razão de uma liminar, os contratos ainda não foram rescindidos.

Os auditores-fiscais afirmam que os quartos onde dormiam os homens não tinham janelas -apenas frisos na parte superior da parede-, as camas de cimento possuíam apenas espuma e só era fornecido feijão como alimento. De acordo com os fiscais, os trabalhadores dizem que se sentiam "humilhados", como "escravos".

Nesta semana, várias usinas de álcool e açúcar estão sendo inspecionadas pela força-tarefa. A operação foi batizada pelo Ministério Público do Trabalho de "Zumbi dos Palmares".

Os resgates em Alagoas já correspondem a 10% do total de libertações feitas pelo grupo móvel em todo o ano passado (5.877). Em 2007, mais da metade das pessoas resgatadas em condições degradantes ou análogas à escravidão no Brasil (3.117) saíram de usinas de cana-de-açúcar.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Demissão ocasionada por flatulência é anulada em SP

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃODA REPORTAGEM LOCAL
Fonte: Folha de São Paulo

A demissão por justa causa de uma funcionária que, segundo a empresa, excedia-se em flatulência no ambiente de trabalho foi pelo ares.Juízes da 4ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo decidiram pela readmissão da empregada e pelo pagamento de R$ 10 mil por danos morais.Para basear o voto, o relator do processo, juiz Ricardo Artur Costa e Trigueiros, recorreu a um artigo em que o médico Drauzio Varella afirmava que a emissão de gases intestinais não é doença.

Segundo ele, a emissão de gases é "involuntária" e, "embora gere constrangimento e piadas, não há de ter reflexos na vida contratual"."A flatulência pode estar associada à reação de organismos sadios, sendo sinal de saúde. [A demissão] pune indiscretas manifestações da flora intestinal sobre as quais empregado e empregador não têm pleno domínio", diz a decisão.O processo teve origem na vara trabalhista de Cotia (na Grande São Paulo).O juiz cita ainda o livro de Jô Soares "O Xangô de Baker Street", em que Dom Pedro 2º soltava gases na corte.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Foto: Vinicius Pimentel/Agência RBS

Parte de shopping em obras cai e fere oito operários em Passo Fundo, RS - 27/02/2008 - UOL Últimas Notícias

Da Redação do UOL Notícias
Em São Paulo

A queda de um andar na obra de ampliação do shopping center Bella Cittá deixou oito operários feridos na tarde desta quarta (27) no centro de Passo Fundo, Rio Grande do Sul.

Segundo os bombeiros, nenhuma das vítimas ficou gravemente ferida.

Ainda segundo os bombeiros, os operários estavam concretando o quarto andar do prédio e o piso não suportou o peso do material. O estrondo provocado pela queda assustou pessoas da redondeza. "A gente parou de trabalhar e correu pra janela para ver o que acontecia. Só vi muita poeira e o concreto amontoado", disse o estudante Alexandre Brodt, 19, ao "Zero Hora".

O shopping informou por meio de sua assessoria que a obra é de responsabilidade de uma empresa terceirizada, a Bolsa Construções e Incorporações. Também através de sua assessoria, a Bolsa afirmou que a queda foi um acidente relativamente grave, mas que não causou grandes danos. Algumas correções devem ser feitas, mas os obras continuam normalmente, afirmou a empresa.

220 ambulâncias novas estão paradas em SP



Folha de S.Paulo - 220 ambulâncias novas estão paradas em SP - 27/02/2008
Parte foi doada pelo Ministério da Saúde a prefeituras do país, que, segundo a pasta, não foram retirá-las

CLÁUDIA COLLUCCI
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

- Fonte: Folha de São Paulo

Ao menos 220 ambulâncias novas do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) estão há seis meses paradas, ao ar livre, em terrenos de empresas privadas na zona leste de São Paulo e em Tatuí (141 km da capital paulista). Parte dos veículos foi doada pelo Ministério da Saúde a prefeituras do país, que, segundo a pasta, ainda não foram retirá-las.
Em São Paulo, há 66 ambulâncias em uma área de terra e mato em Cangaíba. O terreno é da Revescap, empresa responsável pela montagem e padronização dos veículos. Quarenta deles foram doados à Secretaria Municipal da Saúde da capital.
Segundo a prefeitura, as ambulâncias ainda não foram retiradas porque a doação só foi oficializada no último dia 18 e não houve tempo para a liberação pelo Detran. Até sexta-feira, diz a prefeitura, as ambulâncias serão emplacadas e devem substituir outras mais antigas.


O Ministério da Saúde alega que enviou a São Paulo, no dia 17 de dezembro, o termo de doação das ambulâncias e a autorização da retirada dos veículos e que só recebeu os documentos assinados pela Secretaria da Saúde há uma semana. A prefeitura diz que a documentação foi encaminhada ao ministério no dia 2 de fevereiro e só retornou à capital no dia 18.
"É um absurdo que [as ambulâncias] fiquem no meio do mato enquanto tantas pessoas precisam de atendimento médico e têm que esperar muito tempo para recebê-lo", diz o comerciante Wllian de Lima, 33, vizinho da Revescap.


O gerente comercial da empresa, Julio Lima, diz que os veículos receberam uma proteção especial de cera que impede a deterioração da pintura e que não há danos provocados por estarem entre mato e terra.
A Secretaria Municipal da Saúde afirma que não há falta de ambulâncias na cidade.
Os outros 26 veículos que estão na capital paulista pertencem a Distrito Federal, Betim (MG), Sousa (PB), Marabá (PA) e Porto Alegre (RS). Segundo o ministério, os governos locais fizeram licitações para contratar o transporte das ambulâncias a suas cidades. A pasta, no entanto, não sabe quando elas serão retiradas.
Em Tatuí, há 154 ambulâncias do Samu no pátio da empresa Rontan. Elas pertencem ao estoque do Ministério da Saúde e, segundo a pasta, serão entregues a novos serviços.

Com a palavra, o paciente do SUS

LUIZ ROBERTO BARRADAS BARATA



Folha de S.Paulo - Luiz Roberto Barradas Barata: Com a palavra, o paciente do SUS
- 27/02/2008

Queremos ouvir a população de maneira sistemática e ampla para saber o que está funcionando bem e o que precisa melhorar na rede.

NO UNIVERSO do setor privado, ganham cada vez mais requintes as pesquisas de satisfação, serviços de atendimento ao consumidor, avaliação do "marketshare" e desempenho das equipes de cada departamento. São ferramentas indispensáveis que embasam decisões, para orientar novos posicionamentos, redefinir estratégias, conquistar nichos de mercado ou ampliar a fidelidade dos clientes.


É verdade que o setor público também já adotou mecanismos similares há um bom tempo, para aprimorar os serviços prestados aos cidadãos. Na área da saúde, por exemplo, os hospitais estaduais de São Paulo possuem ouvidoria própria, e muitos deles realizam pesquisas internas com pacientes e familiares para verificar o que está bom e o que precisa ser melhorado em relação ao atendimento de médicos e demais funcionários, acomodações, infra-estrutura e serviços.


Neste ano, em que o SUS (Sistema Único de Saúde) está completando 20 anos, chegou a hora de ampliar o espaço para que os cidadãos atendidos na rede pública de saúde possam manifestar sua opinião quanto ao atendimento oferecido pelos hospitais estaduais, municipais, federais e filantrópicos do Estado de São Paulo, que realizam nada menos do que 200 mil internações em média por mês para o SUS paulista.


A partir deste mês de fevereiro, todos os pacientes que forem internados pelo SUS receberão em suas residências, após a alta hospitalar, um formulário contendo seus dados pessoais, o hospital em que receberam o tratamento, as datas de admissão e de alta, o motivo da internação e o valor pago pelo SUS/SP.

Haverá cinco perguntas específicas sobre a qualidade do procedimento médico realizado, o tempo de espera para exame e internação, a avaliação do local de tratamento e o grau de satisfação com o atendimento prestado por médicos, enfermeiros e auxiliares.


O Programa de Satisfação dos Usuários do Sistema Único de Saúde do Estado de São Paulo e Monitoramento da Qualidade da Gestão dos Serviços será um verdadeiro "provão", que envolverá os 617 hospitais paulistas conveniados aos SUS, com o objetivo de monitorar a qualidade de atendimento e a satisfação do usuário, reconhecer os bons prestadores, identificar possíveis irregularidades e ampliar a capacidade de gestão eficiente da saúde pública no Estado.


Os primeiros a avaliar os hospitais serão os pacientes que foram internados em novembro de 2007. As unidades com melhores avaliações serão premiadas pela Secretaria de Estado da Saúde. Já os hospitais com avaliações insatisfatórias receberão orientações técnicas e terão os profissionais treinados pelo Estado para que possam modificar e aperfeiçoar suas condutas. No entanto, em caso de irregularidades, os hospitais poderão ser penalizados com multa, perda de auxílio financeiro e até mesmo o descredenciamento junto ao SUS.


Pela pesquisa será possível identificar, por exemplo, se o paciente pagou algum valor pelo procedimento médico realizado ou se as informações prestadas pelo hospital diferem do tipo de atendimento que o usuário efetivamente recebeu. A partir do cruzamento desses dados, a secretaria poderá identificar indícios de fraudes que, se comprovadas, irão gerar sanções, seja aos profissionais envolvidos, seja à própria unidade.


Na correspondência encaminhada pelo governo paulista aos usuários do SUS, haverá um código de identificação de cada usuário. O paciente poderá responder a pesquisa pelo correio, por telefone ou pela internet, sem qualquer custo. É fundamental, portanto, que todos aqueles que receberem o formulário confiram os dados impressos e dediquem alguns minutos a responder as questões da pesquisa, contribuindo, assim, para aprimorar a assistência médica e hospitalar e afastar os maus prestadores.


Com essa iniciativa, queremos ouvir a população de forma sistemática e ampla para saber o que está funcionando bem e o que deve melhorar em todos os serviços de saúde da rede pública. Dessa forma, teremos elementos para reordenar ações e redimensionar o atendimento prestado pelo SUS em todo o Estado, em favor de todos os paulistas.


LUIZ ROBERTO BARRADAS BARATA, 54, médico sanitarista, é secretário de Estado da Saúde de São Paulo.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Estudo aponta que antidepressivos têm baixa eficácia


Folha de S.Paulo - Estudo aponta que antidepressivos têm baixa eficácia - 26/02/2008
Análise de dados não-divulgados por laboratórios sugere que remédios como o Prozac aliviam poucos pacientes.

Resultados mostraram que as drogas só serviram nos pacientes gravemente deprimidos; fabricantes contestam a pesquisa.

JEREMY LAURANCE
DO "INDEPENDENT"



Eles estão entre as drogas mais vendidas de todos os tempos -são "pílulas da felicidade", que supostamente levantam o ânimo daqueles que sofrem de depressão-, mas um dos maiores estudos sobre os antidepressivos modernos concluiu que eles não têm efeito clínico significativo.


O achado deve abalar médicos e pacientes e levanta questões sérias sobre a regulamentação das empresas farmacêuticas multinacionais, que foram acusadas ontem de esconder dados sobre essas drogas.


A popularidade da atual geração de antidepressivos, conhecidos como inibidores seletivos de recaptação de serotonina -entre os quais estão algumas das drogas mais vendidas do mundo, como o Prozac e o Serotax- decolou depois de seu lançamento, nos anos 1980.


Eles foram pesadamente promovidos como medicamentos mais seguros e com menos efeitos colaterais do que os velhos antidepressivos tricíclicos.


No novo estudo, cientistas conduziram uma metaanálise de 47 testes clínicos de medicamentos, publicados e não-publicados, submetidos à FDA (agência que regulamenta drogas e alimentos nos Estados Unidos), feitos para subsidiar pedidos de licença para seis dos principais antidepressivos, incluindo o Prozac, o Serotax e o Efexor.


Os resultados mostraram que as drogas só serviram em um grupo pequeno de pacientes, os gravemente deprimidos.
Irving Kirsch, da Universidade de Hull, que liderou o estudo, publicado on-line na revista "PLoS Medicine", afirma que os dados submetidos à FDA teriam passado ainda por autoridades de saúde da Europa.


Eles mostraram que os medicamentos produzem melhora "muito pequena" em comparação com placebo: só 2 dos 51 pontos da escala de depressão de Hamilton.
Isso bastou para que a licença fosse concedida, mas ficou aquém do mínimo de três pontos requeridos pelo Instituto Nacional de Excelência Clínica do Reino Unido para estabelecer "significância clínica".


Mesmo assim, o instituto aprovou as drogas para uso no Reino Unido porque apenas teve acesso aos testes publicados, que mostravam um efeito maior dos medicamentos.
"Diante desses resultados, parece haver pouca razão para prescrever antidepressivos a quaisquer pacientes, exceto os mais deprimidos, a menos que tratamentos alternativos tenham falhado", disse o líder do estudo. Segundo ele, as farmacêuticas seguraram dados disponíveis a autoridades de saúde, de modo que médicos e pacientes não entendiam a verdadeira eficácia das drogas.



Outro lado


A GlaxoSmithKline, fabricante do Serotax, disse que os autores do estudo "falharam em reconhecer" os benefícios dos antidepressivos e suas conclusões "conflitam com a prática clínica". A Eli Lilly, que fabrica o Prozac, declarou em nota: "Experiências médicas e científicas extensas demonstraram que a fluoxetina é um antidepressivo eficaz". A Wyeth, que faz o Efexor, diz que reconhece "a necessidade de tratamentos farmacológicos e não-farmacológicos para a depressão".