quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Clima precisa de R$ 507 bi ao ano até 2020, diz Europa

Clima precisa de R$ 507 bi ao ano até 2020, diz Europa

Proposta da UE para Copenhague pede a países pobres que desacelerem emissões

Plano não diz quanta verba as nações do bloco podem dar para financiar mitigação da mudança climática nos países do Terceiro Mundo

Fonte: Folha de São Paulo

DA REDAÇÃO

Frear o aquecimento global durante a próxima década exigirá até 175 bilhões por ano (R$ 507 bilhões) em recursos adicionais até 2020, metade deles aplicados em países em desenvolvimento. O cálculo é da União Europeia, que apresentou ontem suas propostas para uma ação internacional no combate às emissões de gases de efeito estufa.
O conjunto de ações será levado pela UE à conferência do clima de Copenhague, em dezembro, que deverá definir o combate à mudança climática após 2012, quando o Protocolo de Kyoto expira.
"Esta é quase certamente a última chance de colocar o clima sob controle antes que ele passe do ponto de não-retorno", disse o comissário europeu do Ambiente, Stavros Dimas, ao pedir que os negociadores em Copenhague proponham cortes mais profundos -e custosos- nas emissões.
No documento apresentado ontem por Dimas, a UE reitera sua posição de evitar que o aquecimento do planeta neste século ultrapasse o limite de 2C acima da média na era pré-industrial. Para isso, chama os países desenvolvidos a adotarem a meta europeia de 30% de corte de emissões abaixo dos níveis de 1990 até 2020.
Uma das principais novidades da proposta, no entanto, é delinear ações a serem adotadas pelos países em desenvolvimento, especialmente Brasil, China e Índia. Embora não exija que essas nações abracem metas obrigatórias de redução de emissões, a proposta da UE sugere que os países mais avançados do mundo em desenvolvimento desacelerem suas emissões, reduzindo-as de 15% a 30% abaixo da trajetória atual até 2020. Esses países deveriam delinear "estratégias nacionais de desenvolvimento de baixo carbono", a serem verificadas por um novo órgão internacional, o Mecanismo Facilitador de Apoio à Mitigação.

Discurso e prática
O plano da UE, no entanto, não diz quanto as nações ricas poderiam dar às nações em desenvolvimento para ajudá-las na transição para uma economia de baixo carbono. Versões anteriores do documento falavam em US$ 200 bilhões entre 2013 e 2020, cifra que teria sido suprimida por pressões internas, devido à recessão na UE -o que Dimas negou ontem.
Além disso, na última conferência do clima, em dezembro passado na Polônia, os países ricos se opuseram a liberar mais dinheiro para o fundo de adaptação à mudança climática que já existe pelo Protocolo de Kyoto -e que hoje funciona com US$ 40 milhões, menos de um milésimo do que seria necessário. Segundo diplomatas de países em desenvolvimento, a sinalização financeira para Copenhague é "péssima".


Com agências internacionais

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Fórum Social Mundial foca 1º dia na Amazônia; quilombolas aparecem para a discussão

Fonte: Uol.com.br

A questão amazônica domina o primeiro dia de atividades do FSM (Fórum Social Mundial), sediado em Belém (Pará), justamente pela proximidade com o tema. E o foco principal ficou por conta da denúncia de comunidades indígenas, tanto do Brasil quanto do Peru e do Equador, sobre a ação do agronegócio e das mineradoras na região.

Mas no meio dos representantes dos índios estava um líder de uma população da floresta muitas vezes ignorada: os quilombolas. Eles são remanescentes dos escravos que escaparam das fazendas e adentraram na mata para formar sociedades. "Nossos antepassados fugiram, mas nós temos que mostrar a cara e mostrar que somos um dos grandes especialistas em Amazônia", sentenciou Daniel Souza, líder dos quilombolas do Pará.

Segundo ele, há 302 comunidades de descendentes dos quilombos no Estado. "Quem destrói a região são as grandes empresas de agronegócio e as mineradoras. Eles têm que pagar pelo preço", aponta Souza.

Grandes impulsionadoras da Bolsa de Valores brasileira, a Vale e a Petrobras vão estar no olho do furacão. Além de mesas de discussão, já estão programadas manifestações contra essas empresas. Apesar de patrocinadora do Fórum, a Petrobrás já é alvejada por sindicalistas dos petroleiros, que montaram barracas vendendo camisetas pedindo o fim das parcerias da estatal com multinacionais estrangeiras.

"A Vale destrói muito mais a Amazônia que os povos que vivem por lá. Eles contribuem com algumas ações sociais, mas é pouco ainda", queixa-se Souza.

Além dos indígenas e quilombolas, os ribeirinhos (população cabocla que mora em comunidades à beira dos rios) também marcam presença no Fórum. A participação deles teve apoio estatal, bancando o deslocamento e a hospedagem na capital paraense. Várias atividades culturais mostraram o modo de vida dessas populações para os frequentadores do evento, idealizado em 2001 como contestação ao Fórum Econômico Mundial, que acontece anualmente em Davos (Suíça) e reúne empresários e governantes.

No começo de 2007, uma reunião dos organizadores em Berlim (Alemanha) escolheu a cidade de Belém como sede do Fórum de 2009. O tema do aquecimento global seria o foco com esse cenário. Entretanto, após a crise econômica dos EUA a partir de setembro, boa parte dessa agenda voltou-se para o capitalismo. Mesmo assim, o viés ecológico ficou forte no primeiro dia, com divulgações de pesquisas por parte de ONGs e institutos ligados ao tema ambiental.

AL perderá 2,4 milhões de empregos, diz OIT

Fonte: Folha de São Paulo

A crise internacional deverá anular a expansão do mercado de trabalho na América Latina e Caribe em 2008, fazendo com que a taxa de desemprego ao final deste ano retorne ao patamar de 2007.
Isso significa que o número de trabalhadores desempregados da região aumentará até 2,4 milhões pessoas em 2009.
A previsão faz parte da análise que a OIT (Organização Internacional do Trabalho) divulga anualmente sobre o comportamento do mercado de trabalho. Segundo o Panorama Laboral de 2008, a taxa de desemprego caiu de 8,3%, em 2007, para 7,5% nos países da América Latina e Caribe no ano passado. Para 2009, projeta-se que o índice volte, no pior cenário, para 8,3%.
"Se isso se concretizar, será sem dúvida um retrocesso. Em 2008, chegamos ao nível mais baixo de desemprego na região desde 1992, depois de cinco anos contínuos de resultados positivos, com queda nas taxas. Infelizmente, detectamos sinais de que a crise chegou ao mercado de trabalho", afirmou a representante da OIT no Brasil, Laís Abramo.
Na avaliação da organização internacional, mulheres, negros e jovens são os mais expostos a riscos e, em um quadro de crise, são os primeiros a perderem suas vagas. "E os que mais têm dificuldades para depois recuperá-las", disse Abramo.
Além disso, afirmou ela, há uma tendência à precarização das relações de trabalho em situações turbulentas como a atual. "A solução para a crise não pode ser a precarização do trabalho. Isso tem um efeito mais negativo ainda para acentuar o processo de desaceleração da economia", disse a representante da OIT ao comentar a discussão entre empresários e trabalhadores brasileiros sobre a redução da jornada de trabalho e de salários.

Pico
Embora desde setembro a crise venha causando estragos no mercado de trabalho latino-americano -no Brasil, em especial nos meses de novembro em dezembro-, a OIT avalia que ainda não é possível afirmar se o pico das demissões já passou. Em dezembro, o Brasil perdeu mais de 654 mil postos com carteira assinada.
As projeções do Panorama Laboral referem-se ao mercado de trabalho formal e informal, mas não há dados por país. Para a organização, porém, o Brasil se encontra em situação mais favorável do que seus vizinhos para atravessar a crise.
Ontem Abramo se reuniu com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, para apresentar o Panorama Laboral e discutir medidas anticrise.

Físicos da Unicamp criam "sanfona" nanométrica

Fonte: Folha de São Paulo

Estrutura com 3 átomos de largura estica e encolhe

Daniel Ugarte/Unicamp

Desenho mostra átomos de prata (esferas) na nova estrutura

DA REPORTAGEM LOCAL

Cientistas brasileiros que estudam materiais na escala nanoscópica -da ordem de milionésimos de milímetro- incorporaram mais um objeto ao repertório da nanotecnologia: depois dos nanotubos e dos nanofios, uma nanossanfona.
Manipulando pequenas concentrações de átomos de prata, o grupo do físico Daniel Ugarte, da Unicamp, criou uma estrutura em quadrados capaz de esticar e depois se recolher. E a molécula, assim como o fole do instrumento musical, é oca.
"Relatamos a formação espontânea do menor nanotubo de metal possível com uma secção transversal quadrada durante o alongamento de prata", escrevem Ugarte e colegas na revista "Nature Neuroscience".
O experimento onde a estranha estrutura molecular foi observada foi "como separar um chiclete em dois pedaços", explica o físico. Uma minúscula porção de prata é esticada até se romper. Durante uma breve fase intermediária do processo, formam-se fios com poucos átomos de espessura antes de os dois pedaços do metal se separarem definitivamente.
Para observar como os átomos se comportam, os pesquisadores usaram um microscópio de alta resolução. Mesmo sendo ultrapotente, o instrumento não fornece imagem nítida do material, e a determinação da estrutura é feita com cálculos que explicam as imagens.
Ugarte havia usado uma técnica similar em experimentos realizados em 2002, quando produziu nanofios de ouro com um átomo de diâmetro. O objetivo de seu grupo é entender como materiais se deterioram, porque nanoestruturas têm grande potencial de aplicação. A descoberta da nanossanfona, porém, não havia sido prevista por modelos de computador.
"A gente fez um experimento em condições diferentes", disse Ugarte. "Obtivemos uma imagem que não conseguiríamos explicar com uma estrutura normal. A única forma de explicar os dados foi admitir que a estrutura seria oca."
Segundo os físicos, a estrutura não é muito estável e só existe enquanto os átomos de prata são mantidos sob tração. Isso a impede de ganhar aplicações práticas como as dos nanotubos de carbono -material já usado em peças de máquinas que requerem alta resistência.
Segundo Ugarte, por enquanto, o mérito de seu novo trabalho é mostrar como a física experimental é importante numa área onde se deposita confiança demais nas previsões feitas por computador.
"As coisas muito pequenas podem se comportar de maneira diferente do que a gente pensa sobre elas num sistema clássico macroscópico", diz. (RG)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Trabalhador vai receber carta com aviso de aposentadoria, afirma Lula

Trabalhador vai receber carta com aviso de aposentadoria, afirma Lula

YGOR SALLES
Fonte: Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu nesta terça-feira que, a partir de junho, o trabalhador que ultrapassar o tempo de serviço mínimo para aposentadoria vai receber uma correspondência avisando que já pode obter o benefício.
"[O beneficiário] vai receber, quando tiver tempo de serviço, uma carta avisando que pode se aposentar e até de quanto será o seu 'salário', para a pessoa decidir se quer [se aposentar] ou prefere trabalhar mais um pouco", disse Lula, durante evento de reinaguração de uma agência da Previdência Social na Vila Mariana, zona sul da cidade de São Paulo.
O presidente ainda prometeu para junho agilizar o prazos de concessão de aposentadoria dos trabalhadores rurais para 30 minutos, assim como já ocorre com os trabalhadores urbanos e com as beneficiários do salário-maternidade.
Filas
Durante a cerimônia, o presidente afirmou que acabar com as filas da Previdência é sua prioridade desde 2006, quando a imprensa noticiava constantemente a demora no atendimento das agências.
Entre as medidas tomadas desde esse ano, segundo ele, está o investimento de R$ 280 milhões para modernizar o Dataprev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social).
Ainda segundo Lula, a Previdência também retomou a contratação de médicos peritos e a criação de um "call center". "A média hoje [para marcar consulta com médico perito] é de cinco dias", disse Lula. Antes, segundo ele, a demora era de meses.
O presidente pediu que os demais ministérios e os bancos oficiais agilizem seu atendimento aos clientes, assim como fez a Previdência Social. "Os bancos e os ministérios precisam trabalhar para que as coisas fluam como estamos vendo fluir aqui".

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

TENDÊNCIAS/DEBATES

Fonte: Folha de São Paulo - 27/01/09

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


Um crime que persiste há dez anos

JOSÉ ARISTODEMO PINOTTI


É o próprio negócio da China: o SUS faz o atendimento e o usuário paga a operadora do plano de saúde


NÃO SEI qual é o limite da irresponsabilidade no meu país. Darei um exemplo fictício e depois me referirei ao fato. Um ladrão e sua gangue roubam o Estado, na área da saúde, durante dez anos, com estratégia perfeita e proteção garantida; o tempo passa, uma prova aqui, outra ali, e eles se sentem inseguros. O chefe do grupo lidera a correção do grande e contínuo furto, como se ele não tivesse existido ou como se não existissem culpados nem lesados. Os jornais publicam, o povo aplaude.
O leitor deve estar lembrando de vários fatos recentes que aí se encaixam. Vou mencionar apenas um, que é o "ressarcimento" determinado pela lei 9.656, de 1998, e que rouba do SUS cerca de R$ 2 bilhões por ano, além do espaço nos únicos hospitais reservados aos seus pobres pacientes. A lei determina o óbvio (artigo 32): que todos os procedimentos a que o usuário de plano de saúde tem direito pela operadora e são feitos no SUS devem ser ressarcidos -não pelo paciente, lógico, mas pela operadora. A responsável legal pelo recolhimento é a ANS (Agência Nacional de Saúde).
Pois bem, nesses dez anos, ele nunca foi feito por inteiro tampouco eficientemente. A ANS só cobra internações, deixando de lado o mais caro, que são os procedimentos ambulatoriais de alto custo (quimioterapias, hemodiálises, radioterapias, tomografias etc.), como ficou provado em duas auditorias do TCU (acórdãos 771/2005 e 1.146/2006).
Minha luta contra esse crime à saúde dos brasileiros é conhecida no Parlamento (16 discursos, projetos de lei, artigos etc.). Em todas as tentativas fui vencido por ouvidos moucos, lobbies eficientes e leniência da ANS, para dizer pouco, até que resolvi atuar de modo diferente. E foi isso que motivou a ANS (como na historinha que contei) a mudar cinicamente de posição, com mínimos efeitos práticos até agora, e mandar notícias para os jornais, sem constrangimento. Ao assumir a presidência da Comissão de Fiscalização e Controle (CFC), com a preciosa ajuda do TCU e dos sérios deputados lá presentes (da oposição e da base do governo), aprovamos duas audiências públicas, nas quais ouvimos a confissão despudorada do representante das operadoras e do presidente da ANS de que não cumprem a lei 9.656/98.
O TCU mostrou, sem contestação, que mais da metade não é cobrada quando a ANS deixa de lado ilegalmente os procedimentos ambulatoriais e, do cobrado, o SUS recebe menos de 20%, com atrasos frequentemente maiores do que cinco anos. É o próprio negócio da China: o SUS faz o atendimento e o usuário paga a operadora. Dez anos! A desculpa esfarrapada de ambos (ANS e operadoras) é a existência de uma Adin no Supremo Tribunal Federal, mas que de forma nenhuma invalida a lei 9.656/98 (seria fácil derrubar todas as leis simplesmente formulando Adins). Outra desculpa da ANS, inacreditável, é a dificuldade de cobrança. Será que os planos têm dificuldades de cobrar 30 milhões de usuários, o governo, de receber as taxas e impostos de 180 milhões de brasileiros, e os bancos, de cobrar suas taxas e juros?
A máscara caiu. O deputado Juvenil, infenso a lobbies, formulou um processo de fiscalização e controle que foi aprovado. Mandamos um expediente para o Ministério Público e procurei informar o STF sobre a questão. Só assim os bandidos saíram da toca e querem agora demonstrar publicamente que desejam fazer correções. Quero ver quem paga o prejuízo financeiro de dez anos ao SUS e as vidas perdidas.
Essa questão deve envolver mais de R$ 2 bilhões anuais, pelos cálculos da oposição de sete anos atrás, pelos dados que coletei de 12% e 15% dos usuários com planos em dois hospitais públicos de São Paulo, que dirigi, e pelos dados obtidos pelo TCU. Chego até a entender o apetite das operadoras, pela lógica imperativa do lucro e imersas nesse processo feroz de privatização consentida da saúde brasileira. Entendo a passividade dos usuários do SUS, que não compreendem, pela complexidade do processo, por que seu atendimento é precário.
Mas é impossível entender: a ANS, órgão governamental, que participa com ilegalidade, leniência e incompetência; parte do Congresso, que tem se rendido a esse lobby; e os governos, os quais venho prevenindo há tanto tempo. Todos eles poderiam, mas não fizeram nada para coibir esse crime praticado contra o próprio governo e, especialmente, contra os usuários pobres do SUS.


JOSÉ ARISTODEMO PINOTTI, 74, é deputado federal (DEM-SP), professor emérito da USP e da Unicamp e membro da Academia Nacional de Medicina. Foi secretário de Ensino Superior (governo Serra), da Saúde (governo Quércia) e da Educação (governo Montoro) do Estado de São Paulo, reitor da Unicamp e presidente da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia.

TENDÊNCIAS/DEBATES

Fonte: Folha de São Paulo - 27/01/09

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


Fórum Social Mundial na Amazônia

ODED GRAJEW


Em 2001, o neoliberalismo era glorificado, e a 1ª edição do Fórum Social Mundial era ridicularizada por "analistas" econômicos e políticos


A PARTIR de amanhã até 1º de fevereiro, a cidade de Belém, no Pará, passa a ser a capital da região pan-amazônica (composta por Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa) e vai abrigar a nona edição do Fórum Social Mundial. O FSM foi criado para se contrapor ao modelo de desenvolvimento dominante, enaltecido e propagado pelo Fórum Econômico Mundial, de Davos, que sempre combateu qualquer controle e regulação que pudessem inibir a "liberdade" do mercado. A primeira edição do FSM foi realizada em 2001 em Porto Alegre (RS). Naquele momento, o neoliberalismo era glorificado. O então presidente da Argentina, Carlos Menem, era recebido com tapete vermelho em Davos, e suas políticas eram enfaticamente recomendadas para todos os países "em desenvolvimento". Os idealizadores, organizadores, apoiadores e participantes do FSM eram ridicularizados por boa parte dos "analistas" econômicos e políticos. Eram tachados de retrógrados que só sabiam criticar, mas que não tinham nenhuma alternativa a propor. Porém, já na primeira edição, milhares de participantes vindos de dezenas de países se organizaram em mais de 1.500 oficinas, debates, conferências e seminários que denunciavam os problemas e os riscos para as pessoas, a economia, a democracia, o meio ambiente e a paz mundial do modelo de desenvolvimento vigente. Ao mesmo tempo, propunham e apresentavam práticas e políticas que apontavam para a justiça social, a democracia participativa e o desenvolvimento sustentável. Infelizmente, uma parte da mídia tentou desqualificar o evento, dando visibilidade apenas aos protestos e às críticas, sem mostrar as propostas e as alternativas. Procurou folclorizar o FSM, destacando, por exemplo, um rapaz que viajou milhares de quilômetros para tocar violão à beira do rio Guaíba, vendedoras de produtos artesanais, namoros no acampamento da juventude, factóides políticos. Felizmente, outra parte da mídia tradicional, a mídia alternativa e as ações de comunicação das organizações sociais conseguiram repercutir adequadamente a programação, o conteúdo e o sentido do evento, contribuindo decisivamente para o enorme crescimento qualitativo e quantitativo e para a rápida expansão geográfica do FSM. A mensagem "um outro mundo é possível" ganhou corações e mentes, mudou a agenda política, social e ambiental em muitos países, promoveu um forte questionamento do modelo econômico e civilizatório e da legitimidade das guerras e da violência. Foi construído um espaço mundial que se desdobra continuamente em processos locais, regionais e temáticos que oferecem aos participantes a oportunidade de debater, visibilizar propostas e práticas e se articular para ganhar a força política e social para viabilizar as decisões tomadas. A escolha da região pan-amazônica se deve a seu papel estratégico para toda a humanidade, por deter imensas riquezas culturais e ambientais em risco de aniquilação, mas que podem alimentar um novo modelo de civilização. A região abriga a maior biodiversidade do planeta, ameaçada de extinção e essencial ao equilíbrio climático e ambiental mundial. Será a oportunidade de perceber que o atual colapso financeiro, os conflitos armados e a degradação ambiental fazem parte de uma mesma crise de valores decorrente do modelo de desenvolvimento que privilegia a competição, sem limites e a qualquer custo, pelo poder e pelo acúmulo de bens materiais. Essa luta, em que impera a lei do mais forte, degrada o tecido social, pelo aumento da distância entre ricos e pobres; fomenta crises econômicas, alimentadas pela desconfiança generalizada e pelo clima de salve-se quem puder; corrompe a sociedade e os governantes, que necessitam cada vez mais do poder econômico para se elegerem; arrasa o meio ambiente, aquece o planeta e esgota os recursos naturais, vitais para a sobrevivência das espécies; acirra os conflitos estimulados pelo ambiente competitivo, pelos interesses econômicos e políticos que lucram com as guerras, pela luta cada vez maior pela posse de recursos naturais e de fontes de energia, pela pobreza e desinformação que facilitam a manipulação das massas e degradam a democracia. O FSM em Belém, uma cidade que carrega um nome tão repleto de simbolismos, poderá ser um marco na renovação e no fortalecimento de nossas esperanças para o nascimento de um mundo solidário, justo, sustentável, democrático e pacífico.


ODED GRAJEW, 64, empresário, é um dos integrantes do Movimento Nossa São Paulo e presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. É idealizador do Fórum Social Mundial e idealizador e ex-presidente da Fundação Abrinq. Foi assessor especial do presidente da República (2003).

Frases

Fonte: Folha de São Paulo - 25/01/09

Não se deve fazer vários cursos sem ter objetivos claros e planejamento


WILSON CAMPOS coordenador técnico do Diesat

Quem trabalha em linha de produção tem mais concentração. Pontualidade e seriedade também devem ser valorizadas no currículo e na entrevista

JORGE REIS
coordenador de treinamento e seleção da Plus Advance

Investir em capacitação pede planejamento

Fonte: Folha de São Paulo - 25/01/09

Cursos de qualificação ou formação podem ser uma alternativa para o trabalhador que perdeu o emprego ou teve seu contrato suspenso.
Empresas, federações e sindicatos, além de escolas, são pontos de partida para procurar salas de aula.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) anunciou no início do mês que irá disponibilizar 100 mil vagas de cursos gratuitos do Senai-SP (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) para funcionários em suspensão ou redução de jornada.
Entretanto, é preciso cautela na hora de escolher o curso, diz Wilson Campos, coordenador técnico do Diesat (Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho).
"Não se devem fazer vários cursos sem ter objetivos claros. Deve-se analisar onde é possível aprimorar e se essa qualificação será necessária", diz.
Natália Nobre, 22, recém-demitida do setor bancário, planeja agora iniciar uma pós-graduação. "Retomei minha rede de contatos, mas todos dizem que é momento de demissão."

Qualidades
Jorge Reis, coordenador de treinamento e seleção da Plus Advance, ressalta que mesmo o trabalhador menos qualificado tem características que podem "vender a imagem".
"Quem trabalha em linha de produção, por exemplo, tem mais concentração. Pontualidade e seriedade também devem ser valorizadas", sugere.
Ele acrescenta que, mesmo no período do seguro-desemprego, o profissional deve se atualizar. "Quando voltar, já estará há mais de quatro meses fora do mercado de trabalho."
Para valorizar o currículo, Pedro Scigliano, gerente da Gelre, diz que, se o ex-empregador é pouco conhecido, pode-se identificar o concorrente, "que também é um referencial".

SEUS DIREITOS

Fonte: Folha de São Paulo - 25/01/09

Confira o que o trabalhador demitido sem justa causa pode pleitear SEGURO-DESEMPREGO
É a assistência financeira concedida em até cinco parcelas mensais. Pode ser pedido pelo desempregado que tenha recebido salários consecutivos nos seis meses anteriores à data de demissão, entre outros requisitos. É solicitado do sétimo ao 120º dia após a data da demissão, em Delegacias Regionais do Trabalho ou agências credenciadas da Caixa Econômica Federal

BOLSA-QUALIFICAÇÃO
É concedida ao trabalhador com contrato suspenso por acordo coletivo e matriculado em curso ou programa de qualificação profissional dado pelo empregador. O valor do benefício é calculado com base nos três últimos salários recebidos pelo trabalhador

RESGATE DO FGTS
O desempregado deve comparecer a uma agência da Caixa Econômica Federal com documentos de identificação, carteira de trabalho e número de inscrição no PIS/Pasep. São exigidos documentos específicos, como o termo de rescisão do contrato de trabalho homologado pela DRT ou pelo sindicato da categoria

NA INTERNET
www.mte.gov.br
www.caixa.gov.br

Serviços têm campos com procura por profissionais

Fonte: Folha de São Paulo - 25/01/09

Para quem foi demitido de trabalhos ligados às áreas de comércio e de serviços, a orientação dos sindicatos é buscar cursos de qualificação.
José Augusto da Silva Filho, secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio, afirma que os setores são bastante abrangentes, principalmente no que se refere às áreas voltadas aos serviços, como negócios de locação e despacho e lotéricas.
A Confederação Nacional de Serviços admite que as demissões dos trabalhadores, principalmente dos temporários, foi acima do normal no fim do ano passado.
Para Luigi Nese, presidente da entidade, essa mão-de-obra deve buscar cursos de reciclagem profissional e de aperfeiçoamento, principalmente em línguas e em informática, área que demanda trabalhadores.

Construção civil prevê retomada

Fonte: Folha de São Paulo - 25/01/09

Qualificação é o principal rumo para trabalhadores


Carlos Guerra de Oliveira, que foi demitido do setor de construção civil, diz que pretende buscar qualificação em cursos gratuitos
Apesar de a construção civil ser um dos setores que mais demitiram em dezembro -foram fechados 82.432 postos de trabalho, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho-, sindicatos patronais e de trabalhadores mantêm-se otimistas quanto à abertura de vagas neste ano.
Para os representantes do Sinduscon-SP (patronal) e do Sintracon-SP (trabalhadores), o setor já está consolidado e deve voltar a esquentar e a contratar em fevereiro.
"As construtoras já disseram que vão retomar a todo o vapor a partir do mês que vem", afirma Haruo Ishikawa, vice-presidente de relação capital-trabalho do Sinduscon-SP.
Ele avalia que o setor deverá crescer entre 3,5% e 4% em 2009. "O país não está em recessão, apenas crescendo menos", raciocina.
Além disso, apesar do corte no final do ano, o balanço da abertura de vagas em 2008 é positivo em 254 mil vagas, o que representa um crescimento de 12% sobre 2007, diz Ishikawa, com base em levantamento feito pelos sindicatos do setor em todo o país.
"Não houve demissão em massa [no setor] e, em 2009, o trabalhador não deverá sentir falta de emprego", opina Antonio de Sousa Ramalho, presidente do Sintracon-SP.

Qualificação
Por causa disso, a recomendação a quem perdeu o trabalho -pedreiros e profissionais com baixa qualificação, na maioria- é que invista tempo em cursos de aperfeiçoamento sobre técnicas mais modernas em sua área de atuação.
"Deve-se aproveitar esse período para a qualificação. Há quatro meses, havia falta de mão-de-obra especializada", pontua Ishikawa.
É o que pretende fazer José Carlos Guerra de Oliveira, 47, que fazia serviços gerais havia três anos para uma empresa especializada em reformas e montagem de estandes de venda para construtoras.
Pai de dois filhos, de 10 e 12 anos, ele explica que vai procurar cursos gratuitos, pois não pode arcar com outra despesa. "Eu e minha mulher estamos desempregados. Tudo o que recebi usei para pagar contas e dívidas", conta ele, demitido em dezembro com mais 30 colegas.
"Estava ruim de aparecer serviço para a empresa." (NCC)