sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ler/Dort: Grupos discutem impacto de lesões por esforço repetitivo - DIESAT - 28/02/2009

Fonte: Folha de São Paulo

LER/DORT
Grupos discutem impacto de lesões por esforço repetitivo

DA REPORTAGEM LOCAL

Dois núcleos de trabalho sobre LER/Dort (lesões por esforço repetitivo e distúrbios em músculos e ossos relacionados ao trabalho) começam a se reunir na próxima semana, na Câmara Municipal de São Paulo, para avaliar o impacto do problema na capital paulista.
Um deles tem como meta elaborar uma legislação voltada à prevenção da doença. O outro fará um levantamento sobre o número de trabalhadores que recebem alta para voltar ao emprego mesmo sem condições para isso.

O início do trabalho se dará logo após a comemoração do Dia Internacional de Prevenção às LER/Dort, hoje.

Segundo Pérsio Dutra, diretor do DIESAT - Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho, as atuais normas protegem funcionários que trabalham sob o regime de CLT, mas não servidores públicos, membros de cooperativa ou profissionais autônomos. A meta é desenvolver, dentro de um ano, um projeto de lei que atinja essas categorias.

De acordo com o médico do trabalho Erivalder Guimarães, algumas medidas ajudam a prevenir o problema, como o uso de mobiliário ergonômico, a prática de ginástica laboral, a diversificação de tarefas e o descanso.

Folha de S.Paulo - Ler/Dort: Grupos discutem impacto de lesões por esforço repetitivo - 28/02/2009

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Embraer só poderia demitir após negociação sindical, diz juiz - 27/02/2009

 

Embraer só poderia demitir após negociação sindical, diz juiz

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da Folha Online

A Embraer não poderia realizar uma demissão em massa sem antes negociar com os sindicatos da categoria alternativas para os trabalhadores, segundo a Justiça trabalhista. Foi esta a principal justificativa do desembargador Luís Cândido Martins Sotero da Silva, presidente do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 15ª Região (Campinas), ao mandar suspender as 4.200 demissões até quinta-feira, conforme antecipado pelo "Painel" da Folha.

Na liminar, o desembargador ressalta o fundamento da "impossibilidade de se proceder a demissões em massa sem prévia negociação sindical". O juiz também determina que a Embraer apresente balanços patrimoniais e demonstrações contábeis que justifiquem as demissões.

Divulgação

Demitidos da Embraer fizeram passeata contra demissões em São José dos Campos

Demitidos da Embraer fizeram passeata contra demissões em São José dos Campos

O pedido de suspensão foi feito pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Conlutas e outras entidades sindicais.

A fabricante de aviões anunciou o corte de cerca de 4.200 funcionários no último dia 19. O sindicato, desde a véspera da decisão, já reclamava que tentava, sem sucesso, negociar com a empresa alternativas às demissões.

Procurada pela Folha Online, a fabricante de aviões não confirmou o recebimento do texto que comunica a decisão.

No dia das demissões, o presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado, responsabilizou a crise pelas demissões e afirmou que a situação não é passageira, portanto não seria possível "algum tipo de solução transitória".

Audiência

Ontem, o tribunal já havia agendado para a próxima quinta uma audiência de conciliação entre a Embraer e as entidades sindicais para analisar as dispensas, motivadas pela crise internacional e pela queda da demanda por aeronaves.

Martins Sotero da Silva disse ontem em entrevista à Agência Folha que uma negociação prévia poderia resultar em alternativas à rescisão: "Você pode reduzir a jornada, reduzir salário; são mecanismos que podem mitigar esta situação mais grave", afirmou.

Na ação protocolada, as entidades sindicais argumentam que a Embraer ignorou os sindicatos e não estabeleceu nenhum tipo de negociação antes de oficializar a demissão em massa. A decisão de hoje foi classificada pelo presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, como "um gol de placa".

As centrais alegaram ainda que a empresa tem alta lucratividade, o que poderia, na opinião deles, evitar as demissões no momento de crise.

A Força e a Conlutas agendaram um protesto para hoje, a partir das 14h, em São José dos Campos, onde fica a sede da Embraer.

Antes disso, na segunda-feira (2), deve ocorrer uma audiência de mediação entre a Embraer e representantes dos funcionários, agendada pelo Ministério Público do Trabalho. A audiência atende a representação registrada pelo sindicato para pedir que as demissões da Embraer sejam anuladas.

Demissões

A Embraer alegou que os efeitos da crise financeira internacional são os responsáveis pela queda das encomendas, o que gerou a necessidade de demissões.

O corte representa cerca de 20% do efetivo de 21.362 empregados, e se concentram na mão-de-obra operacional, administrativa e lideranças, incluindo a 'eliminação de um nível hierárquico de sua estrutura gerencial.

A Embraer também revisou suas estimativas para 2009. A empresa calcula entregar 242 aeronaves no período (ante 270 na previsão anterior), com uma receita prevista de US$ 5,5 bilhões (ante US$ 6,3 bilhões). Por conta da redução da estimativa de receita, a empresa refez sua previsão de investimentos para US$ 350 milhões neste ano (ante US$ 450 milhões).

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Foco: Ministério do Trabalho vê irregularidades em casos ocorridos no mesmo dia - 25/02/2009

 

Ministério do Trabalho vê irregularidades em casos ocorridos no mesmo dia

Márcia Ribeiro - 3.fev.09/Folha Imagem

Doriléia Ramos de Carvalho, que teve 27% do corpo queimado em explosão e passou por cirurgia de reconstrução do braço
DA FOLHA RIBEIRÃO

O Ministério do Trabalho apurou a existência de irregularidades em dois episódios registrados na região no mesmo dia -29 de janeiro deste ano-, em Ribeirão Preto e Jaboticabal, que deixaram dois mortos e quatro feridos.
Em Jaboticabal, dois operários morreram e um ficou gravemente ferido depois de cair de uma altura de cerca de 40 metros enquanto instalavam uma antena de alta tensão. O serviço foi contratado pela prefeitura, mas a empreiteira vencedora da licitação repassou a obra para uma serralheira, em operação ilegal.
"Aquilo foi um absurdo. Em casos como esse, posso dizer que vai sobrar para as duas empresas e para a prefeitura, que não acompanhou a obra. Eram equipamentos ultrapassados, impróprios", afirmou Paulo Cristino da Silva, subdelegado do Ministério do Trabalho em Ribeirão.
No mesmo dia, em Ribeirão Preto, a reação de uma faísca com um produto químico causou uma explosão em prédio que abriga unidade da Faculdade Reges (Faculdade de Administração e Negócios de Ribeirão Preto), na avenida Presidente Vargas.
A explosão deixou em estado grave a faxineira Ivanilde Pereira de Oliveira, 55, que teve 70% do corpo queimado e foi levada em estado grave para o HC (Hospital das Clínicas). De acordo com Silva, pode ter havido falhas de treinamento no caso.
Doriléia Ramos de Carvalho, 30, que teve 27% do corpo queimado e já passou por uma cirurgia de reconstrução do braço, afirmou que pouco pôde fazer na hora do acidente, que aconteceu justamente quando aprendia a trabalhar com os produtos. "Só vi as labaredas e depois desmaiei. Acordei no hospital com muita dor. Graças a Deus, hoje estou melhor", afirmou. A terceira vítima, Fabíola Fratassi Bernadino, 32, sofreu ferimentos leves.

Folha de S.Paulo - Foco: Ministério do Trabalho vê irregularidades em casos ocorridos no mesmo dia - 25/02/2009

Morte em acidente de trabalho sobe 45% - 25/02/2009

 

Morte em acidente de trabalho
sobe 45%

Enquanto 55 pessoas morreram em acidentes de trabalho em 2006, total chegou a 80 em 2007, revela estudo do ministério

Aumento apontado pelo Ministério da Previdência na região de Ribeirão Preto é maior que o verificado em São Paulo (14,6%)

ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO
As mortes causadas por acidentes de trabalho na macrorregião de Ribeirão Preto aumentaram 45% de 2006 para 2007, de acordo com o Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho do Ministério da Previdência Social.
Em 2006, 55 pessoas morreram em acidentes dentro do local de trabalho, no trajeto para casa ou em decorrência de doenças contraídas em serviço nas 89 localidades da região de Ribeirão Preto. No ano seguinte, o número saltou para 80.
O crescimento, justificado, em partes, pelo aumento também no número absoluto de trabalhadores, foi bem maior do que o registrado no Estado no mesmo período.
Foram 668 em 2006, contra 766 no ano seguinte, alta de 14,6%, um terço do que apontou o levantamento mais recente -foi divulgado este ano. No país, o número de mortes se manteve estável. Em 2007 foram 2.804, seis casos a mais do que no ano anterior.
Ribeirão Preto, uma das localidades com aumento mais significativo, lidera o ranking de mortes na região: foi de cinco para nove casos no período de um ano.
Araraquara dobrou de três para seis óbitos. Monte Azul Paulista, que não computou nenhuma morte em 2006, teve cinco no ano retrasado e assumiu a terceira posição na lista. São Carlos e Taquaritinga, também com cinco mortes cada uma registradas em 2007, completam a lista dos cinco primeiros municípios do ranking.
Para o subdelegado do Ministério do Trabalho em Ribeirão, Paulo Cristino da Silva, responsável por 32 municípios da região, o crescimento não preocupa por si só, mas é preciso analisar a natureza dos casos.
"É preciso, em primeiro lugar ver se há uma tendência de crescimento. Se existir, precisamos ver caso a caso. Quando acontecem mortes, invariavelmente apuramos para atribuir responsabilidade e cobrar melhorias para que não volte a acontecer." Em dois casos registrados em Jaboticabal e Ribeirão, em janeiro deste ano, o ministério viu irregularidades (leia texto nesta página).
Em relação ao número absoluto de acidentes, Franca se destaca. Apesar de apresentar queda no número de mortes (de quatro para duas), viu crescer 55% os casos de acidentes, de 1.245 para 1.936, a maioria no percurso ou típicos -dentro da empresa.
No índice total de acidentes, Ribeirão Preto aparece mais uma vez na liderança do ranking em números absolutos, com 3.813 casos. Araraquara, São Carlos e Sertãozinho, cidades com foco nos trabalhos industriais e agrícolas, aparecem na sequência.
Um dos 1.237 acidentados em Sertãozinho foi Paulo dos Santos, 50, que teve as duas pernas esmagadas por um tubo de cinco toneladas dentro da metalúrgica em que trabalhava. O caso aconteceu em março do ano passado, mas desde o ano anterior ele reclamava de dores nas costas por conta do esforço no trabalho.
Afastado até hoje pelo INSS (Instituto Nacional de Seguro Social), ele entrou na Justiça contra a empresa para tentar receber os gastos com remédios e recuperação.
"Enquanto sentia dores, eu pensei na empresa e fiquei. Quando sofri o acidente, eles não fizeram o mesmo por mim", afirmou o metalúrgico, que precisou que seu filho pedisse demissão de onde trabalhava para ajudá-lo a voltar a caminhar.
"Muitos nos procuram com o mesmo problema. Tentamos orientá-los para não saírem no prejuízo enquanto os patrões só visam o lucro", afirmou Élio Cândido, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sertãozinho e Região.

Mecânico move ação após ter auxílio suspenso - 25/02/2009

 

Mecânico move ação após ter auxílio suspenso

Fonte: Folha de São Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL

Após sofrer um acidente de trabalho há oito anos, o mecânico Ecy Edvan Magalhães, 44, diz ter recebido alta de seu afastamento em outubro passado mesmo sem ter condições de retornar ao serviço. Em junho de 2007, o INSS determinou que ele fosse reabilitado e em agosto de 2008 sua alta foi programada para dezembro passado, segundo afirma o operário.
"Como as dores de coluna se agravaram, resultado de um acidente de trabalho por ter pego peso além do que devia, em 2002 o INSS me considerou inapto para o trabalho e passei a receber meu benefício", diz o mecânico que era terceirizado de uma siderúrgica.
Em junho de 2007, segundo afirma, o INSS determinou que ele fosse reabilitado e retornasse à empresa em outra função, a partir de 2008, quando a sua alta foi programada. "Só que a empresa não me reabilitou. Passei novamente pela perícia, em agosto de 2008, e recebi a alta programada a partir de dezembro. Na empresa, o médico me informou que não havia outra função para eu exercer."
Demitido em novembro, ele move uma ação contra a empresa por ter estabilidade no emprego de um ano, já que foi vítima de acidente de trabalho, e contra o INSS por ter suspendido o benefício. "Estou sem salário e sem auxílio do INSS [cerca de R$ 800], já que tive a alta programada." (CR e FF)

Folha de S.Paulo - Mecânico move ação após ter auxílio suspenso - 25/02/2009

Justiça Federal suspende altas do INSS em 5 Estados - 25/02/2009

Fonte: Folha de São Paulo

Justiça Federal suspende altas do INSS em 5 Estados

Cerca de 180 mil processos contestam a prática em SP

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma decisão da Justiça Federal deste mês favorece os beneficiários do INSS de cinco Estados (SE, AL, PE, RN e PB) que tiveram auxílio-doença e auxílio-acidente suspensos por causa da adoção do sistema de alta programada.
Por essa prática, adotada pelo INSS em 2005, o benefício é concedido por um um período e suspenso sem que o segurado passe por nova perícia médica para constatar se está ou não apto para voltar ao trabalho.
Ao avaliar uma ação civil pública da Defensoria Pública da União em Sergipe, o juiz Edmilson da Silva Pimenta, da 3ª Vara Federal de Sergipe, decidiu, há cerca de 15 dias, que o INSS tem de por fim à prática de "Data de Cessação de Benefício (DCB)" ou alta programada. O INSS já recorreu da decisão.
Agências e postos do INSS situados nos cinco Estados têm agora de agendar e realizar novas perícias médicas antes de suspender automaticamente os benefícios dos segurados.
O auxílio-doença previdenciário é decorrente de enfermidades não relacionadas com a atividade do trabalhador. O auxílio-doença acidentário já resulta de doença relacionada à atividade da pessoa ou ainda a um acidente de trabalho.
"O que está ocorrendo é que o médico perito estabelece um prazo para o segurado receber o auxílio-doença. Só que, em muitos casos, o trabalhador não se recuperou e tem de voltar ao trabalho. Isso viola o direito de cidadania", diz o juiz.
Luiz Salvador, presidente da Abrat, associação que reúne os advogados trabalhistas do país, afirma que a alta programada tem o objetivo de reduzir o custo do INSS. "Apesar de o Brasil ter uma boa legislação para a saúde e segurança do trabalho, ela não é cumprida e falta fiscalização. O segurado só deve voltar ao trabalho após uma perícia séria que avalie sua condição física e psíquica", afirma.
Só na Justiça Federal de São Paulo, segundo o presidente da Abrat, existem cerca de 180 mil processos contestando principalmente a alta programada.
O Ministério da Previdência informa, por meio de sua assessoria de imprensa, que a alta programada tem como objetivo reduzir a necessidade de o segurado se submeter a sucessivas perícias para manter o benefício e até obter alta. Informa ainda que, caso o segurado não se sinta apto a voltar ao trabalho, pode fazer o pedido de prorrogação do benefício até 15 dias antes da data da alta. Essa solicitação pode ser repetida se o segurado não se sentir capaz para retornar ao trabalho.
Há ações civis públicas em dez Estados do país para pedir o fim da alta programada. Todas as liminares foram suspensas a pedido do Ministério da Previdência, que também já recorreu da decisão da 3ª Vara Federal de Sergipe. O TRF da região ainda não definiu se a decisão da 1ª instância será revogada. "Como todas as ações têm o mesmo fim, em fevereiro de 2007 o STJ [Superior Tribunal de Justiça] designou a seção judiciária do Estado da Bahia, onde tramita a primeira das ações, para resolver as medidas urgentes. Decidiu ainda suspender as liminares que por acaso forem concedidas até o julgamento definitivo do conflito", segundo afirma a assessoria da Previdência.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Ensaio: Economista de Lenin previu crise

 

ENSAIO
Economista de Lenin previu crise

STEFANIE AUGUSTINE
KYLE CRICHTON

Nikolai Kondratieff não foi exatamente um burocrata sem rosto na Rússia pós-revolucionária. Ele trabalhara no último governo de Alexander Kerensky, antes da tomada do poder pelos bolcheviques, e então tornou-se teórico importante da chamada nova política econômica, sob a égide de Lênin.
Mas ele teria sido consignado à lata de lixo da história há muito tempo se não fosse por sua paixão acadêmica excêntrica, que exerceu em livros e artigos escritos ao longo da década de 1920. Revendo a história econômica desde o final do século 18, Kondratieff chegou a uma conclusão espantosa, do tipo "fim dos tempos": que as economias capitalistas estão fadadas a passar por ciclos previsíveis de cerca de 50 anos, que inevitavelmente culminam numa depressão.
Apesar de comunista engajado e autor de uma teoria de colapsos capitalistas inevitáveis, embora periódicos, Kondratieff foi executado em 1938, vítima dos expurgos stalinistas. Aparentemente, ele levantara dúvidas fortes demais sobre o entusiasmo do governo pela indústria pesada e os coletivos agrícolas. Após oito anos no gulag, ele deixou para sua filha uma carta final em que recomendou que ela fosse "uma menina inteligente e boa" e pediu: "não se esqueça de mim".
Foi um epitáfio apropriado, pois, a cada vez que parece que Kondratieff está prestes a ser esquecido, a economia tem uma queda -que seus discípulos tentam enquadrar em ciclos, ou "ondas de Kondratieff".
Ele identificou em cada ciclo quatro estágios, que corresponderiam às estações do ano. Depois de avançar rapidamente durante a fase primaveril, diziam seus discípulos, a economia segue bem durante o verão, vive uma queda assustadora com a chegada do outono e, então -mesmo que os governos tentem evitar-, mergulha numa fase invernal que pode durar até 20 anos.
Coinciência ou não, o hemisfério norte vem enfrentando um inverno especialmente rigoroso.
Com o passar dos anos, o apelo das ideias de Kondratieff aumentou e diminuiu -perde espaço nos tempos bons e volta com força quando as perspectivas parecem sombrias. Mas sua teoria nunca chegou a ser aceita pelos economistas convencionais.
Os seguidores de Kondratieff já gritaram "depressão" antes, por exemplo em 1982. Na época, um correspondente do "New York Times", Paul Lewis, observou: "Segundo a análise de Kondratieff, o mundo está passando pela quarta grande queda econômica desde os anos 1790, um período de recessão global que provavelmente durará até quase o final do século, quando terá início uma nova era de prosperidade -e há muito pouco que se possa fazer para mudar isso."
Hoje os discípulos de Kondratieff estão igualmente certos de que o período negativo atual começou em 2000, com o crash do mercado acionário daquele ano, seguido pela fase outonal dos anos Bush, caracterizada pelo enorme crescimento da dívida e da alavancagem, numa tentativa de manter a prosperidade dos anos de primavera e de verão.
Evidentemente, as ondas de Kondratieff tendem a estar na cabeça daqueles que as enxergam. Afinal, a economia americana terminou por reagir a várias quedas do mercado como a de 2000, permitindo que os 25 anos seguintes a 1982 fossem um período de crescimento em grande medida ininterrupto. Na última década desse período, porém, o crescimento foi movido pela dívida, numa tentativa desesperada de manter um nível insustentável de consumo -uma etapa que a teoria de Kondratieff explica com bastante precisão.
"As pessoas que traçam as previsões geralmente não exercem papel central na discussão da ciência econômica", disse David Colander, historiador de economia no Middlebury College, em Vermont (EUA). Mas, acrescentou, as economias têm, sim, "essa tendência ao excesso" captada por Kondratieff e outros, e isso é algo que passa em grande medida despercebido na teoria econômica moderna.
Colander cita a Escola Austríaca como possível rival à linha de pensamento de Kondratieff. Seus economistas tendem a enfatizar uma abordagem empreendedora baseada no "laissez-faire" e em limites rígidos ao crescimento da disponibilidade de moeda.
Embora seja vista como fora da linha de pensamento econômico mais convencional, a Escola Austríaca é muito mais prestigiosa, tendo em suas fileiras dois Prêmios Nobel, Friedrich Hayek e James Buchanan.Consta que Hayek previu a Grande Depressão, e alguns devotos da Escola Austríaca reivindicam o crédito por terem previsto a atual.
Nos anos 1930, John Maynard Keynes tomou o lugar de Hayek e da Escola Austríaca na popularidade intelectual. A linha de pensamento austríaca voltou, até certo ponto, durante os anos Reagan, mas, segundo Colander, nunca chegou a conquistar aceitação entre os economistas.
"Deveria ter conquistado", disse ele. "Uma boa disciplina deve levar mais a sério seus próprios outsiders. Eles fazem você olhar para as coisas sob óticas diferentes. A pior coisa para os líderes políticos é pensar que têm razão."

Fonte: New York Times - Folha de São Paulo

Japoneses perdem trabalho e casa

Japoneses perdem trabalho e casa

Por MARTIN FACKLER

OITA, Japão - Koji Hirano contou que ficou incrédulo e que "deu um branco" em sua cabeça quando ele e outros trabalhadores na empresa Canon, em Oita, sul do Japão, souberam que iam ser demitidos.
O choque converteu-se em medo quando eles também receberam ordens de desocupar os apartamentos onde viviam, fornecidos pela empresa -benefício comum que acompanha os empregos no Japão. Sem economias guardadas de seu salário mensal de apenas US$ 700, Hirano se viu diante da certeza de virar um sem-teto.
"Eles iam nos despejar no frio do inverno para que morrêssemos", disse Hirano, 47.
A crise econômica atual vem espalhando desemprego e sofrimento pelo mundo, e o Japão não é exceção: com sua produção caindo em índices históricos, o nível de desemprego subiu para 4,4% em dezembro, contra 3,9% no mês anterior. Entre outubro e dezembro, o produto interno bruto real do país encolheu em ritmo anual de 12,7%. Mas o mais chocante é o fato de tantos dos demitidos estarem tão vulneráveis: centenas, talvez milhares, foram despejados diretamente para as ruas.
Hirano e outros dos demitidos fazem parte de uma nova subclasse de trabalhadores japoneses criada durante uma década de desregulamentação em estilo americano. Sendo empregados de curto prazo, eles não têm nenhum direito formal.
E não podem esperar muito em matéria de auxílio-desemprego ou outros benefícios sociais. No Japão, país que até recentemente tinha pouca experiência em desemprego em grande escala, a assistência para trabalhadores demitidos é insuficiente.
Segundo o Ministério do Trabalho, desde outubro foram anunciadas cerca de 131 mil demissões. Dessas, 125 mil são de trabalhadores não regulares, recrutados com contratos de curto prazo e pagamento baixo, com menos benefícios e nenhuma proteção legal.
Depois de os protestos públicos por seu despejo terem chegado aos ouvidos do governo, Hirano e outros ex-trabalhadores da Canon foram autorizados a permanecer por mais alguns meses em seus apartamentos. No Ano Novo, cerca de 500 ex-trabalhadores temporários insatisfeitos convertidos em sem-tetos construíram uma cidade improvisada de barracas ao lado do Ministério do Trabalho.
A recessão global mostra, de maneira inusitada, como uma década de transformações econômicas erodiu a versão japonesa e mais gentil do capitalismo, na qual, no passado, as empresas só demitiam funcionários quando não havia outra alternativa.
"Esta recessão abriu os olhos do país para suas crescentes desigualdades sociais", disse Masahiro Abe, professor da Universidade Dokkyo especializado em relações de trabalho. "Há toda uma população de trabalhadores que vive fora da rede de suporte tradicional."
Até uma década atrás, trabalhadores não regulares formavam menos de 25% da força de trabalho total do Japão. Mas este número subiu muito após o afrouxamento das leis trabalhistas, em 1999 e novamente em 2004, ter permitido que empregados temporários trabalhassem em linhas de produção de fábricas e outras funções antes restritas a trabalhadores em tempo integral.
Hoje, 34,5% dos 55,3 milhões de trabalhadores japoneses são empregados não regulares, e muitos destes são responsáveis pela fonte de renda principal de suas famílias, de acordo com o Ministério de Assuntos Internos.
Especialistas em relações trabalhistas e funcionários do Ministério do Trabalho dizem que o Japão precisa rever o sistema para adequar-se a um mercado de trabalho mais dinâmico, no qual nem todos os empregos podem ser vitalícios, e para impedir que as demissões exerçam efeito financeiro tão devastador. "Precisamos construir uma rede de segurança adequada a este ambiente desregulamentado", disse Yusuke Inoue, chefe de seção do Birô de Emprego Estável do Ministério do Trabalho.
A Canon disse que tinha subestimado as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores demitidos na recessão atual e que lhes ofereceria mais ajuda. Hirano e outros demitidos disseram que recebiam anualmente cerca de US$ 22 mil, abaixo da linha de pobreza do Japão. Ele e seus colegas de trabalho disseram pensar que, se trabalhassem duro, a empresa os recompensaria com um salário maior.
"A Canon deveria ter cuidado de nós", disse um operário de 32 anos, tão envergonhado com sua demissão que pediu para que fosse citado apenas seu sobrenome, Murakami. "Essa é a maneira japonesa de agir. Mas isto não é mais o Japão."

Empregos somem, e cresce a insegurança

Empregos somem, e cresce a insegurança

Por NELSON D. SCHWARTZ
Paris

Dos advogados de Paris aos operários da China e aos guarda-costas da Colômbia, as fileiras de desempregados incham rapidamente mundo afora. A perda global de postos de trabalho pode atingir assustadores 50 milhões até o final de 2009, segundo a Organização Mundial do Trabalho. A crise já ceifou 3,6 milhões de empregos norte-americanos.
O desemprego elevado, especialmente entre jovens, levou a protestos em países tão variados quanto Letônia, Chile, Grécia, Bulgária e Islândia e desencadeou greves em Reino Unido e França.
Em janeiro, o governo da Islândia, cuja economia deve encolher 10% neste ano, caiu, e o primeiro-ministro teve que antecipar as eleições nacionais após semanas de protestos de islandeses irritados com o desemprego e a inflação.
Recentemente, o novo diretor de inteligência nacional dos EUA, Dennis Blair, disse ao Congresso que a instabilidade causada pela crise econômica global se tornara a maior ameaça à segurança dos EUA, superando o terrorismo. "Quase todos foram apanhados de surpresa pela velocidade com que o desemprego está aumentando e estão tateando uma resposta", disse Nicolas Véron, pesquisador do instituto Bruegel, de Bruxelas.
Em economias emergentes, como as do Leste Europeu, há temores de que o aumento do desemprego provoque um distanciamento em relação às políticas pró-ocidentais de livre mercado, enquanto nos países desenvolvidos o desemprego poderia estimular esforços para proteger as indústrias locais às custas do comércio global.
De fato, alguns pacotes europeus de estímulo, assim como o que foi aprovado nos EUA, incluem proteções para empresas domésticas, aumentando a probabilidade de batalhas comerciais em torno do protecionismo.
Embora no número de empregos nos Estados Unidos venha caindo desde o final de 2007, o ritmo das demissões na Europa, na Ásia e no mundo em desenvolvimento só recentemente se acelerou. O FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê que, até o final do ano, o crescimento econômico global atinja seu menor nível desde a Grande Depressão, segundo Charles Collyns, vice-diretor do departamento de pesquisas do Fundo. O órgão disse que o crescimento "praticamente parou" e que as economias desenvolvidas devem encolher 2% em 2009.
"Isso é o pior que tivemos desde 1929", disse Laurent Wauquiez, secretário francês do Trabalho. "A novidade é que é global, e estamos todos falando nisso. Está em todos os países, e isso faz toda a diferença."
Na Ásia, qualquer presunção de ter escapado às perdas relacionadas às dívidas das hipotecas "subprime" nos EUA foi ofuscada pelo crescente desespero com a queda nas vendas dos grandes exportadores.
Em 12 de fevereiro, a japonesa Pioneer anunciou a desativação das suas unidades de TVs de tela plana e o fechamento de 10 mil vagas no mundo inteiro, como reflexo da redução na demanda.
Na China continental, milhões de migrantes à procura de empregos estão descobrindo que as fábricas estão fechando. Já houve dezenas de protestos em fábricas da China e da Indonésia, onde operários foram demitidos com pouco ou nenhum aviso prévio.
A amplitude do problema também vem se tornando aparente em Taiwan, onde as exportações caíram 42,9% em janeiro em comparação com um ano atrás, o maior tombo em toda a Ásia.
A auxiliar de cozinha Chang Yung-yun, 57, foi demitida quando seu patrão fechou o restaurante onde ela trabalhava, em meados de novembro. Seu filho, engenheiro, está há semanas em férias não-remuneradas, uma tática patronal que se tornou comum em Taiwan.
"O maior medo do nosso povo é perder o emprego", disse o presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, numa entrevista.
Apelos protecionistas têm ecoado junto a uma opinião pública temerosa. No Reino Unido, funcionários de refinarias e usinas elétricas abandonaram seus postos de trabalho em janeiro para protestar contra o uso de trabalhadores da Itália e de Portugal numa obra no litoral.
A meio mundo de distância, na Colômbia, Jaime Galeano, 40, está entre os trabalhadores que enfrentam dificuldade para arrumar emprego. Como segurança em um país notório pelos sequestros e pela violência relacionada ao narcotráfico, Galeano achava que sua profissão estava imune, até que, no ano passado, ele perdeu o emprego.
"As condições para encontrar trabalho são terríveis", disse ele. Para piorar, sua idade agora é um empecilho -um ministério lhe informou que só candidatos menores de 32 anos seriam considerados para novas vagas.
"Depois de completar 35 anos, uma pessoa não vale nada", disse Galeano.


Colaboraram Keith Bradsher, em Taipei, Taiwan; Heather Timmons, em Nova Déli; Simon Romero e Jenny Carolina González, em Bogotá, Colômbia; e Maïa de la Baume, em Paris

Estrangeiros demitidos fogem de Dubai

 

Estrangeiros demitidos fogem de Dubai


O emirado antes florescente agora está declinando

Por ROBERT F. WORTH
Dubai, Emirados Árabes Unidos

Sofia, uma francesa de 34 anos, mudou-se para Dubai há um ano para trabalhar em publicidade, tão confiante no rápido crescimento econômico local que comprou um apartamento de quase US$ 300 mil com uma hipoteca de 15 anos.
Hoje, como muitos trabalhadores estrangeiros que formam 90% da população local, ela foi demitida e enfrenta a perspectiva de ter de deixar esta cidade no golfo Pérsico -ou pior.
"Estou realmente com medo do que pode acontecer, porque comprei propriedade aqui", disse Sofia, que pediu para que seu sobrenome não seja publicado porque ainda procura um novo emprego. "Se eu não puder pagar, me disseram que poderia acabar na prisão dos endividados."
Com a economia de Dubai em queda livre, os jornais informaram que mais de 3.000 carros estão abandonados no estacionamento do aeroporto local, deixados por estrangeiros endividados e em fuga (que realmente podem ser presos se não pagarem suas contas). Alguns carros teriam em seu interior cartões de crédito "estourados" e bilhetes de desculpas colados ao para-brisa.
O governo diz que o número real é muito menor. Mas as histórias contêm pelo menos um grão de verdade: os desempregados aqui perdem seus vistos de trabalho e devem deixar o país dentro de um mês. E isso por sua vez deixa moradias abandonadas e diminui os preços dos imóveis, em uma espiral descendente que deixou partes de Dubai -antes vista como uma potência do Oriente Médio- parecendo uma cidade fantasma.
Ninguém sabe o quanto as coisas azedaram, mas está claro que dezenas de milhares de pessoas partiram, os preços dos imóveis despencaram, e muitos grandes projetos de construção foram suspensos ou cancelados em Dubai.
Enquanto isso, um novo projeto de lei de imprensa tornaria crime prejudicar a reputação ou a economia do país, punível por multas de até 1 milhão de dirhams (cerca de R$ 630 mil). Alguns dizem que isso já está desencorajando as reportagens sobre a crise.
No mês passado, os jornais locais relataram que Dubai estaria cancelando 1.500 vistos de trabalho por dia, citando fontes do governo sem identificá-las.
"No momento há uma disposição para acreditar no pior", disse Simon Williams, economista-chefe do banco HSBC no emirado. "E as limitações sobre informações tornam difícil negar os rumores."
Algumas coisas estão claras: os preços dos imóveis, que aumentaram drasticamente durante o boom de seis anos de Dubai, caíram 30% ou mais nos últimos três meses em certas áreas da cidade. Recentemente, o serviço de investidores Moody's disse que poderia reduzir suas notas para seis das maiores empresas estatais de Dubai, citando a deterioração nas perspectivas econômicas. Há tantos carros usados de luxo em oferta que às vezes são vendidos por 40% abaixo do preço dois meses atrás, dizem revendedores.
Para alguns analistas, a crise provavelmente terá efeitos duradouros na federação formada por sete emirados, em que Dubai há muito tempo faz o papel do irmão mais moço rebelde do conservador e rico em petróleo Abu Dhabi. As autoridades de Dubai deixaram claro que estariam abertas a uma ajuda, mas até agora Abu Dhabi só ofereceu assistência aos seus próprios bancos.
"Por que Abu Dhabi premite que seu vizinho tenha a reputação internacional prejudicada, quando poderia socorrer os bancos de Dubai e restaurar a confiança?", disse Christopher Davidson, que previu a atual crise no livro "Dubai: The Vulnerability of Success" [Dubai: a vulnerabilidade do sucesso], publicado em 2008. "Talvez o plano seja centralizar os Emirados Árabes Unidos" sob o controle de Abu Dhabi, ele sugeriu, em uma medida que reduziria a independência de Dubai.
No início, Dubai parecia um refúgio relativamente isolado do pânico que atingiu o resto do mundo. Mas, ao contrário de Abu Dhabi ou dos próximos Catar e Arábia Saudita, Dubai não tem petróleo e construiu sua reputação sobre imóveis, finanças e turismo. Hoje, muitos estrangeiros que trabalham ali falam de Dubai como se sempre tivesse sido um jogo de ilusão.
Os rumores sensacionalistas se espalham rapidamente: Palm Jumeira, ilha artificial que é uma das marcas registradas da cidade, estaria afundando, e quando se abrem as torneiras nos hotéis construídos sobre ela só saem baratas.
"A coisa vai melhorar? Eles dizem que sim, mas não sei mais em quem acreditar", disse Sofia, que ainda espera encontrar um emprego antes que seu prazo expire. "As pessoas estão entrando em pânico rapidamente."


Colaborou Ali al-Shouk

Folha de S.Paulo - Explosão em mina na China deixa 74 mortos - 23/02/2009

 

Explosão em mina na China deixa 74 mortos

DA REDAÇÃO

Ao menos 74 trabalhadores morreram e outros 65 permanecem desaparecidos após a explosão em uma mina de carvão, no norte da China, no sábado.
Segundo informações da agência estatal Xinhua, o acidente, um dos maiores dos últimos meses, ocorreu quando 436 mineiros estavam trabalhando no local. A mina pertence à companhia de carvão Coque Shanxi, uma das principais do país, na cidade de Gujiao, na Província de Shanxi.
Mais de 80 homens participam dos trabalhos de resgate e tentam localizar possíveis sobreviventes. Dependente do carvão para gerar quase 70% da energia produzida no país, a China registrou, no último ano, 3.214 mortes em explosões semelhantes. O governo chinês reconhece que cerca de 80% dos 16 mil poços de carvão funcionam ilegalmente, o que dificulta a fiscalização e a adoção de medidas de segurança.


Com agências internacionais

Folha de S.Paulo - Explosão em mina na China deixa 74 mortos - 23/02/2009

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Ban Ki-Moon e Al Gore: A promoção do crescimento verde - 22/02/2009

 

Fonte: Folha de São Paulo

A promoção do crescimento verde

BAN KI-MOON e AL GORE


Investir na economia verde não é facultativo. É um investimento inteligente em prol de um futuro mais equitativo e mais próspero

OS PLANOS de estímulo econômico estão na ordem do dia. É normal que seja assim, em um momento em que governos do mundo inteiro procuram fazer arrancar de novo a economia mundial. Mas, ao procurarem responder a essa necessidade imediata, os líderes devem também agir juntos, para garantir que o novo modelo econômico que está sendo criado seja sustentável para o planeta e para a nossa vida futura.
Precisamos de estímulos e de investimentos que realizem simultaneamente dois objetivos com uma só resposta política para a economia mundial -uma política que vá ao encontro das nossas necessidades econômicas e sociais urgentes e imediatas e que lance uma nova economia mundial verde. Em suma, necessitamos que o nosso mantra seja "vamos promover o crescimento verde".
Em primeiro lugar, uma recessão econômica sincronizada exige uma resposta mundial sincronizada. Precisamos de estímulos e de uma coordenação intensa das políticas econômicas entre todas as principais economias. Temos de evitar políticas que contribuam para o empobrecimento dos países vizinhos e que estiveram na origem da Grande Depressão.
A coordenação é também vital para reduzir a volatilidade financeira, as corridas às moedas e a inflação galopante, bem como para gerar confiança entre consumidores e investidores.
Os planos de estímulo destinam-se a fazer arrancar novamente a economia, mas, se forem corretamente concebidos e executados, também nos poderão lançar numa via nova, com um baixo nível de emissões de carbono, em direção ao crescimento verde.
A eliminação dos US$ 300 bilhões gastos anualmente em subsídios aos combustíveis fósseis reduziria as emissões de gases de efeito-estufa em 6% e daria origem a um aumento do PIB mundial. O desenvolvimento de energias renováveis representará uma ajuda no aspecto em que ela mais se mostra necessária.
As economias em desenvolvimento já são responsáveis por 40% dos recursos de energias renováveis existentes, bem como por 70% da capacidade de aquecimento de água utilizando energia solar. Com 2,3 milhões de pessoas trabalhando no setor das energias renováveis, já há mais emprego nesse setor do que, diretamente, nas indústrias de petróleo e gás.
Em segundo lugar, precisamos de políticas em favor dos pobres. Em grande parte do mundo em desenvolvimento, os governos não têm possibilidade de contrair empréstimos ou de imprimir dinheiro para atenuar os efeitos devastadores dos choques econômicos. Por isso os governos dos países industrializados têm de agir além de suas fronteiras, investindo em programas eficazes em termos de custos, que ajudem a impulsionar a produtividade dos países pobres.
Isso significa aumentar a ajuda externa ao desenvolvimento. Significa reforçar as redes de segurança social.
Significa investir na agricultura nos países em desenvolvimento, fazendo chegar sementes, ferramentas, práticas agrícolas sustentáveis e crédito aos pequenos agricultores.
As políticas em favor dos pobres implicam aumento do investimento na melhoria da utilização dos solos, da conservação da água e das culturas resistentes à seca, a fim de ajudar o agricultor a se adaptar às mudanças climáticas. Se não forem resolvidas, essas questões poderão acarretar uma situação de fome crônica.
Em terceiro lugar, é preciso que se chegue a um acordo sólido sobre o clima, em Copenhague, em dezembro. Não no ano que vem -neste ano.
As negociações sobre o clima têm de ser substancialmente aceleradas.
Um acordo eficaz em Copenhague representará o pacote mundial de estímulos mais poderoso possível. Como um novo acordo sobre o clima em vigor, as empresas e os governos disporão finalmente de uma orientação quanto ao preço do carbono, tal como as empresas estão pedindo, o que poderá desencadear uma onda de inovações e investimento em energias limpas. Copenhague dará luz verde ao crescimento verde. É essa a base da recuperação econômica verdadeiramente sustentável que trará benefícios para nós e para os nossos filhos durante décadas.
Para milhões de pessoas, de Detroit a Nova Déli, nunca houve tempos mais difíceis. As famílias estão perdendo seus empregos, as casas onde vivem, serviços de saúde e até a perspectiva de mais uma refeição. Com tanto em jogo, os governos têm de fazer escolhas estratégicas. Não podemos deixar que aquilo que é urgente comprometa aquilo que é essencial.
Investir na economia verde não é uma despesa facultativa. É um investimento inteligente em prol de um futuro mais equitativo e mais próspero.


BAN KI-MOON , 64, mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA), é o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Foi ministro das Relações Exteriores e do Comércio da República da Coreia.
ALBERT ARNOLD GORE JR. , 60, o Al Gore, é ex-vice-presidente dos Estados Unidos e autor, entre outras obras, de "Uma Verdade Inconveniente".