sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Crônica: A câmara fria De três em três minutos ela tossia. Tosse seca. Na parede o anúncio vistoso da missão da empresa: “A saúde em primeiro lugar”

Calculei pela lisura do seu rosto e pelo brilho do seu olhar que deveria ter menos de 30 anos. Depois saberia que já passava dos 40.

Sua tez branquíssima e aveludada parecia uma extensão do traje branco. Bela mulher, tipo mignon, bonita de rosto e esbelta de corpo. Olhos negros; cabelos em coque, para não estorvar os movimentos, firmes e elegantes.

Nenhum sinal de moleza ou morbidez. Exceto essa enigmática tosse. Deve ser um pigarro, pensei, uma irritação momentânea da faringe. Isso passa.

— Você é médica ou enfermeira? — perguntei.

— Sou médica — ela disse, sorrindo. E tossiu.

Estávamos num laboratório chique, de um hospital dito o mais moderno da cidade. Eu já me submetera a vários exames do coração, mas nunca a esse tal de ecodoppler. Ali dentro fazia um frio de matar pinguim. Sentia-me dentro de uma câmara frigorífica.

Eu tiritava de frio. Os pelos dos braços arrepiados. De vez em quando ela apertava com a mão direita uma tecla do computador e a imagem ficava estática

— Você não se ressente do frio? — perguntei.

— Já me acostumei — ela disse. E tossiu.

Devagar, ela ia passando no meu tórax, com a mão esquerda, um bastão provido de um sensor untado de vaselina. Ao mesmo tempo acompanhava o desenho que se modificava continuamente na tela do computador. Ia e vinha, ia e vinha o bastão melado de vaselina. Eu tiritava de frio. Os pelos dos braços arrepiados. De vez em quando ela apertava com a mão direita uma tecla do computador e a imagem ficava estática.

— Então, vou morrer logo? — perguntei, brincando.

— Nada disso, o senhor vai viver muito, nenhum sinal de anomalia no músculo, nem no ritmo do miocárdio, nenhuma lesão, nada — ela disse, sorrindo. E tossiu.

— E esse aparelho é bom mesmo? — perguntei.

— O melhor que existe hoje no Brasil. É de última geração. Aqui em São Paulo o nosso hospital é o único que tem. Caríssimo — ela disse. E tossiu.

— Americano?

— Não, é alemão; em equipamento hospitalar ninguém bate os alemães — ela disse. E tossiu.

— E você tem muita experiência em ler essas imagens?

— Bastante, me especializei em ecodoppler; faço os exames desde que o aparelho chegou, há um ano — ela disse. E tossiu.

— Quantos exames por dia você faz?

— Faço de 14 a 20, já teve dia que fiz 25 — ela disse. E tossiu.

— Tanto assim?

— Precisa, se não fizer, não paga o custo do aparelho; os médicos do hospital têm orientação de sempre mandar fazer — ela disse. E tossiu.

— E essa tosse, está resfriada? — perguntei.

— Não, é essa temperatura baixa aqui dentro.

— E por que tão baixa?

— É para proteger o aparelho. A saúde do aparelho sempre em primeiro lugar — ela disse. ­­

E tossiu.

Por: B.Kucinski

Publicado em 17/01/2012 por Revista do Brasil

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Hoje é comemorado o dia do Aposentado

Em 24 de janeiro, comemora-se o Dia Nacional do Aposentado – a data foi escolhida porque nesse mesmo dia, em 1923, ocorreu a assinatura da Lei Eloy Chaves, criando, na época, a caixa de aposentadorias e pensões para os empregados de todas as empresas privadas das estradas de ferro. É o marco histórico da Previdência Social, que até então atendia apenas os funcionários do governo federal.

A Cobap (Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas) vai realizar um movimente no próximo domingo, a partir das 9h no Santuário Nacional Nossa Senhora Aparecida (a 180km de SP) para reivindicar reajuste maior e justo, as negociações com o governo devem começar em fevereiro.

O DIESAT parabeniza a todos os Aposentados!

Sancionada a Emenda Constitucional 29 que define os gastos em Saúde

Publicada no Diário Oficial da União na segunda 16, a Emenda define claramente o que pode ou não ser considerado gasto em saúde, já que os Estados e Municípios não poderão mais usar brechas legais para cumprir seus percentuais mínimos de investimento, maquiagem de dados que retirava do sistema público de saúde ao menos 3 bilhões de reais por ano.

Apesar do avanço, a nova regra não trouxe recursos adicionais ao setor. A União continua a ser obrigada a aumentar os gastos conforme a variação do PIB no ano anterior, os Estados precisam empregar 12% de suas receitas no setor e os Municípios 15%.

Os 3 bilhões de retorno promovido pela emenda dão algum fôlego, mas são insuficientes para tirar o Sistema Único de Saúde (SUS) da situação de penúria. Com a sexta maior economia do mundo, o Brasil ocupa o 72º lugar no ranking de gasto per capita em Saúde, o gasto por habitante a cada dia para realizar desde o combate ao mosquito até cirurgias de alta complexidade é de 2 reais.

A situação é preocupante já que mais de 90% da população brasileira depende exclusivamente ou parcialmente do SUS.

Fonte: Carta Capital