quarta-feira, 5 de março de 2008

Cresce importação de máquinas usadas

Folha de S.Paulo - Cresce importação de máquinas usadas - 05/03/2008
Fornecedores tradicionais como Alemanha estão sobrecarregados, e indústria traz equipamento usado para elevar produção

Compra de maquinário usado cresce 68% em 2007; temor é que país se torne grande destino de equipamentos obsoletos

LUCIANA OTONI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

- Fonte: Folha de São Paulo.

Diante da dificuldade em encontrar material novo para entrega rápida, o setor industrial aumentou no ano passado a participação de máquinas usadas, adquiridas de empresas e fornecedores estrangeiros, nas fábricas em atividade no país. E a tendência, segundo avaliação do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, é a continuidade desse processo em 2008.
Só no ano passado, a compra no exterior de maquinário usado cresceu 68%. O gasto com essas compras subiu de US$ 1,421 bilhão em 2006 para US$ 2,385 bilhões em 2007.
A maior parte dos equipamentos usados que vem sendo instalados nas fábricas brasileiras foi usada antes por empresas dos EUA e da Europa. A China também é uma fornecedora, mas em menor volume.
Entre os equipamentos constam caldeiras, reatores nucleares, instrumentos mecânicos, máquinas eletrônicas e elétricas, aparelhos de som e imagem, aparelhos cirúrgicos, partes e peças para máquinas em geral e equipamentos para uso em autopeças. Na lista também figuram veículos e material para ferrovias, tratores, embarcações e aeronaves. Além de autopeças, os bens de capital de segunda mão estão sendo usados em siderúrgicas, fábricas que produzem máquinas, indústria química, empresas de transportes e de energia.
A decisão de ampliar o uso de equipamentos usados importados é polêmica. Embora ajude a resolver um problema momentâneo, torna o Brasil destino de material obsoleto.
Ramalho diz que a demanda mundial por bens de capital está aquecida em razão da expansão asiática e que os industriais brasileiros estão sendo levados a importar máquinas usadas porque não podem aguardar prazos de entregas de 12 a 24 meses. Em alguns casos, os empresários recorrem a essa situação enquanto aguardam a entrega da encomenda nova.
"Isso está acontecendo porque falta máquina para pronta-entrega, e os empresários precisam investir para atender à demanda interna e também para exportar. Tive relatos de que isso está ocorrendo no setor de autopeças e percebo que em outros setores também."
Ramalho acha que a compra de usados tende a aumentar neste ano porque os tradicionais fornecedores, como as fábricas alemãs, não conseguirão solucionar o gargalo da falta de produtos para entrega imediata no curto prazo.
O outro lado da questão é o risco de o Brasil se tornar o destino de maquinário de tecnologia ultrapassada descartado por empresas americanas e européias. Associações industriais vêem a elevação desse tipo de importação com apreensão porque avaliam que esse movimento pode comprometer a competitividade da indústria nacional.
A compra de máquinas e equipamentos é o destaque das importações do Brasil. No primeiro bimestre deste ano, esse gasto aumentou 57%, chegando a US$ 2,4 bilhões. Esse ritmo de crescimento é maior que o de 2007, quando as importações atingiram o recorde de US$ 120,6 bilhões, com US$ 25,1 bilhões de maquinário.

Via Campesina invade área de multinacional no Sul

Fonte: Folha de São Paulo


Folha de S.Paulo - Via Campesina invade área de multinacional no Sul - 05/03/2008
PM tira mais de 500 mulheres de fazenda com balas de borracha e bombas de efeito moral

Trabalhadoras, que querem destinar fazenda à reforma agrária, dizem que foram agredidas; responsáveis por retirada negam violência

Foto: Eduardo Seidl/AFP
- Integrantes da Via Campesina participam de invasão de terra


GILMAR PENTEADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ROSÁRIO DO SUL (RS)

Mais de 500 trabalhadoras rurais do movimento Via Campesina invadiram ontem a fazenda Tarumã em Rosário do Sul (390 km de Porto Alegre), que pertence à empresa finlandesa Stora Enso. Houve confronto com a Polícia Militar. As mulheres foram retiradas no fim do dia com a utilização de bombas de efeito moral e balas de borracha.
Pelo menos um PM sofreu um corte no braço provocado por uma foice. O movimento das trabalhadoras diz que dezenas de mulheres e crianças ficaram feridas, mas não havia confirmação do número de atingidos até o fechamento da edição.
As mulheres invadiram a fazenda de 2.075 hectares às 5h40 para protestar contra a exploração da área pela multinacional. Durante o dia, a PM cercou a fazenda e realizou a operação de retirada às 18h. Repórteres e fotógrafos foram retirados da área e ficaram a 11 km do local da invasão quando a operação foi feita. A polícia não soube justificar a medida.
O subcomandante da Brigada Militar no Rio Grande do Sul, coronel Paulo Mendes, que coordenou a operação, confirmou que foram usadas bombas de efeito moral e balas de borracha. Cães e cavalos também foram utilizados na operação que contou com 50 policiais.
O coronel não soube dizer se alguma manifestante sofreu ferimentos. Escoltadas pela PM, elas foram levadas de ônibus, às 21h30 de ontem, para uma delegacia na cidade vizinha de Santana do Livramento. Segundo o coronel, as mulheres podem ser indiciadas por danos e corrupção de menores.
Segundo a Via Campesina, 900 mulheres e 250 crianças participaram do protesto. Segundo a PM, eram 500 mulheres -as crianças não foram contadas. De acordo com o subcomandante, quatro hectares de eucaliptos foram destruídos. A Via Campesina disse que mulheres foram agredidas com tapas e socos. O coronel afirmou que houve "empurra-empurra".
A fazenda Tarumã, que foi invadida pela terceira vez, é usada pela Stora Enso há dois anos para cultivar eucalipto. A empresa conseguiu na Justiça um interdito proibitório, decisão que apressa o processo de reintegração de posse. A área fica a 80 km da fronteira com o Uruguai, o que a inclui nas exigências da lei de faixas de fronteira. Essa legislação exige aprovação prévia do Conselho de Defesa Nacional para a compra de terras por estrangeiros em qualquer área que fique na faixa de 150 km da fronteira.
No total, a empresa adquiriu 46 mil hectares no Rio Grande do Sul. Os trabalhadores querem que as áreas sejam destinadas à reforma agrária. Eles também acusam a multinacional de criar uma empresa brasileira laranja como forma de regularizar a terra fronteiriça. A criação da Azenglever é investigada pelo Ministério Público Federal no Estado.
A superintendência do Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária) afirma que a operação foi irregular.
O órgão, por meio de sua assessoria de imprensa, afirma que o licenciamento da aquisição de terras na região estava em andamento, quando o grupo finlandês suspendeu o processo e decidiu criar uma empresa para regularizar a situação das terras. O Incra define a medida da multinacional como uma "burla".

Colaborou FELIPE BÄCHTOLD , da Agência Folha

Lula minimiza trabalho degradante no país

Folha de S.Paulo - Lula minimiza trabalho degradante no país - 05/03/2008
Presidente afirmou que durante a Revolução Industrial o trabalho "era muito mais penoso" do que nas usinas de cana
.

Na sede da Embrapa, em Campinas, ele rebateu as críticas feitas por países da Europa ao desmatamento registrado na Amazônia



MAURÍCIO SIMIONATO
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS
Fonte: Folha de São Paulo

Ao defender o crescimento econômico do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu ontem, em Campinas (95 km de SP), países europeus que criticam o desmatamento na Amazônia. Lula ainda minimizou ocorrências de trabalho análogo à escravidão no país.
"Vira e mexe, agora virou moda ir para um debate na Europa e alguém ficar dizendo que nós estamos desmatando a Amazônia, não tem nem noção do crescimento da produtividade brasileira nos últimos 15 anos", disse na sede da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Logo em seguida, Lula se referiu à Revolução Industrial, ocorrida na Europa no século 18, para minimizar casos atuais de trabalho análogo à escravidão em usinas de cana.
"Vira e mexe, nós estamos vendo eles falarem do trabalho escravo no Brasil, sem lembrar que o desenvolvimento deles, à base do carvão, o trabalho era muito mais penoso do que o trabalho na cana-de-açúcar."


O trabalho degradante ou análogo à escravidão é combatido desde 1995 pelos grupos móveis do Ministério do Trabalho e Emprego. Só em 2007, período de atuação mais intensa, foram 5.877 libertações ou resgates. Conforme a Folha revelou em fevereiro, 53% das libertações ocorreram em usinas de cana (3.117 pessoas).
No ano passado, Lula tornou o álcool combustível uma de suas principais bandeiras, classificando os usineiros de "heróis mundiais". Mas, apesar dos esforços do presidente em promover o etanol, as exportações caíram 14% em 2007, para 3,2 bilhões de litros.
Mesmo assim, com apoio do governo, o setor sucroalcooleiro continua crescendo.

Segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana de Açúcar), a área plantada com cana saltou de 7 milhões de hectares em 2006 para 7,8 milhões hectares no fim do ano passado. A estimativa para a produção de cana na safra 2007/08 é de 487 milhões de toneladas. Serão 22 bilhões de litros de etanol.
O setor também é um importante doador do PT. Em 2006, foram mais de R$ 2 milhões vindos de produtores de álcool.

Desmatamento
Em janeiro, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgou dados sobre o aumento do desmatamento na Amazônia. A ministra Marina Silva (Meio Ambiente) apontou como provável causa a pressão por aumento da produção de soja e carne. A Secretaria de Meio Ambiente do governo de Mato Grosso contestou.
Na ocasião, Lula anunciou medidas emergenciais contra o desmatamento, mas criticou o "alarde" na divulgação do estudo. No fim de fevereiro, o governo lançou a Operação Arco de Fogo, que mobilizou forças federais no combate ao desmatamento e comércio ilegal de madeira na Amazônia Legal.


Ontem, ao citar o desmatamento e o trabalho degradante, Lula pediu "responsabilidade e maturidade" aos brasileiros no momento em que forem falar do país. "Cada vez que nós abrirmos a boca para dizer alguma coisa, isso não vai ter repercussão apenas internamente, vai ter repercussão lá fora."
Ele disse ainda que o Brasil deixou de ser "aquele país bonito de samba, Carnaval e jogador de futebol" e passou a competir "com aqueles que detinham o domínio do mercado mundial".
Mais tarde, Lula inaugurou o Centro de Nanociência e Nanotecnologia Cesar Lattes, também em Campinas. Ainda na cidade, visitou a Samsung, onde ganhou o novo celular com TV digital lançado pela empresa.

terça-feira, 4 de março de 2008

Cientistas descobrem molécula que pode prevenir contágio por Aids

04/03/2008 - 08h57 - Globo.com

Creme vaginal pode ser forma fácil e barata de combater o vírus.
Tratamento é obtido a partir de vegetais, como o milho.


Um consórcio internacional, liderado pelo pesquisador da Universidade de Lleida Paul Christou, obteve mediante engenharia genética no milho anticorpos do vírus da Aids, que poderia se constituir na base de um tratamento "barato e inócuo" de aplicação vaginal tópica.

A explicação foi dada nesta segunda-feira (4) por Christou, que dirigiu o trabalho de caráter filantrópico, que foi financiado pela União Européia (UE) com 12 milhões de euros (US$ 18,2 milhões) e contou com a participação de 39 grupos internacionais de pesquisa.

O cientista e seus colegas foram capazes de produzir a molécula 2G12, "um dos anticorpos mais promissores" contra o HIV, após introduzir um gene no milho e conseguir gerar grandes quantidades desta proteína nas sementes do cereal.

A pesquisa, cujos resultados aparecem publicados no último número da revista "Proceedings" of the National Academy of Sciences" ("PNAS"), comprova as "valiosas propriedades farmacêuticas" da molécula.

Ela poderia inclusive ser usada para projetar uma pasta de aplicação tópica com a qual combater o vírus da Aids de forma "barata e efetiva".

Além disso, os cientistas demonstraram que esta molécula também poderia ser obtida mediante engenharia genética nas sementes de outras plantas.

Segundo Christou, a importância da descoberta está em que este anticorpo poderia dar lugar a um remédio "muito mais barato" que os obtidos até o momento em cultivos de células de mamíferos, cuja principal desvantagem está no alto custo que supõe sua fabricação.

Em sua opinião, o medicamento poderia ser o futuro de uma "estratégia muito eficaz" contra o HIV, que inicialmente se aplicaria nos países africanos, onde a situação é mais grave e a aids afeta cerca de 22,5 milhões de pessoas.

Posteriormente, o remédio também poderia ser administrado entre os países desenvolvidos, embora antes de isso, disse, seja necessário fazer testes clínicos em humanos com os quais provar sua eficácia.

domingo, 2 de março de 2008

Exploração de pedra semipreciosa causa doença pulmonar

Enfermidade típica da Revolução Industrial, do século 18, atinge garimpeiros da "capital mundial da ametista", no RS

Segundo pesquisa, 30% dos trabalhadores em minas apresentam os sintomas; pelo menos 70 aguardam transplante de pulmão

Fonte: Folha de São Paulo




Caio Guatelli/Folha Imagem

Trabalhador mostra ametista em garimpo no RS

FELIPE BÄCHTOLD
DA AGÊNCIA FOLHA, EM
AMETISTA DO SUL (RS)

O ex-garimpeiro José Fermino Moreira, 54, fica cansado só de conversar. Há dois anos
afastado do trabalho na exploração de minas, sofre de silicose, doença pulmonar típica da
Revolução Industrial do século 18 e que atinge, em surto, uma cidade do interior gaúcho.

Ametista do Sul (422 km de Porto Alegre), município de 8.000 habitantes que se intitula
a "capital mundial da pedra ametista", tem quase 30% dos trabalhadores que exploram o
minério com sintomas da doença, segundo pesquisa da Universidade Federal de Santa
Maria (RS). De acordo com o governo do Estado, ao menos 70 moradores esperam transplante de pulmão, única saída para a doença, incurável.

A moléstia, uma das mais antigas doenças ocupacionais conhecidas, é
provocada pelo acúmulo de pó de sílica nos pulmões. A substância é
liberada da rocha durante escavações nas galerias subterrâneas onde a
pedra é encontrada. Ao longo dos anos, forma cicatrizes permanentes nos
pulmões. Entre seus sintomas estão tosse, fadiga, dor no peito e
alterações respiratórias.

Violeta, a ametista é usada principalmente na decoração de ambientes. Na cidade, um
quilo da pedra é vendido por R$ 6. Em sites estrangeiros, por quase cinco vezes mais. Mais de
1.200 trabalhadores atuam nas minas do município, cuja economia gira em torno da pedra.

Informalidade

A maior parte dos garimpeiros não tem amparo legal. Cada trabalhador é considerado autônomo, sem registro em carteira. Ao fim de cada semana, comercializam as pedras encontradas e 60% da venda vai para o dono da mina, em geral um pequeno proprietário.

Em média, o lucro do trabalhador é de R$ 600 ao mês. Os donos de garimpo, segundo a
associação local do setor, ganham R$ 3.000 mensais. A Folha visitou túneis onde a
pedra é explorada na cidade.

Sem proteção nos olhos e ouvidos, os garimpeiros passam o dia escavando a rocha com uma
espécie de britadeira, em galerias com 1,60 m de altura e 150 metros de extensão, em média.
Explosões feitas para ampliar as galerias lançam nuvens de poeira no túnel que levam
horas para se dissipar.

O pó liberado nas explosões e pelas britadeiras é o principal causador de problemas pulmonares. Precauções como máscaras passaram a ser adotadas apenas nos últimos anos. O ex-garimpeiro Moreira diz que nunca usou equipamentos de proteção, como botas e máscaras. Depois de 20 anos de trabalho, foi obrigado a deixar a atividade há dois anos, por ordem médica. Ofegante, diz que trabalhou com mineração por falta de opções na cidade.

Também aposentado às pressas, com silicose, Doralino de Castro, 63, diz que metade
de seus ex-colegas de mina teve problemas pulmonares. Ele trabalhou 30 anos no garimpo.

Transplante

O médico Sabino Bertão, que atua na cidade, diz que costumava atender pelo menos um
novo caso da doença por semana quando trabalhou para o SUS (Sistema Único de Saúde).

"A cidade se diz a capital mundial da ametista, mas pode virar a capital mundial da silicose."
Para ele, o transplante de pulmão, pela alta complexidade, não é uma alternativa viável
para quem contraiu a doença. Outros problemas na exploração das minas apontados pelos médicos são lesões nos olhos por detritos, desvios de coluna e mutilação em acidentes com explosivos.

A direção da cooperativa que reúne garimpeiros e donos de minas na região diz que vem investindo em segurança. Segundo a entidade, os garimpeiros são regidos pela legislação de trabalhadores autônomos e pagam contribuição à Previdência. O órgão define a relação entre donos de minas e garimpeiros como "parceria".


Colaborou CAIO GUATELLI , repórter-fotográfico

Ametista atrai crianças em busca de renda

DA AGÊNCIA FOLHA, EM
AMETISTA DO SUL (RS)

Em um precipício de 40 metros, Carine Favretto, 12, passa as tardes se equilibrando para coletar restos de ametista deixados pelos garimpeiros de Ametista do Sul. Ela cursa a sexta série pela manhã. À tarde, quebra com uma marreta blocos de rocha de cinco quilos que ela
traz do despenhadeiro: ali há pequenas quantidades da pedra semipreciosa.

Em dias bons, consegue achar R$ 5 em pedras. No momento em que conversou
com a Folha, ela tinha acabado de sofrer um corte no tornozelo. No local onde trabalha, pequenos tratores despejam a rocha retirada na construção das galerias. Carine diz que corre quando escuta as máquinas.

O pai dela também trabalha nas minas. "Eles [seus familiares] acham bom eu trabalhar porque aí eu ajudo." Ela diz que outras crianças da área rural procuram restos para ajudar em casa.

A Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul diz que há denúncias de trabalho infantil nas minas, mas o combate é difícil porque as crianças voltam à atividade.
(FB)

Responsável por 80% da economia local, atividade sofre efeito negativo do câmbio

DA AGÊNCIA FOLHA, EM
AMETISTA DO SUL (RS)

Sem acessos pavimentados, Ametista do Sul tem 80% da economia voltada para a exploração e o beneficiamento da pedra. Parte dos lucros com o minério, no entanto, vai para Soledade (220 km de Porto Alegre), que não tem minas, mas concentra as principais empresas que compram o
minério e o revendem para fora do país.

Há 260 garimpos na cidade, muitos na região central. Moradores dizem que as explosões
nos túneis danificam casas.

Comerciantes e políticos têm suas próprias minas, e a abundância do minério gerou ornamentos exóticos na cidade, como as paredes internas da igreja central e do principal hotel revestidas com a pedra violeta. O clima entre os garimpeiros e os pequenos empresários locais, no entanto, é de desânimo. Com a queda do dólar, o retorno da exploração e da manufatura para fora do país caiu até 50% e fechou garimpos.

O melhor momento da economia da região foi entre o fim da década passada e o ano de
2004. A expansão ajudou a cidade, com 16 anos de fundação, a se emancipar. Imigrantes alemães que tinham trabalhado em minas na Europa ajudaram a implantar a atividade.

Segundo o governo federal, as exportações de ametista rendem ao Rio Grande do Sul
US$ 60 milhões ao ano.
(FB)


Poluição piora na Grande SP e migra para o interior e litoral

Fonte: Folha de São Paulo

Reportagem fez levantamento com base nos boletins de qualidade do ar da Cetesb

Em 2007, aumentou em 54% o número de vezes em que a qualidade do ar ficou inadequada ou má, na comparação com 2006

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

A qualidade do ar na Grande São Paulo voltou a piorar no ano passado, rompendo um ciclo de declínio desde 2002. Aumentou em 54% o número de vezes -contando todas as medições realizadas pela Cetesb- em que o ar ficou com qualidade inadequada ou má em 2007, comparando com 2006.
Em 2007, em pelo menos um dos 24 pontos de monitoramento, o ar ficou impróprio por excesso de ozônio durante 67 dias. Em 2006, foram 46.
A Cetesb começou a monitorar, a partir de março de 2007, a região da Cidade Universitária da USP, um dos pontos mais procurados por esportistas na cidade, e o resultado assustou: ficou 33 vezes com o ar em situação imprópria.
Além da piora, a poluição da região metropolitana avança para o interior e litoral do Estado e atinge locais a uma distância superior a 600 quilômetros.
A nova tecnologia dos automóveis ajudou a melhorar a qualidade do ar a partir de 2002, mas o crescimento econômico -que impulsionou a venda de carros- acabou por reverter esse quadro.

QUALIDADE DO AR


54%
é o aumento do número de vezes em que o ar ficou com qualidade inadequada ou má em 2007, comparando com 2006.

33
é número de vezes que a região da cidade universitária da USP, teve avaliação imprópria do ar desde março de 2007.

600 km

é o alcance da poluição da região metropolitana ao avançar em direção ao interior

SP: Qualidade do ar cai após 5 anos de melhorias

Folha de S.Paulo - Poluição piora na Grande SP e migra para o interior e litoral - 02/03/2008





Número de vezes em que a poluição ficou acima do aceitável teve um salto de 54% em 2007 em relação ao ano anterior




Mancha de poluição já
avança 600 km da região
metropolitana e atinge a
região oeste do Estado; Inpe
estuda migração desde 2002



DA REPORTAGEM LOCAL



Respirar ar puro na Grande
São Paulo voltou a ficar mais difícil. O nível de poluição rompeu um ciclo de declínio que
ocorria desde 2002, cresceu no
ano passado e, pior, migra para
o interior e o litoral do Estado.

Levantamento da Folha com
base nos boletins diários de
qualidade do ar da Cetesb
aponta um salto de 54% no número de vezes -contando todas as medições do órgão- em
que o ar ficou com qualidade
inadequada ou má em 2007,
comparando com 2006.

Além disso, o número de dias
em que o ar esteve inaceitável
em pelo menos uma das estações de medição, devido ao excesso de ozônio, subiu 45,6%
entre 2006 e 2007. No ano passado, em 67 dias houve qualidade ruim do ar em ao menos
um dos 24 pontos de monitoramento. Em 2006, foram 46.

Em outros sete dias de 2007
o ar estava ruim em pelo menos uma estação, mas por outros poluentes -monóxido de
carbono, material particulado e
dióxido de nitrogênio.

Segundo Carlos Lacava, assessor da diretoria de engenharia da Cetesb, São Paulo é uma
das piores cidades do mundo
em relação à poluição por ozônio. "É comparável à Cidade do
México [uma das mais poluídas
do mundo em razão de emissões urbanas]", afirma.

A queda na qualidade do ar
coincide com a retomada da
economia no país, que impulsionou o consumo de combustíveis e a venda de automóveis.

Houve aumento de 6,31% do
consumo de óleo diesel, um dos
principais poluentes da região
metropolitana. E a cidade de
São Paulo acaba de atingir a
marca de 6 milhões de veículos.

Além de afetar o ar da região
metropolitana -maior emissora de poluição urbana do hemisfério Sul-, a mancha de poluição já avança mais de 600
km e atinge o extremo oeste do
Estado, à beira do rio Paraná.

O monitoramento por satélite feito pelo Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais) começou a detectar essa
migração em 2002, mas não é
possível dizer se o problema está aumentando ou caindo, já
que seria preciso uma série histórica maior para comparar.

A Cetesb considera que estão
esgotados os mecanismos que
vinham sendo adotados para
controlar a poluição, como a
tecnologia que tornou automóveis menos poluentes e a adoção do rodízio de veículos.

Embora ainda não tenha clareza de novas medidas de controle, técnicos
da agência estudam alternativas, como a inspeção veicular obrigatória e
pressões pela melhoria da qualidade do óleo diesel, com menor adição de
enxofre, papel da ANP (Agência Nacional de Petróleo) e da Petrobras.

Para o chefe do Laboratório
de Física Atmosférica da USP,
Paulo Artaxo, a poluição é um
problema crítico de São Paulo.
Porém, até agora não existe nenhum plano coerente de controle dos níveis de poluentes.
"É dever do poder público ter
um plano de longo prazo, com
metas estabelecidas e punições
para setores que não atingirem
os objetivos", afirma.

Além da inspeção veicular,
ele sugere entre as intervenções possíveis a ampliação da
rede de metrô, pedágios urbanos e incentivo para veículos a
gás, menos poluentes.



Mancha


Com maior controle das
emissões, deve haver uma tendência de queda dos níveis de
poluição também no interior
do Estado. Isso porque a Grande SP exporta poluentes a centenas de quilômetros, conforme revela o monitoramento
por satélite feito pelo Inpe.

Ainda não é possível dimensionar quanto da poluição do
interior é oriunda da capital, já
que muitos municípios "produzem" a sua própria poluição por
conta dos veículos, indústrias e
também em razão das queimadas. Testes da Cetesb indicam
que há cidades em que o nível
de poluentes ultrapassou índices adequados, como Jaú, Paulínia e Ribeirão Preto.

Por isso, a Cetesb planeja implantar dez estações de medição fora da Grande SP, onde o
monitoramente esporádico revelou índices de qualidade
ruins. A poluição já chegou, segundo o Inpe, a São Francisco
Xavier, distrito de São José dos
Campos encravado na serra da
Mantiqueira, região de montanhas com fama de ter um dos
melhores ares do mundo.
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO E AFRA BALAZINA)