sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Deputados aprovam bônus para educação

Fonte FSP de 12/12/08
Deputados aprovam bônus para educação
DA REPORTAGEM LOCAL
A Assembléia Legislativa de São Paulo aprovou na noite de anteontem o projeto enviado pelo governo José Serra (PSDB) que prevê o pagamento de bônus por desempenho aos servidores da educação. Para valer, a proposta deve ser homologada pelo governador.O bônus por desempenho substitui a gratificação que era calculada apenas com base nas faltas dos servidores e custou R$ 450 milhões neste ano.Ele vai dar até 2,4 salários a mais (20% do rendimento do ano) a todos os profissionais das escolas que atingirem as metas de melhoria anual estipuladas com base no Idesp -índice estadual que considera o desempenho dos alunos nas provas do Saresp e as taxas de aprovação e abandono.O bônus será proporcional ao desempenho da unidade (se atingir apenas metade da meta, será pago 1,2 salário). Se a escola ultrapassar o objetivo, a bonificação chegará a 2,9 salários.Também será considerado, individualmente, o absenteísmo. Se o servidor, por exemplo, cumprir metade da carga horária, receberá metade do bônus fixado para sua escola.

Comentário: Fala-se em incentivo e valorização do trabalho do educador, entretanto, a que se pensar neste tipo de atitude e quais as conseqüências para o sistema de educação e para a saúde dos trabalhadores envolvidos. Alguns pontos: o referente bônus é apenas para professores ou é também para funcionários não docentes? As metas são apenas índice de aprovação (com a progressão continuada???, do que estamos falando?), abandono escolar (sem nenhuma outra proposta de trabalho de indentificação das razões para este abandono e ações de combate a isso?), e por fim o Saresp (correndo o risco de invertermos a lógica da avaliação e de construirmos um sistema de educação que vise à prova e não uma prova que vise nos dar pistas de pontos de melhora do sistema de educação!). Além disso, é preciso trabalhar fortemente nos problemas que levam ao adoecimento dos educadores docentes e não docentes, e não trocar a saúde destes por dinheiro, ou no caso, a ida ao médico, ou um tratamento de saúde pelo bônus! Alecxandra Ito

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Cronologia Direitos Humanos


Fonte: Folha Online







Carta dos Direitos Humanos chega aos 60 como marco

Fonte: Folha de São Paulo

Carta dos Direitos Humanos chega aos 60 como marco

Apesar de revezes em sua aplicação, declaração da ONU é referência obrigatória Documento inspira tratados globais e leis em mais de 90 países; alta comissária lamenta persistência de impunidade e autoritarismo

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, talvez o documento internacional mais conhecido da história, completa hoje 60 anos de sua adoção como referência obrigatória no respeito às liberdades e direitos fundamentais do homem.
Mesmo entre os ativistas que se dedicam a denunciar a limitada aplicação prática de seus 30 artigos, o texto é considerado a pedra fundamental do reconhecimento da igualdade e dignidade humanas, um marco que influenciou todos os tratados e iniciativas sobre o tema nas últimas seis décadas.
Inspirada na Declaração francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, e na Declaração de Independência dos EUA, de 1776, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi criada sob o efeito do trauma provocado pelos horrores da Segunda Guerra Mundial e do genocídio nazista.
Seu primeiro artigo é certamente um dos mais repetidos em todos os tempos: "Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade". Os demais 29 defendem direitos básicos, como alimentação, segurança, trabalho e liberdade de expressão.
Artigos muitas vezes em falta no planeta, reconhece a alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Navanethem Pillay, para quem a declaração continua sendo uma "promessa não cumprida". Mas ela lembra que o documento inspirou vários tratados internacionais e as leis de mais de 90 países.
Além disso, diz Pillay, a declaração motivou a criação de mecanismos regionais e nacionais de monitoramento do respeito a seus princípios, incluindo o Alto Comissariado, que chefia desde setembro.Para ela, a obsessão por segurança em alguns países nos últimos anos criou um novo desafio à declaração. "É preciso reconhecer que a impunidade, os conflitos armados e os regimes autoritários não foram derrotados, e que, lamentavelmente, os direitos humanos são às vezes colocados de lado em nome da segurança", disse a sul-africana Pillay à Folha, por email.

"Incontornável"

Adotado em Paris no dia 10 de dezembro de 1948 pelos então 58 Estados-membros da ONU, entre eles o Brasil, o documento tornou-se a base de tudo o que foi pensado em direitos humanos desde então."
A Declaração Universal é um texto incontornável, que inspirou sete tratados e a própria estrutura da Comissão de Direitos Humanos da ONU", disse à Folha, de Pequim, o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, um dos brasileiros mais respeitados na área.
Pinheiro, que foi relator da ONU em países onde o respeito aos princípios da declaração são pouco mais que uma utopia, como Mianmar, destaca a relevância histórica do texto."Ele lembra que o século 20 não foi só os horrores de genocídio e limpeza étnica, mas também o início da caminhada para combater essas e outras atrocidades", diz.
A embaixadora do Brasil para direitos humanos em Genebra, Maria Nazareth Farani Azevedo, defende a declaração como instrumento de cooperação, não de pressão. "Direitos humanos devem servir como inspiração, não imposição.
"A aplicação do documento é tema de constantes debates. Os ativistas que acompanham o Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, costumam deixar as sessões com uma sensação de impotência, pela falta de mecanismos de punição aos violadores.
"Ninguém nega a importância da declaração, nem os países que não a respeitam", diz Julie Rivero, da Human Rights Watch. "O problema é que a politização dos debates leva os países a esquecerem que o mais importante é a defesa das vítimas, não de seus interesses."

QUASE UM BILHÃO PASSA FOME NO MUNDO, DIZ FAO

POBREZA
QUASE UM BILHÃO PASSA FOME NO MUNDO, DIZ FAO

Na esteira da crise alimentar e econômica, subiu de 923 milhões para 963 milhões o número de desnutridos no último ano, informou ontem a FAO. A agência da ONU para a alimentação e a agricultura alerta que a crise pode levar mais pessoas à pobreza ao diminuir remessas de dinheiro, investimentos e ajuda humanitária.

Entrevista Sérgio Adorno: "Omissão também é violação"

Fonte: Folha de São Paulo

"Omissão também é violação"
Vácuo institucional alimenta animosidades e solapa Declaração Universal dos Direitos Humanos, diz Sérgio Adorno
Para sociólogo, ações internacionais têm sido ineficazes na reconstrução de Estados; casos como o de Guantánamo são paradoxo

CLARA FAGUNDESDA REDAÇÃO

A omissão do Estado é também uma forma de violação humanitária, afirma Sérgio Adorno, coordenador do Núcleo de Estudos sobre a Violência da USP. Otimista sobre o efeito prático da Declaração Universal dos Direitos Humanos, sexagenária hoje, o sociólogo disse à Folha que o tema se impôs nas relações entre países, embora a eficácia das convenções internacionais ainda seja "um grande desafio".

FOLHA - Qual o legado da Declaração Universal dos Direitos Humanos após 60 anos?SÉRGIO ADORNO - O principal legado é o reconhecimento de que, apesar das diferenças étnicas, religiosas, sexuais, políticas, econômicas, culturais e de poder, todos têm direito a ter direitos. O principal deles é o direito à vida, do qual decorrem as liberdades civis, políticas e os direitos coletivos.
FOLHA - A declaração produziu consciência sobre os direitos humanos. Mas como esse reconhecimento internacional se traduz em ações práticas?ADORNO - Essa consciência sobre os direitos humanos resultou em convenções assinadas por diversos Estados. Além da própria declaração de 1948, há hoje convenções internacionais sobre os direitos de grupos específicos, como mulheres e crianças, de repúdio a práticas como o racismo e o genocídio.A ampliação e a eficácia das convenções ainda é um grande desafio, mas acho que muita coisa aconteceu nesses 60 anos.Foram criados, no âmbito da própria ONU, mecanismos de fiscalização, como sanções e tribunais. Os direitos humanos são uma pauta constante das relações internacionais.
FOLHA - A principal crítica à Comissão de Direitos Humanos da ONU era o seu viés político. Até que ponto o Conselho de Direitos Humanos, que a substituiu em 2006, representa um avanço?ADORNO - A pressão política é muito forte nos fóruns internacionais. Mas a iniciativa da comissão de visitar os países e fazer relatórios é uma forma de pressão. O monitoramento é feito também por agentes do Estado, sobretudo, não-governamentais. Estamos falando, porém, de relações políticas...Há países que limitam a visita das comissões, o que é grave.
FOLHA - É o que ocorre em Guantánamo [base militar, em Cuba, onde os EUA mantêm os detidos da "guerra ao terror"]...ADORNO - O caso de Guantánamo é um contra-senso. Os EUA alegam que os detidos são terroristas e não prisioneiros de guerra. Mas você não pode excluir pessoas da comunidade humana; o direito à defesa e à dignidade se aplica a todos, independentemente dos crimes que possam ter cometido.
FOLHA - Os direitos humanos surgiram como uma afirmação do indivíduo face à tirania do Estado. O que muda hoje, quando a falência do Estado é considerada uma razão primordial de violações?ADORNO - As violações não envolvem necessariamente uma intervenção ativa do Estado, mas também a omissão. O vácuo institucional cria um clima de todos contra todos. A ação internacional tem sido ineficaz quando é preciso restaurar as bases do Estado.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Empréstimo consignado de aposentado cresce 15,3%

João Wainer/Folha

Escrito por Josias de Souza
No último mês de outubro, o volume de empréstimos consignados contraídos por aposentados do INSS cresceu em relação a setembro.

Bancos e financeiras credenciados junto ao INSS emprestaram à clientela da Previdência R$ 198,4 milhões em outubro.

No mês anterior, o volume de empréstimos fora de R$ 172 milhões. Um aumento, portanto, de 15,3%.

Os dados foram divulgados pelo próprio INSS. Têm defesagem de mais de um mês. Foi em outubro que a crise global deu as caras.

É preciso aguardar pelas informações relativas a novembro e dezembro para saber se a encrenca financeira afetou o ânimo de pensionistas e aposentados.

Lula e sua equipe vêm adotando um discurso de estímulo ao consumo, ainda que escorado no crédito.

Desde 2004, ano em que o empréstimo consignado do INSS foi regulamentado, o total de empréstimos alcança uma marca bilionária: R$ 23,713 bilhões.

Foram 14,97 milhões de operações. Encontram-se "ativas". Ou seja, as dívidas ainda não foram saldadas. O INSS não informou em seu comunicado o nível de inadimplência.

Câmara instala comissão para analisar redução de jornada de trabalho e cria três CPIs

Iolando Lourenço
Da Agência Brasil
Em Brasília (DF)

Uma Comissão Especial da Câmara destinada a analisar o mérito da proposta de emenda à Constituição, que reduz a jornada de trabalho das atuais 44 horas para 40 horas semanais (PEC 231, de 1995), será instalada amanhã (9), às 14h. A PEC, que altera os incisos 13 e 16 do artigo 7° da Constituição, também aumenta para 75 % a remuneração de serviços extraordinários.

A Comissão terá o prazo regimental de 40 sessões da Câmara para analisar a matéria, elaborar e votar o parecer do relator. Concluídas essas etapas, a PEC será encaminhada à discussão e votação, em dois turnos, no plenário da Câmara. Na solenidade de instalação da comissão, serão eleitos o presidente e os três vices e será escolhido o relator da proposta. A PEC é de autoria do então deputado e hoje senador Inácio Arruda (PCdoB-CE).

Também hoje (8), o presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), criou três Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para investigar temas de relevância nacional. Uma das CPIs, que tem como primeira autora a deputada Andreia Zito (PSDB-RJ), destina-se a investigar o desaparecimento de crianças e adolescentes.

Outra CPI, de autoria do deputado Ivan Valente (P-SOL-SP), tem como objetivo investigar a dívida pública da União, dos estados e dos municípios. A terceira CPI criada, de autoria do deputado Alexandre Silveira (PPS-MG), tem com objeto de investigação a violência urbana. Ao assinar o ato de criação das CPIs, Chinaglia não determinou a data de instalação das comissões.

Criadas as CPIs, caberá aos líderes partidários indicar os integrantes das comissões para que elas possam ser instaladas. Se as indicações forem feitas até o início da próxima semana, as comissão poderão ser instaladas ainda neste ano. Do contrário, elas só serão instaladas no novo ano legislativo, que começa em 1º de fevereiro de 2009.

Artistas voltam ao Senado pela cota da meia-entrada

RENATA GIRALDI
da Folha Online

Por unanimidade, a Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado aprovou em segundo turno nesta terça-feira o projeto que fixa cota de 40% para a venda de meia-entrada em todo o país.

O debate e a votação virou o centro das atenções no Congresso Nacional, elevando o quórum na comissão, e atraindo curiosos pela presença de vários artistas famosos.

Os atores Paulo Goulart, Irene Ravache, Arlete Salles, Júlia Lemmertz, Marcelo Serrado, Christiane Torloni e Heloisa Perissé, além do cantor Frejat acompanharam a sessão e fizeram lobby em favor da aprovação da proposta.

A partir da aprovação da proposta, segundo os artistas, a tendência é de os preços dos ingressos caírem em todo país.

"A meia-entrada elevou o valor [dos ingressos] para algo altíssimo. Essa conta vai ser refeita", afirmou Christiane Torloni. "[A aprovação do projeto] vai moralizar o valor [das entradas em todo país]."

Como ocorreu, durante o primeiro turno de votação da proposta, parlamentares dos mais diversos partidos que nem acompanhavam o assunto e fãs se aglomeraram na sala da comissão.

Discussão tensa

Mas a discussão ficou tensa quando o senador João Pedro (PT-AC) afirmou que a inclusão dos idosos na proposta, como foi aprovada, contraria o Estatuto do Idoso --que fixa o direito de pagar 50% do valor das entradas aos que têm mais de 60 anos.

A relatora da proposta, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), negou que seu texto desobedeça o estatuto. Segundo ela, a intenção é fixar uma regra geral que seja seguida por todos. Na opinião da tucana, seria "muito difícil" fiscalizar a entrada de idosos e estudantes, se fosse liberada a entrada para todos os que têm mais de 60 anos.

Cotas

Pela proposta aprovada, será fixada a cota de 40% para a venda de meia-entrada em todo país. A ordem vai valer para espetáculos, salas de cinema e também eventos esportivos, incluindo museus e circos.

As carteiras de estudantes deverão ser confeccionada pela Casa da Moeda, mas com aval das entidades estudantis. Já o controle, a fiscalização e eventuais punições serão realizadas por órgãos federais, estaduais e municipais.

O texto tem de ser submetido a discussões em duas comissões na Câmara, depois no plenário, se alterado, retornará ao Senado. O controle das cotas deverá ser feito por um conselho, comando pelo governo federal, que vai definir ainda sobre a possível venda antecipada dos ingressos.

Não há data para a votação da proposta na Câmara. Deputados e senadores entrarão em recesso a partir do dia 22 de dezembro, retornando às atividades apenas na primeira semana de fevereiro de 2009.

Câmara aprova MP que reajusta salários de 380 mil servidores públicos

GABRIELA GUERREIRO
RENATA GIRALDI
da Folha Online, em Brasília

A Câmara aprovou nesta terça-feira o texto-base da medida provisória 441/08 que reajusta os salários de cerca de 380 mil servidores públicos federais, de 54 categorias do funcionalismo. O governo estima em R$ 10 bilhões o impacto dos reajustes nos cofres públicos até 2011 --uma vez que os aumentos nos salários são escalonados pelos próximos dois anos.

Os deputados ainda vão analisar os destaques à matéria, o que pode alterar a proposta inicial.

O reajuste contempla servidores de agências reguladoras e outros órgãos do funcionalismo público, como a Funai (Fundação Nacional do Índio), a AGU (Advocacia Geral da União) e Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes).

O Senado, que aprovou a MP no final de novembro, acatou 22 emendas à proposta --por isso a medida teve que retornar para nova análise dos deputados antes de seguir para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os deputados vão analisar ainda nesta terça-feira oito emendas que foram destacadas por vários partidos. Uma delas autoriza a progressão automática de carreira a oficiais e assistente de chancelarias que ficarem por mais de 15 anos na mesma categoria diplomática.

O Senado também aprovou, em novembro, outra MP que reajustou os salários de servidores públicos. O custo total decorrente da implementação da segunda medida provisória é de R$ 1,9 bilhão, em 2008; R$ 4,7 bilhões, em 2009; R$ 6,6 bilhões, em 2010; e R$ 7,2 bilhões, em 2011, segundo informações do Executivo.

A outra medida beneficia um total de 91.308 servidores civis, sendo 45.661 ativos, 30.062 aposentados e 15.585 pensionistas, distribuídos em oito carreiras, entre as quais as de auditor da Receita Federal, fiscal do trabalho e diplomata.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Entrevista BAN KI-MOON: Com novo peso global, Brasil tem mais responsabilidades

Fonte: Folha de São Paulo

BAN KI-MOON

Com novo peso global, Brasil tem mais responsabilidades

Para dirigente da ONU, Obama é fonte de "mudança climática" nas relações internacionais

EM JANEIRO , Ban Ki-moon completa dois anos no cargo de secretário-geral da Organização das Nações Unidas em meio à mais grave crise financeira mundial desde a fundação da entidade, em 1945. Para o diplomata sul-coreano, é o momento de a ONU assumir papel de liderança para permitir uma resposta coordenada à crise, que inclua a reforma das instituições multilaterais e a maior participação de países emergentes, como o Brasil. Ban aposta em avanços no projeto de ampliar o Conselho de Segurança da ONU, no qual o Brasil aspira a um assento permanente.

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A DOHA

Diplomático, Ban Ki-moon, não diz qual a melhor fórmula de expansão, mas lembra que, com o peso mundial crescente do país, espera um maior "senso de responsabilidade" do Brasil. Em entrevista exclusiva concedida à Folha durante dois vôos, Ban falou de seus dois primeiros anos no cargo e não escondeu sua satisfação com a eleição de Barack Obama, que classificou como uma "mudança climática" na política mundial. "Estou muito otimista", disse.

FOLHA - Esta é a maior crise financeira desde a criação da ONU. Qual a relevância da organização neste momento?
BAN KI-MOON -
As Nações Unidas são o único órgão intergovernamental com capacidade de assumir um papel universal no combate à crise. Cada país pode implementar medidas domésticas. Mas, se elas não forem coordenadas internacionalmente, o impacto será reduzido. A ONU pode dar um valor agregado a essas medidas, sobretudo diminuindo os efeitos nos países em desenvolvimento. Se os problemas sociais e econômicos criados pela crise financeira não forem atacados, a estabilidade política e a paz estarão sob ameaça.

FOLHA - Apesar dos discursos e conferências, a impressão é de que ainda há muita relutância em estabelecer uma resposta coletiva à crise. Os países membros estão dispostos a dar à ONU esse papel de liderança?
BAN -
Recebemos um mandato para esse tipo de ação. Um bom exemplo foi como a ONU lidou com a crise alimentar. Eu estabeleci uma força-tarefa de alto nível, formada por todas as instituições da organização, que foi muito bem-sucedida no sentido de estabelecer um plano de ação. As Metas do Milênio, que incluem a redução de infectados pelo vírus HIV e da mortalidade infantil, o combate ao aquecimento global e a educação, são temas que não podem ser resolvidos por um único país, por mais poderoso que ele seja. Precisamos de uma ação coletiva concertada, que só pode ser feita pela ONU.

FOLHA - O sr. insistiu na realização da Conferência de Doha, para discutir uma ação contra a crise. Ficou surpreso com a resistência em reformar as instituições internacionais, mesmo dentro da ONU?
BAN -
Não fiquei tão surpreso, pois já esperava por isso. Mas acho importante que os países desenvolvidos, onde a crise teve início, reconheçam a importância de uma ação coletiva e de que é preciso reformar as instituições para dar mais voz aos emergentes. Isso já está ocorrendo nas instituições de Bretton Woods, onde Robert Zoellick [presidente do Banco Mundial] e Dominique Strauss-Kahn [diretor-gerente do FMI] nomearam comissões para estudar as reformas.

FOLHA - Para muitos, a crise é o prenúncio de uma nova ordem mundial. Que lugar devem ter os países emergentes?
BAN -
O discurso do presidente Lula em Washington foi eloqüente e apaixonado e deixou todos impressionados. Reforçou o forte chamado atual por reformas das instituições de Bretton Woods e o fortalecimento das regras que monitoram os sistemas bancário e financeiro. Antes de mais nada, cada país precisa apagar o seu incêndio, para que ele não se espalhe para os vizinhos. Mas creio que são necessárias modalidades inclusivas e multilaterais, uma visão mais abrangente. Não há uma fórmula fechada: começaram com G7, depois expandiram para G8. Agora, considerando que a maior parte do crescimento econômico vem dos emergentes, expandiram para G20. Esses países representam 90% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial e da população, então tecnicamente é um formato justo. Mas não há um corte exato.

FOLHA - E o Brasil?
BAN -
Por qualquer critério, o Brasil é hoje um dos países mais importantes do mundo e está no centro das discussões sobre os maiores desafios, como as mudanças climáticas e a crise financeira. Tem um papel-chave no G20. Com isso, também terá que ter um maior senso de responsabilidade.

FOLHA - Este é um bom momento para a ampliação do Conselho de Segurança, com a inclusão do Brasil entre os membros permanentes?
BAN -
A Assembléia Geral da ONU tomou uma decisão muito importante em setembro. Pela primeira vez aprovou, por consenso, que os membros devem dar início a uma negociação para a reforma do Conselho de Segurança. Isso deve acontecer até 28 de fevereiro. Agora, cabe aos membros decidir como essa expansão deve ser feita. Há o chamado G4 [Brasil, Índia, Japão e Alemanha], mas também há países com outras idéias, como o Unindo por Consenso [grupo contrário ao G4 composto por 40 países, entre eles Argentina e Itália]. Há consenso, porém, sobre a necessidade de reformar e expandir o Conselho de Segurança. Seria bom para a ONU, para refletir a dramática mudança política ocorrida no mundo.

FOLHA - O "maior senso de responsabilidade" que o sr. espera do Brasil também inclui mais contribuição financeira e em tropas para a ONU?
BAN -
Sim, inclui todos esses aspectos, das missões de manutenção da paz, à contribuição financeira e ao cumprimento de metas ambientais.

FOLHA - O sr. vê oportunidades nesta crise?
BAN -
Se os pacotes de estímulo econômico forem investidos em economia verde, é possível criar milhões de empregos. Veja o caso da China: um terço do seu pacote de estímulo será investido em economia verde. Isso levará a uma profusão de inovação tecnológica que criará empregos. Biocombustíveis são uma das formas de criar empregos e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Quando visitei o Brasil, no ano passado, fiquei impressionado com o investimento de longo prazo em tecnologia e a inovação na produção de etanol.

FOLHA - O governo Bush invadiu o Iraque sem autorização da ONU e foi avesso ao sistema multilateral. Que mudanças o sr. espera com o novo presidente dos EUA?
BAN -
Acho que podemos esperar uma mudança climática em termos políticos com a eleição de Barack Obama. Fiquei muito impressionado com o seu forte compromisso com o multilateralismo, por exemplo no combate ao aquecimento global. Tive uma ótima conversa com ele, que me deixou muito otimista ao prometer que os EUA fortalecerão sua parceria com a ONU.

FOLHA - Nesses quase dois anos no cargo, o que o sr. considera ser sua maior conquista e qual foi a maior frustração?
BAN -
Ainda é muito cedo para dizer que tive conquistas. Não porque sou modesto, mas porque os desafios são muitos. Veja o caso das mudanças climáticas. Este é o melhor exemplo da necessidade de uma parceria global. Por um lado, temos agora esperança de uma contribuição dos EUA. Por outro, há sinais desencorajadores na Europa, de recuo das metas estabelecidas.
Meu trabalho é um contínuo processo de persuasão. Exige diálogo o tempo todo, pois cada um dos 192 membros é um país soberano, com diferentes culturas e interesses. Há conflitos e é preciso chegar a um equilíbrio entre o interesse coletivo e o doméstico. Meu papel é harmonizar todos esses interesses em uma estrutura coerente.


O jornalista viajou a Doha a convite da ONU