quarta-feira, 5 de março de 2008

Via Campesina invade área de multinacional no Sul

Fonte: Folha de São Paulo


Folha de S.Paulo - Via Campesina invade área de multinacional no Sul - 05/03/2008
PM tira mais de 500 mulheres de fazenda com balas de borracha e bombas de efeito moral

Trabalhadoras, que querem destinar fazenda à reforma agrária, dizem que foram agredidas; responsáveis por retirada negam violência

Foto: Eduardo Seidl/AFP
- Integrantes da Via Campesina participam de invasão de terra


GILMAR PENTEADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ROSÁRIO DO SUL (RS)

Mais de 500 trabalhadoras rurais do movimento Via Campesina invadiram ontem a fazenda Tarumã em Rosário do Sul (390 km de Porto Alegre), que pertence à empresa finlandesa Stora Enso. Houve confronto com a Polícia Militar. As mulheres foram retiradas no fim do dia com a utilização de bombas de efeito moral e balas de borracha.
Pelo menos um PM sofreu um corte no braço provocado por uma foice. O movimento das trabalhadoras diz que dezenas de mulheres e crianças ficaram feridas, mas não havia confirmação do número de atingidos até o fechamento da edição.
As mulheres invadiram a fazenda de 2.075 hectares às 5h40 para protestar contra a exploração da área pela multinacional. Durante o dia, a PM cercou a fazenda e realizou a operação de retirada às 18h. Repórteres e fotógrafos foram retirados da área e ficaram a 11 km do local da invasão quando a operação foi feita. A polícia não soube justificar a medida.
O subcomandante da Brigada Militar no Rio Grande do Sul, coronel Paulo Mendes, que coordenou a operação, confirmou que foram usadas bombas de efeito moral e balas de borracha. Cães e cavalos também foram utilizados na operação que contou com 50 policiais.
O coronel não soube dizer se alguma manifestante sofreu ferimentos. Escoltadas pela PM, elas foram levadas de ônibus, às 21h30 de ontem, para uma delegacia na cidade vizinha de Santana do Livramento. Segundo o coronel, as mulheres podem ser indiciadas por danos e corrupção de menores.
Segundo a Via Campesina, 900 mulheres e 250 crianças participaram do protesto. Segundo a PM, eram 500 mulheres -as crianças não foram contadas. De acordo com o subcomandante, quatro hectares de eucaliptos foram destruídos. A Via Campesina disse que mulheres foram agredidas com tapas e socos. O coronel afirmou que houve "empurra-empurra".
A fazenda Tarumã, que foi invadida pela terceira vez, é usada pela Stora Enso há dois anos para cultivar eucalipto. A empresa conseguiu na Justiça um interdito proibitório, decisão que apressa o processo de reintegração de posse. A área fica a 80 km da fronteira com o Uruguai, o que a inclui nas exigências da lei de faixas de fronteira. Essa legislação exige aprovação prévia do Conselho de Defesa Nacional para a compra de terras por estrangeiros em qualquer área que fique na faixa de 150 km da fronteira.
No total, a empresa adquiriu 46 mil hectares no Rio Grande do Sul. Os trabalhadores querem que as áreas sejam destinadas à reforma agrária. Eles também acusam a multinacional de criar uma empresa brasileira laranja como forma de regularizar a terra fronteiriça. A criação da Azenglever é investigada pelo Ministério Público Federal no Estado.
A superintendência do Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária) afirma que a operação foi irregular.
O órgão, por meio de sua assessoria de imprensa, afirma que o licenciamento da aquisição de terras na região estava em andamento, quando o grupo finlandês suspendeu o processo e decidiu criar uma empresa para regularizar a situação das terras. O Incra define a medida da multinacional como uma "burla".

Colaborou FELIPE BÄCHTOLD , da Agência Folha

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