sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Entrevista - Pesquisadores sobre a saúde do trabalhador

A Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Rio Grande do Sul (Feteesul) está desenvolvendo uma pesquisa sobre a saúde dos trabalhadores auxiliares em administração em escolas particulares, encomendada para o Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho. Todos os sindicatos filiados à Feteesul participam da pesquisa, entre eles o Saaesl e Região.
O objetivo é identificar a qualidade do ambiente de trabalho e mapear doenças ocupacionais específicas deste profissionais, para posterior subsídios aos sindicatos na implementação de campanhas de prevenção e negociação de cláusulas específicas para a Convenção Coletiva de Trabalho.
A Hora Sindical entrevistou os técnicos do Diesat que estão aplicando os questionários e também irão desenvolver a etapa quantitativa.
Alecxandra Mari Ito
Psicóloga pela USP e especialista em Saúde Coletiva pela Unifesp. É técnica da Diesat.
Wilson Cesar Ribeiro Campos
Psicólogo pela USP, especialista em Saúde Coletiva pela Unifesp e graduando em filosofia pela USP. É coordenador técnico do Diesat.

HORA SINDICAL: Qual o quadro da saúde dos trabalhadores no Brasil?
DIESAT: Historicamente a saúde dos trabalhadores no Brasil tem sido deixada em segundo plano, geralmente as questões econômicas e salariais são colocadas em primeiro plano. Em 2006 foram contabilizados 503.890 acidentes de trabalho, sendo quase 27 mil doenças relacionadas ao trabalho, no entanto, sabemos que estes dados são subnotificados, ou seja, vários trabalhadores que sofrem acidentes não são registrados através da Comunicação de Acidente de Trabalho - CAT, ou se adoecem, tem muita dificuldade de ter a doença reconhecida pela perícia médica do INSS. Outro fator que contribui com isso é a pressão para que o trabalhador vá trabalhar, mesmo doente ou necessitando de cuidados para sua saúde.
Também, gostaria de destacar o impacto na saúde da má gestão e organização do trabalho, a pressão por produtividade, a extensa jornada de trabalho e o impacto da tecnologia de informação, que intensifica o surgimento do sofrimento mental e do assédio moral no trabalho.

Hora Sindical: E em específico aos trabalhadores da educação?
DIESAT: A saúde dos trabalhadores da educação é uma preocupação crescente entre os especialistas, é evidente o crescimento do número de registros de acidentes e doenças do trabalho neste setor, cada vez mais submetido às regras comerciais, vendo a educação enquanto um produto a ser consumido e não mais como um processo de aquisição e transmissão do conhecimento acumulado pela humanidade.
Verificamos que os educadores docentes e não docentes sofrem com o peso da responsabilidade de estarem diretamente responsáveis pela formação dos futuros cidadãos da nação, mas sem o mesmo status e respeito que a sociedade lhes delegava há alguns anos. As demais condições de trabalho, longas jornadas, a execução de tarefas repetitivas e em condições de pressão pelo tempo têm levado a problemas físicos ligados à sua atividade como os de coluna e articulações e vocais.

Hora Sindical: Quais os principais desafios do ramo da educação para o enfrentamento com uma política eficaz?
DIESAT: Garantir a construção de projetos pedagógicos e de estruturas de ensino que se sustentem apesar da lógica de mercado e que tenha um significado para a comunidade escolar, lidar com os diversos aspectos dos alunos através do uso de outras formas de linguagens e de relacionamentos nos espaços escolares, ocupar e instituir espaços de discussão e de construção coletivos, onde seja possível a troca, não apenas de informações, mas também de idéias.

Hora Sindical: Quais os critérios usados para a realização da pesquisa?
DIESAT: Inicialmente estamos utilizando como base de trabalho os dados oficiais do MEC e do INSS, bem como os dados do sindicato. Nossa preocupação está em cobrir a maior gama de variedades possíveis, considerando para as unidades escolares fatores como o tamanho da instituição, sua localização, fatores regionais e locais, mantenedoras, linha pedagógica de trabalho. Já quanto aos trabalhadores, procuramos considerar os diferentes postos de trabalho, funções e atividades.

Hora Sindical: Quais as etapas da pesquisa?
DIESAT: A primeira etapa, chamada genericamente de "qualitativa" é composta de um roteiro de entrevistas pessoais, realizadas com docentes e funcionários de 46 instituições de ensino particular, distribuídas em 9 regiões do Estado do Rio Grande do Sul. A segunda etapa, que chamamos genericamente de "quantitativa" será composta de um questionário fechado que será encaminhado a uma amostra a ser definida com base nos dados apresentados na primeira etapa. É importante ressaltar que todas os dados obtidos são protegidos de modo a preservar as informações pessoais e profissionais de todos os trabalhadores que participarem da pesquisa.

Hora Sindical: Qual a receptividade dos sócios do SAAESL entrevistados para a pesquisa?
DIESAT: Os Sócios do SAAESL tem sido muito receptivos para com a pesquisa, elogiando a iniciativa do sindicato, ressaltando a importância do tema no cotidiano de trabalho e colaborando com uma ótima descrição do ambiente de trabalho, da organização das tarefas e atividades, dos principais problemas de saúde e das principais dificuldades enfrentadas. Em geral há um sentimento de necessidade de compartilhar e debater coletivamente as questões de saúde no trabalho.
Fonte: Hora Sindical - Edição Nº38 - Outubro e Novembro

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