Folha de S.Paulo - Estudo aponta que antidepressivos têm baixa eficácia - 26/02/2008
Análise de dados não-divulgados por laboratórios sugere que remédios como o Prozac aliviam poucos pacientes.
Resultados mostraram que as drogas só serviram nos pacientes gravemente deprimidos; fabricantes contestam a pesquisa.
JEREMY LAURANCE
DO "INDEPENDENT"
Eles estão entre as drogas mais vendidas de todos os tempos -são "pílulas da felicidade", que supostamente levantam o ânimo daqueles que sofrem de depressão-, mas um dos maiores estudos sobre os antidepressivos modernos concluiu que eles não têm efeito clínico significativo.
O achado deve abalar médicos e pacientes e levanta questões sérias sobre a regulamentação das empresas farmacêuticas multinacionais, que foram acusadas ontem de esconder dados sobre essas drogas.
A popularidade da atual geração de antidepressivos, conhecidos como inibidores seletivos de recaptação de serotonina -entre os quais estão algumas das drogas mais vendidas do mundo, como o Prozac e o Serotax- decolou depois de seu lançamento, nos anos 1980.
Eles foram pesadamente promovidos como medicamentos mais seguros e com menos efeitos colaterais do que os velhos antidepressivos tricíclicos.
No novo estudo, cientistas conduziram uma metaanálise de 47 testes clínicos de medicamentos, publicados e não-publicados, submetidos à FDA (agência que regulamenta drogas e alimentos nos Estados Unidos), feitos para subsidiar pedidos de licença para seis dos principais antidepressivos, incluindo o Prozac, o Serotax e o Efexor.
Os resultados mostraram que as drogas só serviram em um grupo pequeno de pacientes, os gravemente deprimidos.
Irving Kirsch, da Universidade de Hull, que liderou o estudo, publicado on-line na revista "PLoS Medicine", afirma que os dados submetidos à FDA teriam passado ainda por autoridades de saúde da Europa.
Eles mostraram que os medicamentos produzem melhora "muito pequena" em comparação com placebo: só 2 dos 51 pontos da escala de depressão de Hamilton.
Isso bastou para que a licença fosse concedida, mas ficou aquém do mínimo de três pontos requeridos pelo Instituto Nacional de Excelência Clínica do Reino Unido para estabelecer "significância clínica".
Mesmo assim, o instituto aprovou as drogas para uso no Reino Unido porque apenas teve acesso aos testes publicados, que mostravam um efeito maior dos medicamentos.
"Diante desses resultados, parece haver pouca razão para prescrever antidepressivos a quaisquer pacientes, exceto os mais deprimidos, a menos que tratamentos alternativos tenham falhado", disse o líder do estudo. Segundo ele, as farmacêuticas seguraram dados disponíveis a autoridades de saúde, de modo que médicos e pacientes não entendiam a verdadeira eficácia das drogas.
Outro lado
A GlaxoSmithKline, fabricante do Serotax, disse que os autores do estudo "falharam em reconhecer" os benefícios dos antidepressivos e suas conclusões "conflitam com a prática clínica". A Eli Lilly, que fabrica o Prozac, declarou em nota: "Experiências médicas e científicas extensas demonstraram que a fluoxetina é um antidepressivo eficaz". A Wyeth, que faz o Efexor, diz que reconhece "a necessidade de tratamentos farmacológicos e não-farmacológicos para a depressão".
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