quinta-feira, 20 de março de 2008

Ministro culpa Rio por surto de dengue


Folha de S.Paulo - Ministro culpa Rio por surto de dengue - 20/03/2008
Fonte: Folha de São Paulo

KENNEDY ALENCAR
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA



José Gomes Temporão (Saúde) responsabiliza a prefeitura de Cesar Maia pela explosão de casos da doença no município

Ministério diz em nota que administração falhou no combate ao mosquito transmissor;
Prefeitura do Rio não se manifestou




O Ministério da Saúde responsabilizou a Prefeitura do Rio de Janeiro pela explosão de casos de dengue na cidade.
Surpreso com os relatos de que a situação era mais grave do que parecia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou ontem explicações do ministro José Gomes Temporão (Saúde) sobre o grande aumento de casos no município.
Segundo a Folha apurou, Temporão responsabilizou o prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), que, segundo ele, não teria adotado os procedimentos técnicos para combater o mosquito Aedes aegipty, transmissor da doença.
Apesar disso, Lula pediu que Temporão se colocasse à disposição de Maia para ajudar no que fosse possível.
O ministro afirmou que a explosão dos casos se concentrava na cidade do Rio, e não no Estado. Segundo ele, isso era uma evidência da suposta falta de cuidado do prefeito carioca.
Em nota divulgada na noite de ontem, sem citar Maia, a pasta atribui o aumento "à baixa implementação das equipes de saúde da família e à desestruturação da atenção básica".
Aponta que, em outubro, o ministério já tinha avisado a população e todos os governos -"em especial do Rio de Janeiro"- sobre a possibilidade de uma epidemia no verão.

O texto ainda afirma que, enquanto no país o número de casos caiu 40%, a cidade do Rio registrou aumento de 100%.
Em outra crítica à administração de Maia, a nota diz que, em 2007, Campo Grande, cuja prefeitura está nas mãos do PMDB, enfrentou uma situação "tão grave" quanto a da capital fluminense, mas registrou só um óbito, devido à qualidade do atendimento primário.
Belo Horizonte, dirigida pelo PT, também é citada. Após dizer que na cidade a cobertura do Programa Saúde da Família (PSF) é de 70%, o texto afirma que "a capital mineira tem se mantido fora, nos últimos anos, de qualquer surto epidêmico, de dengue ou de outras doenças infecciosas".
No Rio, o PSF cobre apenas 8% da população, de acordo com dados da pasta.
Na nota, o ministério anunciou um gabinete para enfrentar a doença no Rio e afirmou que trabalhará em conjunto com o governo e as Forças Armadas.
Na segunda-feira, integrantes da pasta se reunirão com membros da Prefeitura do Rio e secretários de Saúde da Baixada Fluminense. Trezentos agentes de saúde que estavam cedidos a secretarias municipais já foram convocados para atuar por 60 dias no combate ao mosquito no Rio.
A Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou que não se manifestaria porque não tinha conhecimento da nota do ministério. A reportagem enviou e-mail para Cesar Maia, que não havia respondido até a conclusão desta edição.



Epidemia


Para o epidemiologista Roberto Medronho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o número de casos no Rio já permite até dizer que há uma epidemia da doença. Ele cita o LME (Limite Máximo Esperado), padrão adotado internacionalmente: em janeiro, o máximo de casos esperados no Rio deveria ter sido de 23,3 por 100 mil habitantes. Foi de 144,5. Em fevereiro, 42,9. Foi de 152,3.
A prefeitura discorda da avaliação de epidemia, pois considera que o patamar da doença é acima de 470 casos em cada 100 mil habitantes.
Medronho afirma que, para cada doente registrado no Rio, há outros dez cujos casos não chegam a ser contabilizados pelas autoridades de saúde, conforme o padrão mundial de subnotificação adotado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para a doença. Assim, os números no Rio seriam 900% maiores do que o oficialmente reconhecido pela prefeitura.

Até ontem, os registros do governo municipal indicavam desde 1º de janeiro 21.502 casos confirmados, com 29 mortos -17 deles tinham menos de 11 anos. Aplicada a padronização da OMS para subnotificação, pelo menos 215.020 moradores da capital fluminense teriam contraído a doença neste ano.
Conforme Nilton Luiz de Penha, do hospital Alberto Schweitzer (zona oeste do Rio), o número de casos na instituição subiu quase 1.000% desde janeiro. "Em janeiro, tivemos 66 atendimentos e 10 internações. Em fevereiro, foram 192 e 42. Em março, só até o dia 18, foram 621 atendimentos e 122 internações."
Colaborou a Sucursal do Rio

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