sexta-feira, 25 de abril de 2008

Trânsito caótico gera e potencializa o estresse em São Paulo

Fonte: UOL

Tatiana Pronin
Editora do UOL Ciência e Saúde

Na cidade que já computa mais de 6,06 milhões de veículos em sua frota, os automóveis deixaram de ser um facilitador da vida e passaram a ser mais uma fonte de estresse. "Fechadas", carros colando na traseira, buzinas, agressões verbais, motociclistas circulando entre as faixas são alguns exemplos. Sem falar no medo de assaltos.

Em meio a um cenário tão agressivo, é quase impossível não ser vítima do estresse. "No meu consultório, tenho escutado as pessoas comentarem mais o desgaste causado pelo trânsito", relata Júlio César Fontana-Rosa, psiquiatra membro da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) e professor da USP (Universidade de São Paulo).


"O estresse não é causado apenas pelo trânsito, mas é no trânsito que muita gente extravasa a tensão acumulada", explica Esdras Vasconcellos, professor de psicologia da USP. "Se a pessoa não tem a postura psicológica para controlá-lo, ele aumenta ainda mais", acredita.

João Carlos Alchieri, psicólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte que estuda comportamento e trânsito, concorda. Segundo ele, o trânsito faz com que as pessoas tenham menos tolerância e sintam-se mais agredidas.

Presa no congestionamento, a pessoa se sente impotente, o que aumenta a sua ansiedade e gera estresse. "A pessoa fica com raiva diante da impossibilidade de fazer algo para mudar a situação", explica Alchieri.

E essa raiva, muitas vezes, gera atitudes agressivas no trânsito. Para Alchieri, contudo, xingar e buzinar também são maneiras de exteriorizar o descontentamento.

Para ele, a presença de um passageiro no veículo pode aliviar o estresse. "O diálogo facilita a atenuação do processo de raiva", avalia. "Ao compartilhar o carro, você tem uma audiência da sua insatisfação no microcosmos do veículo", acredita.

Reflexos no corpo

O estresse afeta o motorista em três níveis diferentes: afetivo, cognitivo e físico.

"Do ponto de vista afetivo, algumas pessoas ficam angustiadas, têm pânico, medo imaginário, tornam-se mais agressivas e têm ataques de fúria", enumera José Aparecido da Silva, professor do Departamento de Psicologia e Educação da USP de Ribeirão Preto.

"A situação de confinamento contribui para exacerbar um medo que já existe na pessoa, conhecido ou latente", explica Vasconcellos. Outras pessoas têm dificuldades para raciocinar e para fazer cálculos elementares e suas capacidades cognitivas parecem declinar enquanto estão dirigindo.

Além disso, o estresse acelera os batimentos cardíacos, aumenta a pressão sangüínea e o suor, além de contribuir para dores de barriga, de cabeça, no pescoço e nas pernas.

"Todos esses sintomas dependem da capacidade de adaptação e enfrentamento das pessoas", explica Silva. "Quem usa o carro como instrumento de trabalho, por exemplo, é obrigado a desenvolver técnicas para não se estressar tanto", lembra Vasconcellos.

É o caso de Israel Furtado da Roza, 55 anos. Taxista, ele trabalha de 12 a 14 horas diárias ao volante. Em 17 anos de profissão, acompanhou a evolução do caos no trânsito de São Paulo. "Está cada dia pior", reclama.

Mas ele garante que aprendeu a driblar o estresse. Pela necessidade, foi forçado a acostumar-se com os congestionamentos e adaptar-se à realidade do trânsito. "Procuro ouvir uma música, relaxar, esquecer que estou no meio do trânsito", diz.

Mantenha a calma

Para quem não pode evitar o automóvel, nem os horários de pico, deve preparar-se para enfrentar, da melhor maneira possível, os congestionamentos. "O trânsito estressa muito mais quem não se prepara para enfrentá-lo", lembra Esdras Vasconcellos.

Para ele, é fundamental que o motorista se conscientize de que não pode mudar a realidade. Paciência e tolerância são as palavras-chave. "Xingar e reclamar só aumenta o estresse e não muda a realidade do trânsito", pontua.

"Não adianta ficar nervoso", concorda Fontana-Rosa. A percepção do tempo muda quando se está irritado, por exemplo, o que só torna a experiência ainda mais desgastante.

Outra dica é não ver no trânsito um espaço de disputa ou competição. "Tente tirar da cabeça que a pessoa que te fechou está te desafiando", propõe Fontana-Rosa.

Hábitos saudáveis, como praticar atividades físicas, alimentar-se bem, consumir moderadamente álcool e medicamentos e meditar também podem ser benéficos. "Quanto menos estresse na vida, maior a tolerância no trânsito", resume Vasconcellos.

Ouvir música ou notícias no rádio e realizar exercícios de respiração também contribuem para aliviar a tensão.

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