quinta-feira, 5 de junho de 2008

Reservas crescem, apesar de desmatamento

Fonte: PEDRO SOARES, MALU TOLEDO DA SUCURSAL DO RIO.

Estudo do IBGE sobre desenvolvimento sustentável aponta que elas são já 8,3% do território; áreas indígenas alavancam expansão
Devastação de florestas nativas põe o país entre os 5 maiores emissores de CO2 do mundo, ao lado de China, EUA, Índia e Alemanha

Num momento em que o desmatamento avança, o IBGE registrou a ampliação das áreas de reservas florestais, que agora correspondem a 8,3% do território brasileiro -o percentual era de 6,5% em 2003, segundo a publicação "Indicadores do Desenvolvimento Sustentável", lançada ontem. Um dos motivos da expansão é o maior número de terras indígenas demarcadas -de 172 em 1992 para 405 em 2006.
Nessas áreas, a preservação das florestas é mais fácil, e o desmatamento não está tão presente. Na esteira também do avanço das terras indígenas, a população nativa subiu de 294,1 mil pessoas em 1991 para 734,1 mil em 2000 -puxada pela maior autodeclaração de índios e descendestes.
Ainda assim, o desmatamento é o principal entrave ao desenvolvimento sustentável do país, avalia o IBGE. O Brasil ratificou o protocolo de Kyoto e não é um grande consumidor de combustíveis, mas o desmatamento das florestas nativas coloca o país entre os cinco maiores emissores de gás carbônico do mundo -ao lado de China, EUA, Índia e Alemanha.
Somente as queimadas correspondem a 75% de todo o CO2 lançado na atmosfera brasileira. Por desmatar sua vegetação nativa, o Brasil se aproxima dos dois grandes poluidores do mundo -EUA e China.
Com o aumento recente do desmatamento, não há sinais de que a situação tenha sido revertida, segundo o IBGE. Por conta desse e de outros entraves nas esferas ambiental e social, o país está longe de atingir o desenvolvimento sustentável, diz o instituto.
Para Judicael Clevelário Júnior, técnico do IBGE, dentre os "passivos ambientais", o mais grave é o desflorestamento. "O descontrole do desmatamento é um problema sério que compromete ambiente, florestas e representa perda de patrimônio biológico. Também compromete a saúde pública."
"O erro é combater o que está funcionando. A cada ano que o desmatamento caiu foi com muito esforço. Em setembro passado, acendeu a luz vermelha e fizemos um conjunto de medidas [para conter o desmatamento]. É estratégico pensar nos ativos ambientais", disse Marina Silva, senadora e ex-ministra do Meio Ambiente.
Mas o país ainda registra em seu balanço outros passivos que travam o desenvolvimento sustentável. "Não somos uma sociedade sustentável. É um processo que se constrói a cada dia. O Brasil evolui, mas tem passivos enormes principalmente nas áreas sociais e ambientais", diz Denise Kronemberg, técnica do IBGE também responsável pelo estudo.
Dentre as dívidas sociais, estão a expansão tímida de saneamento, tratamento do lixo, alta mortalidade infantil em algumas regiões (notadamente no Nordeste) e elevadas taxas de homicídios de jovens do sexo masculino e de mortes violentas. Na área econômica, residem os maiores avanços, segundo o IBGE. O PIB cresce. A inflação está sob controle. A dívida pública cai. A taxa de investimento aumenta.
O desenvolvimento sustentável depende de um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam.
Para o professor da UFRJ e ambientalista Manuel Sanches, a questão ambiental é vital. "É uma surpresa [saber que 75% das emissões de CO2 vem de queimadas porque há mais de dez anos que se combate as queimadas na Amazônia."

Nenhum comentário:

Postar um comentário