quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Setor mais atendido por BNDES lidera cortes

Setor mais atendido por BNDES lidera cortes

Recordista em demissões no final do ano, indústria de alimentos e bebidas recebeu 11% dos desembolsos do banco em 2008
Ministro do Trabalho defende punição a empresas que demitem após receber recursos de bancos públicos; companhias criticam

Fonte: Folha de São Paulo
JULIANA ROCHAJULIANNA SOFIADA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O setor da indústria que mais demitiu nos dois últimos meses de 2008, o de alimentos e bebidas, foi também o que recebeu mais recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) entre janeiro e novembro.
O recordista de demissões formais tomou R$ 8,6 bilhões em crédito no BNDES ao longo do ano -11% do desembolso total da instituição no período.Um cruzamento feito pela Folha a partir de dados do BNDES e do Ministério do Trabalho apontou que os cinco setores que mais fecharam postos de trabalho com carteira assinada no fim do ano receberam R$ 16,9 bilhões em financiamento do banco, ou seja, 21% do total de desembolsos entre janeiro e novembro de 2008.
Nesse período, o banco concedeu R$ 78,5 bilhões para empresas investirem, com os juros mais baixos cobrados no sistema financeiro brasileiro.
Ao longo do ano, o setor de alimentos e bebidas foi também o que mais contratou. O saldo de 2008 mostrou que foram criados 57.529 postos de trabalho formais a mais do que o número de demissões. Mas no fim do ano, com os efeitos da crise mundial, as indústrias do setor fecharam 123,2 mil vagas.
Procurada, a Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação) informou que não tinha dados suficientes sobre as empresas associadas para que pudesse comentar.
Segunda colocada no ranking de setores que mais demitiram no fim do ano, com menos 29 mil vagas formais, a indústria têxtil tomou empréstimos de R$ 1,2 bilhão no BNDES.
O diretor-superintendente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), Fernando Pimentel, disse que o desembolso do banco com o setor ainda é pequeno se comparado com o tamanho desta indústria na economia brasileira. Ele diz que os recursos oferecidos pelo BNDES não podem ser considerados ajuda do governo.
"Não tem ajuda nenhuma. O desembolso do BNDES passa por crivo técnico. Não tivemos isenção de impostos, dinheiro a fundo perdido. O juro é barato porque este é um banco de desenvolvimento. Esta deveria ser a taxa de juros do país."
Os juros do BNDES são de 6,25% ao ano, mais a taxa de administração que repassa os recursos. Em média, os juros finais ficam em torno de 9% anuais. A taxa média para empresas que tomam empréstimos no país é de 31,2% (último dado do Banco Central).
O terceiro setor que mais demitiu em dezembro, o de calçados, recebeu R$ 643 milhões em financiamento do banco em 2008. A indústria calçadista foi uma das três que fecharam o ano com saldo de demissões (além da indústria de borracha e couro e moveleira) negativo, com 8.703 postos formais fechados. A Abicalçados não quis comentar os dados, também por falta de informações.
Nesta semana, o ministro Carlos Lupi (Trabalho) afirmou que o BNDES vem cumprindo as cláusulas dos contratos com as empresas que preveem punições em casos de demissão. "Caso um projeto financiado resulte em redução de pessoal da empresa beneficiada, o banco exige programa de treinamento ou recolocação dos trabalhadores", disse.
Segundo ele, tudo precisa ser acordado com os representantes dos trabalhadores e o não-cumprimento pode ser penalizado com o vencimento antecipado do contrato, o pagamento imediato dos recursos desembolsados e a suspensão de desembolsos pendentes. O BNDES informou, porém, que as demissões precisam ter sido causadas pelo próprio projeto financiado para que as punições sejam aplicadas, como no caso de compras de máquinas que resultam em demissões.
Para o professor da Unicamp Anselmo Luiz dos Santos, é "justo" o governo fazer cobranças das empresas beneficiadas com recursos públicos. "Elas precisam esperar mais um pouco antes de demitir", declarou.

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