segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Empregos somem, e cresce a insegurança

Empregos somem, e cresce a insegurança

Por NELSON D. SCHWARTZ
Paris

Dos advogados de Paris aos operários da China e aos guarda-costas da Colômbia, as fileiras de desempregados incham rapidamente mundo afora. A perda global de postos de trabalho pode atingir assustadores 50 milhões até o final de 2009, segundo a Organização Mundial do Trabalho. A crise já ceifou 3,6 milhões de empregos norte-americanos.
O desemprego elevado, especialmente entre jovens, levou a protestos em países tão variados quanto Letônia, Chile, Grécia, Bulgária e Islândia e desencadeou greves em Reino Unido e França.
Em janeiro, o governo da Islândia, cuja economia deve encolher 10% neste ano, caiu, e o primeiro-ministro teve que antecipar as eleições nacionais após semanas de protestos de islandeses irritados com o desemprego e a inflação.
Recentemente, o novo diretor de inteligência nacional dos EUA, Dennis Blair, disse ao Congresso que a instabilidade causada pela crise econômica global se tornara a maior ameaça à segurança dos EUA, superando o terrorismo. "Quase todos foram apanhados de surpresa pela velocidade com que o desemprego está aumentando e estão tateando uma resposta", disse Nicolas Véron, pesquisador do instituto Bruegel, de Bruxelas.
Em economias emergentes, como as do Leste Europeu, há temores de que o aumento do desemprego provoque um distanciamento em relação às políticas pró-ocidentais de livre mercado, enquanto nos países desenvolvidos o desemprego poderia estimular esforços para proteger as indústrias locais às custas do comércio global.
De fato, alguns pacotes europeus de estímulo, assim como o que foi aprovado nos EUA, incluem proteções para empresas domésticas, aumentando a probabilidade de batalhas comerciais em torno do protecionismo.
Embora no número de empregos nos Estados Unidos venha caindo desde o final de 2007, o ritmo das demissões na Europa, na Ásia e no mundo em desenvolvimento só recentemente se acelerou. O FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê que, até o final do ano, o crescimento econômico global atinja seu menor nível desde a Grande Depressão, segundo Charles Collyns, vice-diretor do departamento de pesquisas do Fundo. O órgão disse que o crescimento "praticamente parou" e que as economias desenvolvidas devem encolher 2% em 2009.
"Isso é o pior que tivemos desde 1929", disse Laurent Wauquiez, secretário francês do Trabalho. "A novidade é que é global, e estamos todos falando nisso. Está em todos os países, e isso faz toda a diferença."
Na Ásia, qualquer presunção de ter escapado às perdas relacionadas às dívidas das hipotecas "subprime" nos EUA foi ofuscada pelo crescente desespero com a queda nas vendas dos grandes exportadores.
Em 12 de fevereiro, a japonesa Pioneer anunciou a desativação das suas unidades de TVs de tela plana e o fechamento de 10 mil vagas no mundo inteiro, como reflexo da redução na demanda.
Na China continental, milhões de migrantes à procura de empregos estão descobrindo que as fábricas estão fechando. Já houve dezenas de protestos em fábricas da China e da Indonésia, onde operários foram demitidos com pouco ou nenhum aviso prévio.
A amplitude do problema também vem se tornando aparente em Taiwan, onde as exportações caíram 42,9% em janeiro em comparação com um ano atrás, o maior tombo em toda a Ásia.
A auxiliar de cozinha Chang Yung-yun, 57, foi demitida quando seu patrão fechou o restaurante onde ela trabalhava, em meados de novembro. Seu filho, engenheiro, está há semanas em férias não-remuneradas, uma tática patronal que se tornou comum em Taiwan.
"O maior medo do nosso povo é perder o emprego", disse o presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, numa entrevista.
Apelos protecionistas têm ecoado junto a uma opinião pública temerosa. No Reino Unido, funcionários de refinarias e usinas elétricas abandonaram seus postos de trabalho em janeiro para protestar contra o uso de trabalhadores da Itália e de Portugal numa obra no litoral.
A meio mundo de distância, na Colômbia, Jaime Galeano, 40, está entre os trabalhadores que enfrentam dificuldade para arrumar emprego. Como segurança em um país notório pelos sequestros e pela violência relacionada ao narcotráfico, Galeano achava que sua profissão estava imune, até que, no ano passado, ele perdeu o emprego.
"As condições para encontrar trabalho são terríveis", disse ele. Para piorar, sua idade agora é um empecilho -um ministério lhe informou que só candidatos menores de 32 anos seriam considerados para novas vagas.
"Depois de completar 35 anos, uma pessoa não vale nada", disse Galeano.


Colaboraram Keith Bradsher, em Taipei, Taiwan; Heather Timmons, em Nova Déli; Simon Romero e Jenny Carolina González, em Bogotá, Colômbia; e Maïa de la Baume, em Paris

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