terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Japão quer estimular volta de trabalhadores brasileiros

Japão quer estimular volta de trabalhadores brasileiros
Em grave crise, país cria pacote emergencial para "retorno harmonioso" de decasséguis


Embaixador japonês vê "extrema dificuldade" para imigrantes brasileiros "como desemprego e educação dos filhos"

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Fonte: Folha de São Paulo

Com a maior queda do PIB em 34 anos e o fechamento de 65 mil vagas de trabalho, o Japão, segunda maior economia do mundo, decidiu apresentar um plano de emergência para, em última instância, criar condições para a repatriação dos decasséguis (brasileiros descendentes de japoneses) ao Brasil. Estima-se que haja 320 mil deles vivendo hoje no país, além dos 180 mil que já foram e voltaram ao longo dos anos.
Em carta ao governo brasileiro, com data da sexta-feira, o embaixador do Japão em Brasília, Ken Shimanouchi, admite a "situação de extrema dificuldade em vários aspectos, como desemprego e educação dos filhos, pela qual passam os nipo-brasileiros residentes no Japão" e enumera cinco itens de apoio a eles.
O item quatro prevê que o governo recorrerá a três instâncias para facilitar a vida dos que desistam de ficar no Japão e prefiram voltar: ao país de origem, ao setor industrial e às companhias aéreas, de forma a criar o que ele chama de "retorno harmonioso". Não especificou, porém, qual será a contribuição do próprio governo japonês para a volta, nem a expectativa de quantos poderão seguir esse caminho.
Desde o agravamento da crise, houve protestos de decasséguis em cidades japonesas.
Outros itens preveem facilidades para o ingresso em escolas públicas de crianças que tenham dificuldades para entrar em escolas para estrangeiros; apoio na busca de empregos, inclusive com aumento de intérpretes e de centros de atendimento específico; concessão de auxílio-moradia para os que perderem o emprego; e criação de um site para informações multilíngues, com campanhas de divulgação no exterior.
O movimento de imigração de decasséguis para o Japão começou e recrudesceu a partir da década de 1980, quando o Brasil vivia grave crise. Agora, o movimento é inverso.
O embaixador destacou na correspondência para o governo brasileiro que o premiê, Taro Aso, que já morou no Brasil, está empenhado em tratar diretamente da questão e criou a Equipe para a Promoção de Políticas para Estrangeiros, instalada no seu próprio gabinete. Foi esse grupo que preparou as medidas.
Ao incluir a possibilidade de retorno como item quatro, em meio a medidas no sentido exatamente contrário, a avaliação é que o governo japonês gostaria de enviar os brasileiros de volta, mas sem admitir que, na situação de hoje, são um problema a mais num mar de problemas gerados pela crise.
A queda do PIB japonês, de 3,3% nos três últimos meses de 2008, foi a maior do país desde a crise do petróleo de 1974. Os resultados são ainda piores do que os já dramáticos apresentados em parte da Europa, como Alemanha, Reino Unido e Espanha.
A explicação para a queda está, segundo os analistas, na redução de exportações, principalmente no setor de carros e eletrônicos, fortemente atingidos pela retração internacional e na demanda interna.
Com isso, o desemprego também cresce exponencialmente. Como estrangeiros, os decasséguis tendem a ser os principais prejudicados, inclusive os que trabalham sem regulamentação em setores como construção civil e empacotamento de marmitas.

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