segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Papel de florestas tropicais emergentes opõe especialistas

Papel de florestas tropicais emergentes opõe especialistas

Por ELISABETH ROSENTHAL
Fonte: New York Times

CHILIBRE, Panamá - O terreno onde Marta Ortega de Wing criava porcos até dez anos atrás está sendo tomado pela selva galopante -palmeiras, lagartos e formigas. Em vez de plantar, hoje ela compra no supermercado, e seus filhos e netos vivem em lugares como a capital Cidade do Panamá e Nova York.
No Panamá e em outros países tropicais, pequenas propriedades como a de Ortega -e também outras muito maiores- estão sendo devolvidas à natureza conforme as pessoas abandonam suas terras e mudam-se para as cidades em busca de uma vida melhor.
Essas florestas "secundárias" estão surgindo tão rapidamente que a tendência provocou um debate sobre se salvar as florestas primitivas -uma causa ambiental emblemática- talvez seja menos urgente do que se pensava. Segundo uma estimativa, para cada hectare de floresta tropical derrubado por ano, mais de 50 hectares de novas florestas crescem em locais que já foram plantados, desmatados ou destruídos por desastres naturais. "Isso é muito mais floresta do que havia há 30 anos", disse Ortega, 64.
Para alguns cientistas, as novas selvas poderão superar os efeitos da destruição da floresta tropical ao absorver dióxido de carbono, o principal gás do efeito estufa ligado ao aquecimento global, um papel crucial das florestas tropicais. Elas também poderiam, em menor escala, fornecer um hábitat para espécies ameaçadas.
A ideia provocou revolta entre ambientalistas que acreditam que esforços vigorosos para proteger a floresta nativa devem continuar sendo uma das principais prioridades. Mas ganhou força em organizações importantes como o Instituto Smithsonian e a ONU, que em 2005 concluiu que os benefícios ambientais das novas florestas estavam sendo "subvalorizados".
"Os biólogos estavam ignorando enormes tendências populacionais e agindo como se só a floresta original tivesse valor de conservação, o que é errado", defende Joe Wright, cientista do Instituto Smithsonian de Pesquisa Tropical no Panamá.
"Isto é uma floresta tropical de verdade?", ele perguntou, caminhando pela terra de uma antiga plantação de cacau americana que foi abandonada há 50 anos e apontando para figueiras, vastas teias de aranhas e macacos bugios. "Um botânico pode olhar para as árvores daqui e saber que isto é uma rebrotação. Mas a temperatura e a umidade estão certas. Veja o [grande] número de aves. Isto funciona, é um hábitat adequado."
Wright e outros dizem que a proteção excessiva das florestas tropicais não apenas impede que pessoas pobres se beneficiem de sua terra, como também rouba financiamento e atenção de outras abordagens do combate ao aquecimento global, como eliminar as usinas a carvão.
Outros cientistas discordam, dizendo que a proteção das florestas tropicais é especialmente importante diante da ameaça da agricultura e de madeireiras industriais. "Sim, há florestas crescendo de novo, mas nem todas as florestas são iguais", disse Bill Laurance, outro cientista graduado no Smithsonian, que trabalhou extensamente na Amazônia.
Ele resmunga ao ver a terra de Ortega. "Isto é uma caricatura de floresta tropical!", disse. "Não há abóbada vegetal, há luz demais, apenas algumas espécies." Enquanto novas florestas podem absorver as emissões de carbono, ele diz, é improvável que elas salvem a maioria das espécies ameaçadas, que não têm como alcançá-las.
Todo o mundo, incluindo Wright, concorda que a destruição da floresta tropical em grande escala na Amazônia ou na Indonésia deve ser contida ou administrada. O que se discute é como avaliar os custos e benefícios das florestas. Em dezembro último, nas negociações sobre o clima da ONU em Poznan, Polônia, ministros do Meio Ambiente do mundo concordaram com um novo programa para recompensar os países em desenvolvimento que evitarem o desmatamento. Mas pouco se sabe sobre as novas florestas, e elas não foram consideradas.
Deveriam ser, segundo Wright e outros cientistas. Cerca de 15 milhões de hectares de floresta tropical original estão sendo cortados todo ano, mas, em 2005, segundo a agência de alimentos e agricultura da ONU (FAO), havia cerca de 850 milhões de hectares de potenciais florestas substitutas crescendo nos trópicos -uma área quase tão grande quanto os EUA. Nas montanhas úmidas e luxuriantes do Panamá, é fácil ver a destruição da floresta tropical como parte de um ciclo de vários séculos de civilização e natureza. Os maias foram os primeiros a limpar as terras que hoje são uma densa floresta.
Mas Laurance diz que, no mundo moderno, a floresta está sendo derrubada para "florestamento industrial, agricultura, indústrias de gás e petróleo -e é algo globalizado, onde cada pedaço de madeira cortado no Congo é enviado para a China e uma escavadeira faz muito mais danos que mil agricultores com machados".
Wright enxerga possibilidades na floresta renascida. Segundo ele, pesquisas sugerem que 40% a 90% das espécies da floresta tropical podem sobreviver em novas florestas. Laurance se concentra no que faltará, listando espécies como onças e antas. Mas o destino das florestas secundárias não depende apenas da biologia. Uma recessão global poderá eliminar empregos nas cidades, levando os residentes de volta à agricultura. "Essas são questões para economistas e políticos, e não para nós", disse Wright.

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