segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Composto do plástico pode afetar função de glândulas

MÁRCIO PINHODA
Fonte: Folha de São Paulo - 27 de janeiro de 2008


Pesquisas já mostraram que o bisfenol A pode inclusive facilitar o ganho de pesoSubstância, presente em mamadeiras e panelas, pode se soltar nos alimentos quando for aquecida no microondas, por exemplo.


Uma substância presente em mamadeiras, algumas latas, panelas e brinquedos pode ser uma grande vilã para a saúde e, até mesmo, ajudar a engordar. Cientistas e ambientalistas em todo o mundo estudam e contestam o uso do bisfenol A, composto químico para fabricação do policarbonato, plástico desses produtos.

Algumas pesquisas já mostraram que o bisfenol A fica mais suscetível a se soltar nos alimentos quando aquecido a altas temperaturas (no microondas, por exemplo), quando lavado repetidamente ou em contato com alguns alimentos.

As agências de vigilância sanitária, como a Anvisa, no Brasil, consideram limites para a liberação dessa substância nos alimentos e não coibem a venda de produtos que não ultrapassam os limites por considerar que não há prejuízo à saúde.

Porém, os críticos do bisfenol A não concordam e pedem uma revisão dessa permissão. As investigações sobre a substância começaram após a descoberta de que ela pode atuar da mesma forma que o estrógeno (hormônio feminino). Pesquisas com ratos mostraram que o bisfenol A é, na verdade, um "disruptor" endócrino -algo capaz de afetar o funcionamento das glândulas."Houve uma preocupação grande sobre o dano em potencial da substância nos animais, incluindo a chance de diabetes, câncer e obesidade. A previsão é que podemos esperar os mesmos efeitos em humanos", disse o cientista Frederick vom Saal, em entrevista ao "New York Times", neste mês.

Em 2007, ele coordenou uma revisão de estudos sobre o bisfenol A feita por 40 pesquisadores e financiada pelo governo dos EUA. No país, um levantamento nacional mostrou que 92,6% dos americanos têm bisfenol A no sangue.Vom Saal, que é professor da Universidade Missouri-Columbia, faz parte de uma geração de cientistas que estuda como o composto pode facilitar o ganho de peso. Ele expôs no congresso da Associação Americana pela Avanço da Ciência uma pesquisa mostrando que ratos que receberam alimentos que imitam o bisfenol A quando fetos ou pequenos tiveram mais chances de ser obesos.Isso é "realmente possível", diz o endocrinologista e professor da USP Alfredo Halpern. "Já vimos que substâncias de inseticidas chegavam aos alimentos e também afetavam o funcionamento das glândulas."

Outro estudioso dos efeitos dos plásticos nos EUA, Bruce Blumber, da Universidade da California, disse à Folha, por e-mail, que "já há informação suficiente para ligar a substância à obesidade. "Ela afeta as glândulas", explica, comparando sua ação à de um composto químico usado na pintura de navios que age nos hormônios de crustáceos, impedindo sua reprodução.

Controvérsia

O perigo dos plásticos é um tema controverso. Cientistas que criticam o bisfenol A são acusados de participar de lobby de ambientalistas, enquanto os que dizem que o composto não traz danos à saúde são chamados de "representantes da indústria do plástico".Entre os críticos dos críticos está Joseph Politch, cientista da Universidade Boston. Ele afirmou em um artigo que "diversas pesquisas recentes superestimaram as concentrações de bisfenol A".Ele cita outros estudos que mostraram que, quando a substância é ingerida, ela é rapidamente metabolizada e eliminada pelo corpo, e que não pode, portanto, causar doenças crônicas anos após consumida.

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