terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Pior câncer de pele custa 280% a mais ao SUS em SP

Matéria publicada em 30/10/07 em Terra Magazine

Rafael Sampaio
Da PrimaPagina

A rede pública de saúde gasta em média R$ 4,4 milhões por ano no Estado de São Paulo com o tratamento do tipo mais letal de câncer de pele, o melanoma, segundo um estudo que analisou os 2.920 casos da doença entre os paulistas, de 2000 a 2007. Agravada pela destruição da camada de ozônio e a conseqüente exposição mais intensa a raios ultravioletas, a enfermidade geralmente pode ser prevenida com facilidade. Se fossem detectados em sua fase inicial em todos os pacientes, os 2.920 casos custariam aos cofres paulistas R$ 1,15 milhão - ou seja, os gastos atuais são 282% maiores.

Os dados são de uma pesquisa ainda inédita do oncologista Reynaldo Sant'Anna, do Hospital do Câncer de Ribeirão Preto. Elaborado em conjunto com quatro especialistas da UNIFEI (Universidade Federal de Itajubá, em Minas Gerais), o trabalho aponta que nos sete anos pesquisados o SUS (Sistema Único de Saúde) desembolsou R$ 31 milhões com melanoma em São Paulo. Feito a partir de dados da Fundação Oncocentro de São Paulo, o levantamento considerou preço de consultas, biópsias, remédios, tratamentos e outros procedimentos hospitalares.

Sant'Anna vai comentar alguns dados da pesquisa no simpósio "Efeitos da Destruição da Camada de Ozônio na Saúde: O que temos de fazer?", que acontece nesta terça e quarta-feira em Brasília, promovido pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério do Meio Ambiente, com apoio do PNUD. O evento também vai abordar substituição de inaladores que usam CFC (clorofluorcarbonos, gases destruidores da camada de ozônio) e prevenção e controle de doenças relacionadas à radiação ultravioleta.

O melanoma é o mais letal dos tumores de pele conhecidos pela medicina. Embora represente 4% dos tipos de câncer de pele, mata em 75% das vezes que se manifesta, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde). Todo ano são registrados cerca de 132 mil casos de melanoma no planeta, além de 2 milhões de outros tipos de câncer de pele, ainda segundo a OMS. Milhares de casos de doenças relativas à exposição ao sol também são verificados anualmente, como catarata, queimadura de córnea, de globo ocular e crescimento do pterígio (membrana que recobre uma parte do olho).

O estudo sobre a rede pública em São Paulo indica que um paciente que está com melanoma ainda na fase inicial custa R$ 382 por mês. "Já o custo para tratar um paciente com melanoma disseminado, no chamado estadio 4, é em média R$ 32 mil anuais", afirma Sant'Anna.

O oncologista assinala que, se fosse somado o gasto público com outros tipos de tumores e doenças relacionados à exposição ao sol, o valor seria muito maior que R$ 31 milhões. Só em São Paulo foram registrados 49.993 casos de câncer de pele entre 2000 e 2007, dos quais 47.073 eram carcinomas, tumores de pele mais comuns, porém menos letais que os melanomas.

"O gasto com o tratamento de melanoma mostra que o governo brasileiro deveria investir mais na prevenção desse tipo de doença", afirma o médico. O câncer de pele é um dos poucos que são preveníveis, diferentemente dos tumores de próstata ou mama.

A camada de ozônio funciona como um filtro para a ação dos raios ultravioleta, que são de três tipos: UVA, UVB e UVC. O melanoma é basicamente causado pela incidência de radiação UVB na pele. "Além do buraco na camada de ozônio permitir que os raios ultravioleta atinjam a superfície do planeta, a emissão de gás CFC (clorofluorcarbono) afinou a camada como um todo, o que teve um impacto na incidência do câncer de pele", diz Sant'Anna. A OMS estima que cada 10% de redução da camada de ozônio provocaria cerca de 4,5 mil novos casos de melanoma, além de 300 mil novos tumores de carcinoma e 1,7 milhões de casos de catarata no mundo.

A assinatura do Protocolo de Montreal há duas décadas fez com que os 191 países signatários (dentre eles o Brasil) se comprometessem a combater a emissão dos gases que destroem a camada de ozônio, dentre eles o brometo de metila e o CFC, o que melhorou a situação atual.

A avaliação da ONU é de que as medidas adotadas nestes 20 anos estacionaram a destruição da camada de ozônio e foram bem-sucedidas. "As medidas não têm efeito imediato, porque os gases ficam por décadas na atmosfera. Mas a expectativa da ONU é de que haja uma recuperação completa da camada de ozônio até 2075", afirma Sant'Anna.

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