quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Secretaria da Saúde apura doença de tireóide em vizinhos de indústria

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Fonte Folha de São Paulo


Folha de S.Paulo - Secretaria da Saúde apura doença de tireóide em vizinhos de indústria - 20/02/2008

Secretaria da Saúde apura doença de tireóide em vizinhos de indústria

Incidência é maior em pessoas que vivem perto de pólo petroquímico de SP


Pessoas que vivem na vizinhança do Pólo Petroquímico do Grande ABC sofrem mais que a população em geral de uma doença que afeta a tireóide (glândula produtora de hormônios que regulam o metabolismo, localizada no pescoço), segundo um estudo recém-concluído da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

O Pólo Petroquímico do Grande ABC fica entre as cidades de Santo André e Mauá e o bairro paulistano de São Rafael (zona leste) e reúne 14 fabricantes de produtos químicos derivados do petróleo, que são a matéria-prima de resinas, borrachas, tintas e plásticos.

A suspeita de que ali haveria algum problema surgiu após o alerta de uma médica endocrinologista da região que se espantou com a quantidade de pacientes com tireoidite de Hashimoto que a procuravam.

Trata-se de uma doença auto-imune. O sistema imunológico da pessoa começa a produzir anticorpos contra a tireóide, o que pode levar a uma inflamação da glândula (bócio) e a uma queda na produção de hormônios (hipotireoidismo).

Os principais sintomas são cansaço, sonolência, pressão arterial baixa, colesterol alto, depressão, pele seca, unhas e cabelos fracos e, no caso das mulheres, mudança no ciclo menstrual. A doença pode ser controlada, mas não curada. Em casos raros, leva à morte.

Os agentes da Secretaria da Saúde examinaram 781 vizinhos do pólo petroquímico. Para melhor análise dos resultados, submeteram aos mesmos exames 752 pessoas de um bairro de Diadema onde também há indústrias, porém nenhuma do setor petroquímico.

No grupo que fica perto do pólo petroquímico, 49 pessoas apresentaram a doença (6,3%). No outro grupo, foram 22 (2,9%). O primeiro índice é mais que o dobro do segundo.
A Secretaria da Saúde continuará a investigação, agora para determinar exatamente o que levou a uma maior incidência da tireoidite de Hashimoto no entorno do pólo. Serão analisados o ar, a água e o solo.

"Na literatura médica, não encontramos estudo que relacionasse a doença a pólos petroquímicos. Isso é, provavelmente, uma coisa nova. Precisamos fazer uma aprofundamento para saber se realmente há algum fator ambiental envolvido", diz a coordenadora estadual de Controle de Doenças, Clélia Aranda.
A Folha não conseguiu entrar em contato ontem com o Pólo Petroquímico do Grande ABC. Em sua página na internet, o grupo diz que cumpre "rígidos programas voltados à saúde, à segurança e ao meio ambiente" e que "não tem registro de doenças ocupacionais relacionadas à poluição".

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