sexta-feira, 13 de junho de 2008

OMS agora vê risco de epidemia de Aids

Fonte: Folha de S.Paulo

Kevin De Cock, diretor da entidade, diz que foi "mal interpretado" e que heterossexuais estão sob ameaça epidêmica
Em entrevista dada para o "Independent", Cock dizia que a epidemia de Aids entre os heterossexuais não existia mais; jornal nega erro

DA REPORTAGEM LOCAL

O epidemiologista Kevin M. De Cock, diretor do departamento de HIV/Aids da OMS (Organização Mundial da Saúde), alegou anteontem que foi "mal interpretado" nas declarações que deu ao jornal britânico "Independent", no domingo, em que afirmava que a epidemia global de Aids entre os heterossexuais não existe mais.
No texto, ele havia dito que as estratégias de prevenção de organizações de combate à doença podem ter sido mal focadas. "Enquanto antes era considerado um risco para populações de todo o mundo, reconhece-se hoje que, fora da África subsaariana, o vírus ficou confinado a grupos de alto risco -homossexuais masculinos, usuários de drogas injetáveis, prostitutas e seus clientes.
"As declarações foram reproduzidas pela Folha e vários jornais no mundo. O "Independent" diz que a entrevista foi gravada e nega que haja erro. Em nota enviada anteontem à mídia internacional, Cock diz que a reportagem do "Independent" foi equivocada, mas não cita qual foi o erro.
A Folha apurou que as declarações de Cock foram duramente criticadas por representantes de governos e de entidades de defesa dos pacientes com HIV/Aids que participaram nesta semana de uma reunião da ONU para analisar os progressos no combate ao HIV.
Na nota, Cock afirma que a epidemia global de Aids não acabou. "No final de 2007, havia uma estimativa de que 33,2 milhões de pessoas estavam vivendo com HIV/Aids. Cerca de 2,5 milhões de pessoas vão se infectar neste ano e 2,1 milhões vão morrer de Aids. A Aids continua sendo a principal causa de morte na África", afirma.
Cock diz que no mundo o HIV é largamente difundido em relações heterossexuais. Ao "Independent" ele havia dito que, fora da África subsaariana, "é muito improvável que ocorra uma epidemia heterossexual em outros países.
"Agora, na nota, ele não fala em epidemia, mas diz que a transmissão heterossexual continua entre profissionais do sexo, seus clientes e parceiros deles. "Além disso, prisioneiros, usuários de drogas injetáveis, homens que fazem sexo com homens também podem estar envolvidos em relacionamentos heterossexuais.
"Ele diz que, respectivamente na África subsaariana e no Caribe, quase 60% e 48% dos adultos com HIV/Aids são mulheres. Cock encerra a nota dizendo que a Aids continua sendo a doença infecciosa que mais desafia a saúde global. "Sugerir o contrário é irresponsável e enganoso", disse.
Para o médico-infectologista Caio Rosenthal, a retratação da OMS foi fundamental. "Aquelas declarações representaram um retrocesso para todo trabalho que foi feito até hoje em termos de prevenção."
"Como, de repente, muda toda a epidemiologia da Aids? Agora sim, com a retratação, as coisas voltam para o seu devido lugar", diz o médico.Segundo ele, as declarações de Cock e suas repercussões "caíram como uma bomba" entre seus pacientes, especialmente mulheres heterossexuais que se infectaram com seus parceiros.
(CLÁUDIA COLLUCCI)

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