quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Sobe contaminação por HIV entre os mais escolarizados

Fonte: Folha de São Paulo

Sobe contaminação por HIV entre os mais escolarizados

Levantamento feito pela Secretaria de Estado da Saúde indica aumento de casos entre pessoas com mais de 8 anos de estudo


Número de ocorrências notificadas dobrou no período de 1997 e 2007 entre as mulheres com 8 a 11 anos de escolaridade

RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A contaminação por HIV está avançando entre as pessoas mais escolarizadas de São Paulo, segundo levantamento realizado pela Secretaria de Estado da Saúde com base nos casos notificados em 1997 e 2007.
No ano passado, 25,4% das mulheres que se contaminaram tinham entre 8 e 11 anos de estudo, mais do que o dobro do número verificado em 1997 (12,2%). Entre os homens com a mesma escolaridade, o salto foi de 15,3%, em 1997, para 26,8%, em 2007, do total de casos notificados.
Paralelamente, houve uma redução expressiva de casos entre os paulistas com um a três anos de estudo. Entre as mulheres, o total de casos nessa faixa caiu de 33,2% em 1997 para 7,5% no ano passado. Entre os homens com a mesma escolaridade, caiu de 28% para 5,3% no período.
Na opinião do infectologista Jean Gorinchteyn, do Ambulatório do Idoso do hospital estadual Emílio Ribas, o resultado é contraditório. "Sempre se imaginou que a falta de prevenção fosse fruto da ausência de informação, mas não é o que vemos agora", disse.
Ele afirma que "a euforia por termos uma política de saúde melhor nessa área em comparação com a de outros países em desenvolvimento" pode ser uma das responsáveis por fazer as pessoas acreditarem que não precisam se prevenir mais como nas décadas passadas. "De alguma forma, não enfatizamos que os medicamentos não significam a cura, mas sim um tratamento que deve ser seguido a vida toda."
O coordenador-adjunto do Programa Estadual de DST-Aids, Artur Kalichman, tem opinião diferente. Para ele, a explicação para o resultado pode estar em uma mudança no perfil geral das pessoas envolvidas na epidemia. "Até o início da década de 1990, havia uma prevalência entre usuários de drogas injetáveis, que em geral tinham baixa escolaridade. Com o tempo, aumentou proporcionalmente a quantidade de pessoas infectadas por via sexual", afirmou.
Ainda segundo o infectologista, outro fator que pode refletir nesses resultados é o aumento da escolaridade média da população no período avaliado. "O resultado não significa, necessariamente, que o pessoal mais escolarizado está se protegendo menos. Houve saída dos usuários de droga injetável do cenário, que puxavam a escolaridade para baixo, sem falar no aumento da escolaridade da população em geral."

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