quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Tratamento de Tabagismo: Necessidade e vontade

Fonte: Folha de São Paulo

SAÚDE


Necessidade e vontade

Professor da University College London defende a criação de uma necessidade que leve os fumantes a largar o cigarro

DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

Em visita ao Rio para o 11º Simpósio Internacional sobre Tratamento de Tabagismo, na semana passada, o professor de psicologia da saúde Robert West, da University College London, defendeu alterações na abordagem médica para o combate ao fumo.

FOLHA - O que é a teoria da motivação e como ela pode ser útil para os fumantes?
ROBERT WEST
- O ponto principal da teoria é que, para entender o que uma pessoa vai fazer, é preciso compreender o que ela mais quer e do que mais precisa naquele momento. Querer, na teoria, é sentir prazer antecipado ao imaginar algo, enquanto precisar é sentir alívio antecipado. Por um lado, as pessoas são motivadas por coisas que acham que vão dar satisfação, e, por outro, por coisas que acham que vão aliviar ou evitar dor e desconforto. São essas vontades e necessidades que comandam nosso comportamento. Crenças sobre o que é bom ou ruim, certo ou errado, útil ou inútil, não nos influenciam a não ser que nos façam querer ou precisar de algo.

FOLHA - E como conseguir isso?
WEST
- Temos que gerar imagens que levem as pessoas a querer ou precisar parar de fumar. Os médicos, por exemplo, deveriam adotar uma abordagem diferente da tradicional. Normalmente, o que se faz hoje é perguntar se o paciente fuma, se está interessado em parar e, em caso positivo, oferecer ajuda. O correto é não perguntar se ele quer parar, mas sim manifestar preocupação com sua saúde e depois mostrar que nunca houve tantos recursos disponíveis para quem quer parar de fumar. Assim, o médico cria uma ansiedade para que o paciente sinta necessidade de parar e depois oferece a possibilidade de alívio a esse desconforto. Mas é preciso fazer com que o paciente tome alguma atitude naquele momento, porque em muitos casos a ansiedade passa depois que ele deixa o consultório. O médico pode receitar um remédio e marcar uma nova consulta para dali a 15 dias ou encaminhar o paciente para outro especialista que possa ajudá-lo a parar. É preciso guiá-lo para a ação.

FOLHA - E como evitar que a pessoa tenha uma recaída?
WEST
- É preciso que a vontade ou a necessidade de fumar seja menor do que a vontade ou a necessidade de não fumar. Uma das formas de fazer isso é com adesivos ou pastilhas de nicotina. Mas não é suficiente. O fumante precisa estabelecer alguma coisa importante na sua vida que gere vontades ou necessidades poderosas de não fumar. Eu acho que precisa ser uma regra, como a que os vegetarianos se impõem quando decidem não comer carne. Se toda vez que eles vissem carne tivessem que decidir se deveriam ou não comê-la, provavelmente acabariam comendo às vezes. Mas eles têm uma regra e nem precisam pensar sobre isso.

FOLHA - Proibições de fumar em locais fechados podem ajudar?
WEST
- Elas podem ser muito efetivas. Adotamos essa proibição na Inglaterra em julho de 2007 e, nos nove meses seguintes, assistimos a uma queda de cinco ponto percentuais na prevalência do tabagismo.

FOLHA - O que mais os governos podem fazer?
WEST
- Elevar os preços dos cigarros. Mas é importante investir parte do ganho de receita no combate ao contrabando e em programas de prevenção ao tabagismo. E impedir a publicidade dos produtos de tabaco.

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