segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Estudos divergem sobre câncer de mama

Fonte: Folha de S. Paulo 15/12

Pesquisa sugere que tumor pode regredir sem intervenção médica; outro trabalho constata importância de radioterapia
Discussão sobre excesso de exames e de intervenções é importante, mas tem pouco impacto no tratamento de paciente, dizem os médicos


Pesquisas recentes, publicadas em periódicos internacionais, trazem informações conflitantes sobre como tratar o câncer de mama. Enquanto um estudo, divulgado no "Archives of Internal Medicine", sugere que alguns tumores poderiam regredir espontaneamente, outro, publicado no periódico "Cancer", indica que a demora para começar a radioterapia depois de cirurgia conservadora (na qual a mama é preservada) pode facilitar o surgimento de um novo tumor.
Compararam-se taxas de câncer de mama de 119.472 mulheres de 50 a 64 anos, que realizaram mamografias como parte do rastreamento nacional da Noruega de 1996 e 2001, com dados de 1992 -quando não havia rastreamento- de outras 109.784 mulheres da mesma faixa etária. Observou-se incidência de câncer 22% mais alta no primeiro grupo, o que pode ter ocorrido, segundo os autores, porque alguns cânceres regrediram sem intervenção. Para eles, o curso natural de alguns cânceres pode ser regredir espontaneamente.
"Existem relatos esporádicos de regressão espontânea, mas como identificar qual câncer regrediria sozinho?", indaga a oncologista Maria del Pilar Estevez Diz, do Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira. Ela diz que a mortalidade por câncer de mama tem caído principalmente por causa do diagnóstico precoce.
Os mastologistas Antonio Frasson, do Hospital Israelita Albert Einstein, e José Luiz Bevilacqua, do Hospital Sírio-Libanês, avaliam que a discussão sobre excesso de diagnósticos e de intervenções que, em tese, seriam desnecessárias é muito atual e importante do ponto de vista populacional, mas tem pouco impacto no tratamento clínico de um paciente.
"No momento em que você detecta uma alteração, você acaba tratando, não espera para ver o que vai acontecer", afirma Bevilacqua. Ele diz que hoje é possível conhecer o grau de agressividade do tumor -e com isso decidir o tratamento mais adequado-, mas a evolução do paciente ainda é um terreno desconhecido.
Antonio Frasson explica que há pesquisas mostrando que em grupos de pacientes que não quiseram tratar tumores de mama in situ (localizado), 40% desenvolveram carcinoma invasor em um período de até 30 anos. Ele acrescenta que, no caso do carcinoma lobular in situ (lesão que se origina nas glândulas lactíferas e que é considerada um marcador de risco), em geral, não há recomendação de cirurgia porque a probabilidade de se tornar invasor é de 1% ao ano. "Nesses casos, fazemos o controle clínico e a mamografia a cada seis meses."

Radioterapia
Já a pesquisa que defende a realização de radioterapia logo após a cirurgia conservadora se baseou em 8.000 registros de câncer de mama em mulheres com mais de 65 anos. Dessas, 1.300 começaram o tratamento com atraso e 270 tiveram tratamento incompleto. Pacientes no estágio 1 da doença que atrasaram em oito semanas o início da radioterapia tiveram 1,4 vez mais chance de recorrência.
Aqueles que adiaram a terapia em mais de 12 semanas tiveram quatro vezes mais chances de sofrer de um novo tumor de mama. Quem não realizou todas as sessões do tratamento teve 32% mais risco de morte.
"Sabemos pela literatura médica que, se a paciente não se submete à radioterapia após a cirurgia, o retorno do câncer é de mais de 50%", explica a mastologista Fabiana Makdissi, do Hospital A. C. Camargo.
Antonio Frasson lembra que a radioterapia não previne o surgimento de novos tumores, mas trata tumores microscópicos que não são detectados.
"Quando eu retardo muito a radioterapia, dou tempo para que lesões microscópicas cresçam."
O ideal, diz Makdissi, é começar a terapia de 20 a 30 dias após a cirurgia. Com ressalvas: pacientem que também precisam de quimioterapia devem terminá-la antes de iniciar outro tratamento.
A radioterapia segue um padrão para a maioria dos casos, sendo realizada durante cerca de 30 sessões, distribuídas entre quatro e seis semanas.

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