segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Na hora de estresse, mantenha a mente aberta

Fonte: The New York Times e Folha de São Paulo

ENSAIO


Na hora de estresse, mantenha a mente aberta

GREGORY BERNS

Minha sensação é que o trabalho está ficando cada vez mais semelhante a uma caixa de Skinner.
Uma caixa de Skinner é uma câmara condicionadora operante - em outras palavras, uma gaiola que treina um animal de laboratório a fazer associações automáticas entre alavancas e luzes piscantes, de um lado, e recompensas e castigos, do outro. Ela foi inventada na década de 1950 por B.F. Skinner, um psicólogo experimental, para estudar o aprendizado.
A luz verde pisca, ou o animal empurra a alavanca certa, e então ele é recompensado com um pedaço de alimento. Mas algumas câmaras condicionadoras operantes são feitas com pisos eletrificados.
Uma luz vermelha se acende, e zap! O camundongo não demora muito a perceber que luz se acende com o choque elétrico e qual delas é associada ao alimento.
Todos os animais são bons em fazer essas associações - até mesmo nós, primatas.
Não demora muito para nem sequer precisarmos da luz: a simples visão de caixa é capaz de levar alguns de nós a um estado de apoplexia.
O local de trabalho não chega a ser uma caixa eletrificada, mas acho que preferiria um choque elétrico de curta duração aos choques intermitentes das quedas diárias nas bolsas ou das sucessivas ondas de demissões nas empresas.
Todo o mundo está com medo. O medo dos trabalhadores se generalizou para seus locais de trabalho e para tudo o que está relacionado ao dinheiro. Estamos presos numa espiral em que temos tanto pavor de perder nossos empregos e nossas economias, e esse medo toma conta de nossos cérebros. Embora seja um instinto adaptativo e profundamente arraigado de autopreservação, o medo também impede que nos concentremos em qualquer coisa senão salvar nossas peles, em sair da caixa intactos.
Nada de bom pode sair desse tipo de processo decisório. Justamente quando mais precisamos de novas idéias, todo o mundo está paralisado de medo, tentando manter o que ainda resta.
Sou neuroeconomista, o que significa que uso tecnologia de escaneamento cerebral para decodificar o processo decisório humano. Meus colegas e eu fizemos um experimento com nossa versão própria de uma caixa de Skinner.
Em vez de estarem numa caixa, os participantes ficaram num aparelho de ressonância magnética. Em vez de piso eletrificado, prendemos eletrodos a seus pés. Embora não fossem demasiado dolorosos, a intenção era que os choques fossem suficientemente desagradáveis para que a pessoa preferisse evitá-los por completo.
O ponto central do experimento era que os sujeitos tinham que esperar pelos choques. E, para muitas pessoas, a espera era a pior parte. Quase um terço tinha tanto meda da espera que preferia receber um choque maior imediatamente a aguardar um choque menor mais tarde. Soa ilógico, mas o medo - seja da dor ou de perder o emprego - exerce efeitos estranhos sobre o processo decisório.
Algumas pessoas demonstraram forte condicionamento pelo medo, evidenciado pelo uso de recursos neurais para enfrentar o choque iminente. A maior parte dessa atividade ocorria nas partes do cérebro que processam a dor.
Essa preocupação toda gastou energia, de modo que essas pessoas que apresentaram reações extremas tinham menos poder de processamento neural disponível para outras tarefas.
A neurociência nos diz que, quando o sistema de medo do cérebro está ativo, a atividade exploratória e a atividade de tomada de riscos estão desligadas. Assim, a primeira coisa que é preciso fazer é neutralizar esse sistema.
Isso significa não disseminar o medo entre as outras pessoas. Significa evitar pessoas que são excessivamente pessimistas em relação à economia. Significa desligar a mídia que alimenta chamas emocionais. Significa estar preparado, mas não hipervigilante.
O que eu estou fazendo agora é procurar novas oportunidades. Isso quer dizer aplicar a neurociência a áreas em que ela ainda não foi usada. Estou colaborando com antropólogos para usar imageamento cerebral para compreender as raízes biológicas dos conflitos políticos. Estou iniciando outro projeto para usar o imageamento cerebral para prever quais adolescentes têm a probabilidade de fazer julgamentos fatalmente ruins e, esperamos, treiná-los a tomar decisões melhores.
Essa estratégia conserva ativo o sistema exploratório de meu cérebro. Sim, esses novos projetos encerram riscos e alguns deles vão fracassar. Mas, enquanto outros esperam a tempestade passar, eu estou ocupado, estendendome para novas áreas. Se eu esperar o dinheiro começar a chegar outra vez, as oportunidades terão passado.


O médico Gregory Berns dirige o Centro de Neuropolítica da Universidade Emory em Atlanta, Geórgia

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